Perícia reconstitui morte de jovem negro após abordagem da PM no RS
Gabriel Marques, de 18 anos, foi assassinado com agressão na coluna cervical
Luciane Kohlmann
No Rio Grande do Sul, a reconstituição da morte do jovem negro Gabriel Marques, após uma abordagem policial, durou quase 14 horas. Os trabalhos começaram já na tarde de 2ª feira (21.nov). Os três policiais militares, réus pela morte do garoto de 18 anos, além de cinco testemunhas, foram ouvidos na delegacia.
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Cleber de Lima, Raul Pedroso e Arleu Jacobsen foram denunciados por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica, e seguem presos preventivamente.
Na noite de 12 de agosto, os PMs abordaram o jovem negro e o colocaram dentro da viatura. Uma semana depois, o corpo do garoto foi encontrado em um açude. Segundo o laudo da necropsia, uma agressão na coluna cervical provocou hemorragia interna.
Após os depoimentos, foi feita a reconstituição do crime no local da abordagem. Moradores que estavam no local pediam justiça.
"Nós ainda enfrentamos esse problema do racismo estrutural. Um jovem negro, da periferia, pobre, ele é alvo", afirma Augusto Solano Lopes Costa, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RS.
Na reconstituição, testemunhas afirmam que o jovem foi agredido com um cassetete na nuca e descreveram os últimos momentos de vida de Gabriel. Depois foi a vez dos PMs, que vestiam coletes balísticos.
Por volta de 03h, a equipe da perícia chegou a localidade de Lava Pé, no interior de São Gabriel. Os três policiais apresentaram a mesma versão, disseram que deram uma carona a Gabriel e que deixaram o garoto na estrada de terra.
O GPS mostrou que a viatura fez uma parada de 1 minuto e 50 segundos na região. O corpo foi localizado a poucos metros dali.
"As versões apresentadas pelos investigados foram bastante semelhantes e, das testemunhas, temos versões distintas. Agora a gente passa pra etapa da análise propriamente, análise técnica desse material fazendo essas comparações", afirmou a perita criminal Bárbara Cavedon.
A família não se conforma com a versão dos policiais. "Ele foi brutalmente matado a paulada e eles continuam dizendo que não fizeram nada? Meu filho não está mais aqui pra dizer a verdade, e agora quem vai dizer a verdade?", questionou a mãe da vítima, Rosane Marques.
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