Bate-boca e informações sobre extintores da Kiss marcam 3º dia de júri
Ao todo, dez pessoas, entre vítimas e testemunhas, já prestaram depoimento
No terceiro dia de julgamento do caso Kiss, o advogado do réu Luciano Bonilha foi ameaçado ser retirado da sala de júri pelo juiz Orlando Faccini Neto. Jean Severo foi ríspido com a primeira testemunha do dia, Daniel Rodrigues da Silva, funcionário da loja que vendeu o artefato que deu início ao incêndio em 27 de janeiro de 2013. Daniel confirmou que, para economizar, Bonilha comprou produtos para ambientes externos para serem usados na apresentação da banda Gurizada Fandangueira, dentro da boate Kiss.
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No meio da confusão, o advogado disse que a testemunha e os promotores do caso deveriam estar no banco dos réus. O presidente da associação de familiares de vítimas, Flavio Silva, deixou a plateia para gritar com Jean Severo.
"A próxima que o senhor me fizer, o senhor não vai ficar mais aqui", disse o juiz ao advogado, sob aplausos. A sessão foi suspensa por dez minutos.
Do lado de fora, mais desavença. A promotora Lúcia Helena Callegari criticava Jean Severo aos jornalistas quando foi interrompida por Tatiana Borsa, advogada do ex-vocalista da banda, Marcelo Jesus dos Santos. A defensora reclamou da interferência dos familiares. "Nós pedimos que as famílias, se elas querem tanto justiça, então que elas se acalmem na plateia", disse e chorou.
Uma outra confusão partiu de uma mensagem no Twitter. A filha da testemunha de acusação que falaria na sequência pediu que o pai, Gianderson Machado da Silva, falasse "tudo" para que os donos da boate apodrecessem na cadeia. A defesa do réu Mauro Hoffmann, sócio da boate, reclamou da publicação. O juiz atendeu a reivindicação e passou a considerar Gianderson apenas informante. O relato valerá menos que as declarações das outras testemunhas. Gianderson era responsável por fazer a recarga dos extintores da boate. Ele disse se lembrar de uma vez em que foi à casa noturna e encontrou um aparelho fora do lugar, perto de uma cortina.
O ex-barman da Kiss, hoje policial militar, Érico Paulus Garcia, trabalhou na boate de fevereiro de 2010 até a noite do incêndio. Ele falou como vítima e disse que tirou seis ou sete extintores para trocar e não viu mais os equipamentos no lugar. Ele também explicou que ajudou a colar, com cola de sapateiro, a espuma imprópria no teto da boate, que intensificou o fogo.
Érico esclareceu que inicialmente os seguranças da boate fecharam a porta e não deixaram as pessoas saírem; só liberaram quando se deram conta da gravidade do incêndio. O sobrevivente disse também que integrantes da banda viram que o extintor não funcionou e começaram a recolher os instrumentos para sair do prédio, sem avisar o público.
O PM explicou que ajudou a retirar os corpos. Os promotores mostraram imagens fortes de corpos empilhados, e uma das mães deixou a sessão, aos prantos. Ela recebeu atendimento médico.
Para diminuir o longo julgamento, o Ministério Público sugeriu que cada parte desistisse de uma testemunha. Todos concordaram. Com isso, caiu de 33 para 29 o número de pessoas a serem ouvidas. O julgamento segue no sábado e no domingo.