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ENGANOSO: Post sobre 'fuga de venezuelanos' ao Brasil mostra vídeo de pessoas migrando para o Panamá

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

ENGANOSO: Post sobre 'fuga de venezuelanos' ao Brasil mostra vídeo de pessoas migrando para o Panamá
Projeto Comprova/Divulgação
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ENGANOSO: Publicação engana ao dizer que um vídeo mostra venezuelanos se deslocando para o Brasil e a Colômbia. O conteúdo original usado no post é de autoria de uma jornalista e faz parte de uma reportagem do jornal The New York Times. A filmagem foi feita na região de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, onde mais de 360 mil pessoas de diversas nacionalidades já passaram este ano rumo à América Central e do Norte. A Venezuela responde por cerca de metade do fluxo migratório, segundo estimativas do governo panamenho.

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Conteúdo investigadoPost do deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) contendo vídeo de pessoas atravessando um rio e a frase "Fuga da Venezuela! Milhares de venezuelanos seguem deixando seu lar em busca de uma vida decente no Brasil e na Colômbia".

Onde foi publicado: Instagram.

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Conteúdo investigadoPost do deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) contendo vídeo de pessoas atravessando um rio e a frase "Fuga da Venezuela! Milhares de venezuelanos seguem deixando seu lar em busca de uma vida decente no Brasil e na Colômbia".

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: Vídeo publicado pelo deputado federal Kim Kataguiri sobre a suposta "fuga" de milhares de pessoas da Venezuela mostra, na verdade, um fluxo migratório na região de Darién, na fronteira da Colômbia com o Panamá, em agosto deste ano. O material faz parte de uma reportagem especial do jornal The New York Times a respeito do trajeto de estrangeiros que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

O deputado erra ao afirmar que o conteúdo retrataria "venezuelanos deixando seu lar em busca de uma vida minimamente decente no Brasil e na Colômbia". O percurso era feito na direção do Panamá, ou seja, o destino final não era nem a Colômbia, nem o Brasil. Além disso, a Venezuela responde por mais da metade do fluxo migratório na região de Darién, mas há pessoas de outras nacionalidades, o que foi confirmado pela reportagem do Times.

Procurado, Kim Kataguiri afirmou que, ainda que o post contenha imprecisão em relação ao país onde as pessoas estavam e para onde iam, o "cerne da questão" permanece o mesmo. "O vídeo de fato mostra milhares de venezuelanos fugindo do desastre humanitário que acontece na Venezuela causado por um regime socialista e totalitário", justifica.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O post analisado obteve mais de 170 mil visualizações no Instagram até o dia 26 de setembro.

Como verificamos: O Comprova encontrou o conteúdo original por meio de uma pesquisa reversa de imagens no Google. A busca retornou textos em blogs estrangeiros alegando se tratar de imigrantes no "Darien Gap", na fronteira entre a Colômbia e o Panamá.

Um desses sites continha um post no X (antigo Twitter) da jornalista Julie Turkewitz, chefe da sucursal dos Andes do jornal americano The New York Times e que produz reportagens em países como Colômbia, Venezuela, Bolívia, Equador, Peru, Suriname e Guiana.

Vídeo original

A publicação de Julie Turkewitz traz o vídeo original e informa que, em 2022, mais de 250 mil pessoas atravessaram a selva de Darién em uma tentativa desesperada de chegar aos Estados Unidos. Neste ano, o número já alcançou 360 mil pessoas, ainda segundo o post da jornalista. A reportagem principal do The New York Times sobre o assunto pode ser acessada em português,  inglês e espanhol.

Em resposta ao Comprova por e-mail, ela confirmou a autoria do vídeo e disse que o material foi gravado em 2 de agosto de 2023, nas proximidades de Las Tecas, um campo de migrantes no norte da Colômbia. No último ano, ela e o fotógrafo Federico Rios estiveram documentando o fluxo migratório em direção aos Estados Unidos e a crescente indústria de trânsito na selva.

"O vídeo mostra migrantes da Venezuela, do Equador e de outros países iniciando a sua caminhada através da selva de Darién, em direção ao Panamá. Do Panamá, dirigiram-se para norte, através da América Central e do México, com o objetivo de chegar aos Estados Unidos", explica a jornalista.

Portanto, não é correto dizer que seriam venezuelanos se estabelecendo no Brasil ou na Colômbia. "O vídeo mostra pessoas tentando chegar aos Estados Unidos ? as pessoas no vídeo não estão migrando para a Colômbia ou para o Brasil", acrescenta.

