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Infectologista: "Qual é a pressa e a urgência em parar de usar máscara?"

Ao SBT News, secretário de saúde de SP e o governador falam da perspectiva em flexibilizar o uso; especialista critica

Infectologista: "Qual é a pressa e a urgência em parar de usar máscara?"
homem caminhando de máscara na Avenida Paulista
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Com a reabertura integral e liberação de eventos no estado de São Paulo desde o início de novembro, sem a necessidade de distanciamento e restrições de horários, o governo paulista passou a adotar novas medidas no combate ao novo coronavírus, conforme o avanço da vacinação e redução de mortes e casos, prevendo a interrupção do uso obrigatório de máscara, de forma escalonada, a partir de 1º de dezembro. 

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A expectativa é que no começo do próximo mês o uso do equipamento de proteção individual (EPI) contra a covid-19 seja abolido em lugares abertos sem aglomeração. No entanto, a medida -- ou, pelo menos, o anúncio da novidade -- pode confundir ou incentivar a população a largar o acessório antes do tempo. 

Segundo o Coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Marcelo Otsuka, a flexibilização do uso de máscaras é a última medida a ser tomada, havendo ainda algumas etapas a serem superadas. "Qual é a pressa e a urgência em parar de usar a máscara?", questiona. 

Anúncio do Governo de São Paulo 

Na última live realizada pelo Governo de São Paulo (3.nov), o governador do estado, João Doria, o coordenador executivo do comitê científico, João Gabbardo, e o secretário de saúde do estado, Jeancarlo Gorinchteyn, afirmaram que São Paulo passa por um momento de transição, em que já não há mais a necessidade de distanciamento e que estádios de futebol, comércios e eventos podem funcionar com capacidade máxima, mas ainda é necessário o uso de máscaras. 

Na coletiva, foi afirmado que, para ser viabilizada a flexibilização do uso do EPI, há a análise de quatro indicadores -- taxas de vacinação, transmissão, ocupação de leitos e óbitos --, que, caso diminuam de forma conjunta, colaboram para que haja um maior relaxamento nas restrições. Em relação a prazos, João Gabbardo afirma que a perspectiva é de que a retirada das máscaras em ambientes abertos e sem aglomeração comece a partir do dia 1 de dezembro.

João Doria, Regiane de Paula e Jeancarlo Gorinchteyn  | Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Ao SBT News, João Doria ainda afirmou "Quando atingirmos ao final deste mês de novembro 75% de toda a população imunizada, nós vamos liberar o uso de máscaras ao ar livre e isso está previsto para acontecer no final deste mês de novembro. Ou seja, a partir de 1º de dezembro, muito provavelmente, teremos ainda a oportunidade de confirmar oficialmente, mas muito provavelmente não será mais necessário a utilização de máscaras ao ar livre". 

Flexibilização das máscaras 

Também em entrevista ao SBT News, o secretário de saúde de São Paulo, Jeancarlo Gorinchteyn, reforça que a flexibilização da máscara no estado ocorrerá de forma escalonada: "Primeiro em ambientes externos sem aglomeração, depois em ambientes com aglomeração. Aí passaremos pro ambiente interno". Os transportes públicos, reforça, serão os últimos lugares liberados do uso do EPI. 

Contudo, Marcelo Otsuka discorda da perspectiva, pois, ainda que o estado tenha 89% da população maior de 18 anos com as duas doses da vacina contra o coronavírus -- e mais de 95% na capital com o esquema vacinal completo --, o alerta fica para os mais jovens. "Nós temos uma população de crianças que nem podemos vacinar ainda e elas estão sujeitas a terem infecções", afirma o coordenador do SBI. Mesmo que a maior parcela dos menores não desenvolva a doença de forma grave, o momento é de cautela. 

Diante de uma situação menos aflitiva, a reabertura nos municípios paulistas não chega a ser algo temeroso "pela atual conjuntura", diz o infectologista que, contudo, alerta: "Não há a necessidade de deixar de usar máscara. Isso tem que ficar muito claro porque nós não estamos livres do vírus". 

Alertas sobre vírus 

"Reduzimos a gravidade [da doença, com as vacinas], mas [o vírus] ainda circula em grande quantidade", explica o coordenador da SBI. 

Como o vírus ainda está à solta, a necessidade de uma terceira dose ou dose de reforço se mostrou necessária, sobretudo após estudos indicarem que há a queda da resposta imune da vacina ao longo do tempo. Nos idosos, a situação se agrava. "Enquanto não tivermos essas pessoas que deveriam tomar a terceira dose, significa que nós podemos correr o risco de essa população voltar a ficar doente", diz Otsuka. 

Outro alerta ainda traz ecos de 2020. Naquele mesmo período, sem a vacinação, o país observou uma queda no número de mortes e casos, com números ligeiramente superiores. Os cuidados e riscos, mesmo com a população vacinada, permanecem os mesmos pela singularidade do coronavírus que, mesmo em estações mais quentes, é perigoso.  

A diferença de 12 meses atrás para agora é que havia uma população muito mais suscetível à doença e as medidas de contenção foram deixadas de lado. Com as festas de fim de ano e férias, o drama de centenas de milhares de famílias atingiu o ápice em março e abril de 2021. Gorinchteyn ainda relembra que, naquela época, "nós não tínhamos vacina", visto que a primeira aplicação do imunizante no país ocorreu em 17 de janeiro. 

Mesmo com cobertura vacinal avançada, o país não está livre de ver um novo aumento de casos. A subnotificação, que já é grande, poderá ser ainda maior, já que as pessoas sentirão sintomas leves sem ter o diagnóstico de coronavírus. 

Obrigatoriedade de uso da máscara 

Sobre as perspectivas, Otsuka afirma: "O planejamento é bom e é ruim. Ruim no sentido de que você de repente pode estimular a população a deixar de tomar os cuidados necessários, sendo que nós temos que insistir nesse momento em tomar os cuidados necessários pra realmente reduzir o máximo possível a incidência do vírus". 

Apesar do anúncio das possíveis flexibilizações no estado, Gorinchteyn reforça se tratar de uma perspectiva e não uma determinação, e que, até o momento, o uso de máscaras em São Paulo permanece obrigatório em todos os ambientes. "Ainda existe uma lei passível de multa para aqueles que fizerem alguma desobediência a essa norma", completa o secretário. 

O coordenador do SBI é enfático na defesa do uso do acessório, ele considera que a proteção é uma "última força de vontade, um último empenho" para que todos voltem a uma "vida normal".  

"A gente está conseguindo uma coisa maravilhosa. Mas não precisamos correr", finaliza o infectologista. 

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