Publicidade
Jornalismo

Cineasta brasileiro concorre ao Oscar com curta-metragem "Onde Eu Moro"

Pedro Kos pode ser o primeiro diretor brasileiro a receber a estatueta

Imagem da noticia Cineasta brasileiro concorre ao Oscar com curta-metragem "Onde Eu Moro"
O brasileiro Pedro Kos, diretor de Onde eu moro concorre ao Oscar de Melhor Documentário Curta-Metragem | Divulgação
• Atualizado em
Publicidade

Pedro Kos jura não estar nervoso: "Apenas um pouco ansioso, tentando manejar as expectativas. O coração está batendo forte, mas muito feliz e grato" disse o cineasta nessa conversa exclusiva ao SBT News. Pedro Kos abriu a porta da sua casa, em Hollywood, para nossa equipe, nesta que foi a primeira entrevista presencial dele na corrida para o Oscar. Por causa da pandemia, o diretor está tomando todos os cuidados e com a gente não foi diferente. Só após os resultados negativos dos testes de covid-19, tiramos as máscaras e sentamos para conversar.

Assista à entrevista:

O cineasta brasileiro dividiu a direção de "Onde eu Moro" com o americano Jon Shenk. O documentário mostra a realidade das pessoas que vivem em situação de rua na costa oeste dos Estados Unidos. A produção do filme é americana e o curta-metragem faz parte do catálogo dos originais da Netflix, mas o diretor nos revelou que, se ganhar a estatueta, vai dizer que, sim, o Oscar é brasileiro.

cartaz_filme_onde_eu_moro
Cartaz digital do filme "Onde eu moro" (2021), do diretor brasileiro Pedro Kos

"Eu não tenho nenhuma expectativa de ganhar o Oscar, a indicação já é uma grande vitória. Mas, se por acaso eu ganhar a cobiçada estatueta, ela vai ser 100% brasileira, porque eu sou só brasileiro e meu coração 1000% brasileiro", conta Kos que mora há mais de 20 anos nos Estados Unidos.

A produção
As filmagens iniciaram em 2017, quando Pedro começou a se questionar, junto com o co-diretor e a produtora, sobre a realidade que via pelas ruas da cidade e nos arredores de Hollywood.

"A ideia do 'Onde eu moro' veio quando eu estava conversando com meus grandes amigos, o co-diretor Jon Shenk e a produtora Bonni Cohen, sobre nossos vizinhos em situação de rua, que a gente vê todos os dias, vê o sofrimento nas nossas próprias calçadas, aqui nas nossas cidades e a gente os ignora, torna-os invisíveis. Queríamos quebrar a muralha da invisibilidade que nós mesmos construímos, mudar o diálogo, que hoje em dia está culpando muito as vítimas, além de escutar a história dessas pessoas", conta o diretor Pedro Kos.

Foram cerca de três anos de filmagens, percorrendo Los Angeles, San Francisco e Seattle, três das cidades norte-americanas com o maior número de sem-teto nos Estados Unidos. O filme foi lançado no fim de 2021.

"Esse projeto partiu muito do coração. Eu estava fazendo este documentário e outros trabalhos em paralelo, mas a gente gravava um pouco e depois de um tempo encontrava as pessoas novamente para acompanhar essa vulnerabilidade delas", diz Kos que ainda confessa que começou a fazer o filme sem muitas pretensões, achando que ninguém iria se interessar pelo assunto e jamais imaginaria que a produção poderia o levar ao Oscar.