Fluxo migratório

A região de Darién fica na fronteira da Colômbia com o Panamá. A localidade inclui dois parques nacionais: o de Darién, no Panamá, e o Los Katios, na Colômbia. É a única rota terrestre entre a América do Sul e a América Central e do Norte e costuma ser utilizada pelos migrantes e refugiados como trajeto para a entrada ilegal nos Estados Unidos (veja no Google Maps).

"Atravessar a selva de Darién ? na fronteira entre a Colômbia e o Panamá ? e o seu infame e chamado desfiladeiro de Darién, é uma tarefa árdua, que envolve caminhadas por montanhas íngremes, suportando chuvas torrenciais e atravessando rios rápidos. Aqueles em trânsito ainda correm o risco de assaltos e violência sexual", aponta a Organização Internacional para as Migrações (OIM), órgão vinculado às Nações Unidas.

Segundo dados do governo do Panamá, mais de 250 mil pessoas atravessaram o local a pé nos primeiros sete meses de 2023, igualando o número total do ano passado, até então o mais elevado. A estimativa do país é que 55% dos indivíduos tinham origem venezuelana, seguido de Haiti e Equador, ambos com 14%. Notícias apontam que, entre agosto e setembro, a quantidade de pessoas chegou a 360 mil.

A OIM e a Acnur, agência da ONU para refugiados, cobram uma abordagem "abrangente, regional e colaborativa" entre os países para lidar com os riscos desse movimento e as necessidades humanitárias urgentes na América Latina e no Caribe.

Venezuelanos no Brasil

Os comentários na publicação do deputado (1 e 2) evidenciam que parte das pessoas que acessaram o conteúdo entenderam que se trata da entrada de venezuelanos no Brasil.

Os venezuelanos são a nacionalidade que mais migra para o Brasil e a que mais pede refúgio no País. Entre janeiro de 2017 e junho de 2023, quase 1 milhão de venezuelanos entraram no Brasil, a maioria pela cidade fronteiriça de Pacaraima, em Roraima. Entretanto, no mesmo período, mais de 450 mil deixaram o território brasileiro.

Segundo reportagem da revista Veja, o Brasil se tornou o terceiro principal destino de migrantes e refugiados da Venezuela no ano passado, atrás apenas de Colômbia e Peru. Em abril deste ano, a Operação Acolhida, do governo federal, anunciou que o número de venezuelanos beneficiados com o programa de interiorização chegou a 100 mil, em 930 municípios.

O que diz o responsável pela publicação: O deputado Kim Kataguiri admitiu, em mensagens ao Comprova, que o post contém imprecisões, mas justificou a publicação dizendo que a crítica feita nela permanece válida. "O vídeo de fato mostra milhares de venezuelanos fugindo do desastre humanitário que acontece na Venezuela causado por um regime socialista e totalitário. É um povo que prefere colocar sua vida em risco em travessias perigosas e longas jornadas para outros países, deixando tudo o que tem para trás, a continuar sob o regime de Nicolás Maduro". Ele não corrigiu a informação até a publicação desta checagem.

O que podemos aprender com esta verificação: Nem sempre um vídeo realmente mostra aquilo que está sendo dito na internet, e se deve desconfiar principalmente quando o post não informa dados básicos como a autoria, a data e a localização. O material original pode ter sido gravado em um contexto diferente, pode não ser recente ou mesmo ter sido editado e manipulado. Para evitar compartilhar boatos, as pessoas podem fazer uma pesquisa reversa de imagens no Google, a partir de prints da tela, ou procurar notícias confiáveis sobre o assunto. Se o material já tiver sido verificado por jornalistas, a checagem provavelmente aparecerá entre os primeiros resultados.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Boatos sobre a Venezuela, que enfrenta uma crise humanitária e é governada por um presidente autoritário, Nicolás Maduro, aparecem com frequência no Brasil como forma de criticar políticos de esquerda, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O Comprova mostrou recentemente que uma postagem engana ao relacionar apagão a decreto de compra de energia da Venezuela, que um vídeo de um confronto envolvendo manifestantes e Exército venezuelano na fronteira com o Brasil é de 2019 e que é falso que o presidente americano, Joe Biden, tenha convocado o Congresso por falas de Lula sobre o país vizinho.

Investigação e verificação

Estadão e GZH participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos UOL, A Gazeta, Folha, O Povo, Plural Curitiba, Nexo, SBT e SBT News.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

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