"Eu errei": operador de show na Kiss chora por ter desligado microfones
Ex-chefe dos bombeiros também chorou e se defendeu por ter sido acusado por falha na fiscalização da boate
O sétimo dia do júri da Kiss, nesta 3ª feira (7.dez), começou com o reconhecimento de um erro.
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O ex-operador de som da Banda Gurizada Fandangueira chorou ao rememorar o início do incêndio. Venâncio da Silva Anschau, de 40 anos, falou como testemunha da defesa do ex-vocalista e réu Marcelo de Jesus do Santos. Ele confirmou que o grupo já havia se apresentado na Kiss usando artefatos pirotécnicos. E assumiu que desligou os microfones, impossibilitando que o público fosse amplamente avisado sobre o fogo.
Quando o juiz Orlando Faccini Neto perguntou se houve anúncio de incêndio, a testemunha respondeu e chorou: "Não, porque quando o outro rapaz sobe no palco, eu não tenho a dimensão (do fogo). Não imagino o que esteja acontecendo e eu desabilito o áudio dos microfones. Eu desabilitei. Errei, errei, mas desabilitei o áudio".
Pai de Rafael Carvalho, uma das vítimas fatais da Kiss, Paulo Carvalho, que integra a associação dos familiares, veio de Santo André (SP) para acompanhar o júri. Ele disse que tem convicção da condenação dos réus, acusados pelas 242 mortes e pelos mais de 600 feridos. Segundo ele, ocorreriam menos mortes se os responsáveis tivessem anunciado o incêndio no início. "Podiam ter avisado, tinham um microfone na mão...", disse.
Em seguida, uma arquiteta chamada em 2012 para instalar papel de parede durante obra da Kiss disse que fez um alerta ao dono da boate e réu Elissandro Spohr. Nivia Braido identificou que não havia responsável técnico na obra e avisou sobre o risco, caso houvesse alguma fiscalização.
O ex-chefe dos bombeiros de Santa Maria Gerson da Rosa Pereira chorou várias vezes. Ele disse que as filhas iriam à boate na noite do incêndio. E se negou a detalhar ao juiz as cenas de quando entrou na Kiss, logo após o incêndio. "É uma imagem muito forte. Até como profissional de segurança, muito forte", afirmou, e chorou mais uma vez. Gerson disse que as vítimas não morreram carbonizadas, mas asfixiadas pela fumaça de cianeto liberada pela espuma e lembrou que foi o produto usado nas câmaras de gás nazistas.
O bombeiro foi acusado de fraude processual nos documentos da Kiss, supostamente feita após a tragédia, e chegou a ser denunciado pelo Ministério Público e condenado, mas o processo foi extinto pela demora na tramitação. Durante o depoimento, ele se defendeu por ter sido apontado, nesses quase 9 anos desde o incêndio, por falha na fiscalização da boate e foi advertido pelo juiz: "Coloque-se no seu lugar. O senhor está na condição de testemunha e isso não é palanque".
O juiz anunciou que ouvirá quatro pessoas na 4ª feira (8.dez) e deve terminar a fase de depoimentos das testemunhas. Cezar Schirmer, que era prefeito de Santa Maria, e o promotor de justiça Ricardo Lozza, que conduziu o termo de ajustamento de conduta que permitiu o funcionamento da boate, apesar dos problemas do prédio, estão entre os depoentes.