A equipe teve o apoio de organizações não governamentais que dão assistência aos moradores de rua e que os apresentou aos 15 personagens retratados no curta. "O processo de fazer "Onde eu Moro" nos transformou. A gente passava o dia filmando com pessoas que ficaram muito próximas da gente e depois ia para as nossas casas, onde tenho a minha cama, meu banheiro. Aquele abismo social que nossas sociedades construíram ficou muito aparente. Isso mexeu muito com a gente", revela Kos.

cena_filme_onde_eu_moro
"Onde eu moro" (2021) mostra como vivem pessoas em situação de rua nos EUA
cena_filme2_onde_eu_moro
A vulnerabilidade social nos EUA é o tema central do filme "Onde eu moro" (2021)

Convidados especiais

Esta não é a primeira festa do Oscar que Pedro Kos vai participar, mas a terceira. Em 2011 teve a experiência de ver o filme que editou, "Lixo Extraordinário", ser indicado ao Oscar na categoria de Melhor Documentário. Já em 2014 foi a vez de ir à celebração assinando também a edição de "The Square", concorrendo na mesma categoria. Mas, agora é a primeira vez que vai como diretor e com seu próprio filme nomeado.

"Essa vez é extremamente especial, a minha mãe vai poder estar lá. Então esse é um momento muito importante, um divisor de águas na minha carreira e nessa minha jornada de contar histórias e conectar com o público", conta o diretor. Sem falar que Pedro vai poder levar convidados mais do que especiais, dois dos 15 personagens que compartilharam suas histórias no curta "Onde eu moro" estarão no tapete vermelho.

"A gente vai conseguir levar o Futuristic (Ronnie Willis) que dança nas calçadas da Hollywood Boulevard em frente ao teatro onde ocorre o Oscar, no Dolby Theater e também o Eric, que quando jovem foi morador de rua e hoje trabalha para a ONG LA Family Housing. Os dois vão poder acompanhar a gente no tapete vermelho. Eu queria poder levar muito mais pessoas, todas elas, mas não é possível. Eu quero do tapete vermelho ligar para todos eles por vídeo para mostrar onde eles levaram a gente", conta Kos.

furistic_special_guest
O artista de rua Futuristic (Ronnie Willians), um dos personagens do filme "Onde eu moro",
vai acompanhar o diretor Pedro Kos no tapete vermelho

Mudanças na festa

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou, em fevereiro, que não iria transmitir ao vivo oito das 23 categorias da premiação: Melhor Montagem, Trilha Sonora Original, Animação em Curta-Metragem, Curta em Live-Action, Som, Figurino, Maquiagem e Cabelo e Documentário Curta-Metragem, justamente a categoria na qual Pedro Kos concorre à estatueta.

De acordo com a Academia, a entrega das estatuetas aos vencedores dessas oito categorias será uma hora antes do início da transmissão, os ganhadores estarão na festa e aparecerão na cerimônia oficial em vídeos editados e exibidos ao longo da apresentação.

A decisão foi tomada para tentar diminuir a duração da cerimônia, que geralmente passa de três horas, e evitar a crise com a perda de audiência. O Oscar do ano passado teve a menor audiência nos Estados Unidos da história da premiação, com queda de 51% em comparação a 2020.

Mas essa tentativa de renovação provocou críticas de público e de grandes nomes da indústria. Cineastas como Steven Spielberg, Guillermo del Toro e James Cameron criticaram a decisão de corte. Uma carta aberta com assinaturas de mais de 70 artistas, incluindo vencedores do Oscar em diversas categorias, afirma que a exclusão rebaixa os ofícios. "Buscar novas audiências tornando a transmissão mais divertida é um objetivo louvável e importante, mas isso não pode ser alcançado rebaixando os próprios ofícios que, em suas expressões mais marcantes, tornam a arte do cinema digna de celebração", diz o texto.

"Quando a academia falou para gente desse corte, teve um sentimento de desapontamento, o que mostrou para gente que talvez não fossemos tão importantes. Nos sentimos um pouco menos apreciados? Mas eu tenho esperança de que a Academia consiga honrar todas essas categorias, que são importantíssimas, e que sejam celebradas igualmente como as outras que vão ser transmitidas ao vivo", finaliza Pedro Kos.

Leia mais:

Publicidade
Publicidade

Últimas Notícias

Publicidade