Um ano após início, vacinação comprova eficácia e, agora, chega às crianças
Com mais de 75% da população vacinada com uma dose, país tem sentido menos os efeitos da Ômicron
Foi em um domingo, dia de descanso, que o Brasil presenciou uma das cenas mais aguardadas em meio a um cenário devastador. Naquele 17 de janeiro de 2021, teve início a vacinação contra o coronavírus: uma agulhada de esperança após 200 mil vidas perdidas para a doença.
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Em rede nacional, minutos após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial da CoronaVac, Mônica Calazans -- negra, mulher e enfermeira -- recebeu a tão sonhada "picadinha" no braço com a substância desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo. O órgão de saúde ainda deu aval para o imunizante fabricado pela Universidade de Oxford, em parceria com a Fiocruz, ser aplicado na população.
Em discurso emocionado, Mônica pediu para a sociedade acreditar no poder da vacinação -- a única arma capaz de conter uma pandemia. "Vamos pensar no monte de vidas que nós perdemos, quantas famílias nós perdemos, quantos pais, mães, irmãos. Eu quase perdi um irmão com covid-19. E diante disso é que eu tomei coragem e participei da campanha da vacina", afirmou.
A profissional da saúde nasceu na zona leste da capital paulista e atuou na linha de frente contra a enfermidade no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Um ano após ter sido o "rosto" da campanha de vacinação, filiou-se ao MDB, sigla pela qual deve concorrer à Câmara dos Deputados.
No mesmo dia, Vanusa Kaimbé foi a primeira indígena do estado a receber a vacina contra o coronavírus. "Eu vim aqui hoje representar a população indígena e falar a importância da vacina. A vacina salva vidas", declarou.
Falta de ar
Um ano atrás, milhares morriam por dia, outros tantos dependiam das Unidade de Terapia Intensiva (UTIs) para sobreviver, e o Brasil dava os primeiros passos em uma campanha de imunização sem vacinas disponíveis para todos.
Além dos tristes índices de mortes e internações diários, o país presenciou um colapso na saúde. Manaus, no Amazonas, viveu momentos agoniantes, com superlotação dos hospitais, falta de oxigênio e insumos para tratamento da doença. Diante da calamidade, artistas e empresas fizeram uma corrente para ajudar a cidade.
Os meses de março a junho tornaram o país terra arrasada, com mais de 2 mil mortos. Por dia. Enquanto milhares de vidas eram perdidas, lidávamos com incertezas políticas. Eduardo Pazuello deixou o Ministério da Saúde em março, após dizer: "É simples assim: um manda e o outro obedece", sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL).
A condução do combate à pandemia pelo governo, meses depois, virou alvo de investigação no Senado. Em outubro passado, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia foi concluída com 80 pedidos de indiciamento. Bolsonaro e o general estão na lista por prevaricação, emprego irregular de verbas públicas, entre outros crimes.
Após a saída de Pazuello, o médico Marcelo Queiroga assumiu a pasta da Saúde, no auge da pandemia, e passou a ser investigado pelos senadores da CPI assim como o antecessor e o chefe do Executivo.
Novas variantes e explosão da covid-19
Apesar do avanço, ainda lento, da vacinação, presenciamos o surgimento de novas cepas. Se a variante Gama, detectada em Manaus, foi a responsável pela maioria das mortes no Brasil, a Delta, identificada na Índia, passou a ser a dominante em todo o mundo.
Com isso, governos estaduais adotaram medidas restritivas para tentar conter o avanço do vírus apesar das críticas de setores da sociedade e da política federal.
Reencontros, mas ainda de máscara
Diante do cenário devastador, cientistas corriam contra o relógio para desenvolver novas vacinas e remédios contra o coronavírus.
A cada nova aprovação pelos órgãos de saúde, aviões saíam pelo mundo para levar vacinas e salvar vidas. Cada pouso renovava a fé e a esperança em dias melhores -- e livres do temido vírus.
Gradualmente, a imunização avançou e o cenário até então de tristeza e dor foi ficando para trás. Os reencontros voltaram a ser realidade, sem o abandono de um dos itens fundamentais para conter o avanço da doença: a máscara.
O planeta, porém, não contava com uma nova cepa. A variante Ômicron, apesar de menos letal, se espalhou de forma espantosa -- até para os cientistas.
Recordes de casos foram batidos, com mais de 3 milhões infectados por dia no mundo, o triplo do pico registrado em 2021. Uma situação preocupante enquanto o sistema de registros do Ministério da Saúde sofreu um "apagão" de dados, escondendo a real dimensão da pandemia por aqui.
Apesar da nova explosão de contaminados, o número de internados e de óbitos não se equiparou àqueles registrados no início do ano passado, uma amostra da eficácia das vacinas. Prova disso é que a maioria de internações e mortes está relacionada a pessoas que não se imunizaram total ou parcialmente.
Futuro da campanha
Quase um ano após os adultos "mostrarem" o braço para a agulha, chegou a vez da garotada. A partir deste mês, crianças de 5 a 11 anos serão imunizadas em duas etapas em um intervalo de oito semanas, com um antiviral pediátrico desenvolvido pela farmacêutica Pfizer -- o único aprovado pela Anvisa -- mesmo laboratório responsável pela substância usada nas doses de reforço: a "terceira dose" se tornou necessária após meses de campanha, fortalecendo o sistema imunológico contra o vírus.
A expectativa é vacinar 20 milhões de crianças, mesmo em meio a declarações contrárias do Ministério da Saúde e da Presidência da República. Queiroga e Bolsonaro se mostraram opostos à imunização infantil. Desta faixa etária, meninos e meninas de 5 anos foram os que mais morreram vítimas do coronavírus.
Um ano após o início da vacinação, a covid-19 fez mais de 600 mil vítimas só no Brasil. Mais de 75% da população está vacinada com pelo menos uma dose, índice ligeiramente superior ao, por exemplo, dos Estados Unidos, mostrando o sucesso da campanha de imunização no país.