Dilma volta a Brasília com aplausos, mas sem cargo
Aliados tentam vaga para a ex-presidente da República em um organismo internacional
SBT News
A posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) trouxe de volta ao centro do poder em Brasília, na primeira semana de janeiro, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Cassada em 2016, a petista retornou à Câmara dos Deputados pela primeira vez desde o impeachment, foi citada em discursos e aplaudida pelos correligionários. No entanto, apesar do esforço do partido para reabilitar a biografia de Dilma, as forças políticas do novo governo não a querem com cargo na Esplanada.
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Os dilmistas buscaram abrir espaço para a ex-presidente assumir uma embaixada, mas não houve avanço nas conversas. Ela precisaria se submeter ao crivo do Senado e correria riscos diante de um Congresso no qual Lula não tem maioria.
Não se pode dizer, porém, que Dilma ficou sem nenhuma representatividade. Nomes muito próximos a ela estão na composição do governo, como o do advogado-geral da União, Jorge Messias, o da ministra da Gestão, Esther Dweck, e o do novo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que integraram sua gestão.
Missão
Especialistas acreditam que ela ainda pode ser designada para alguma missão no exterior. "É um momento importante para ela, porque são pessoas que trabalharam naquela resistência em relação ao processo de impeachment. Ela não tem cargo por enquanto, mas pessoas que trabalharam de forma muito próxima a ela estão assumindo posições de destaque neste governo", observou o cientista político Lúcio Rennó.
Para o economista Cesar Bergo, uma possível nomeação para Dilma assumir cargo em uma entidade internacional, como a Organização das Nações Unidas (ONU) "faz parte de uma programação planejada de resgate da imagem da presidente" e pode aproveitar o apoio que Lula tem recebido no exterior.
"Há uma comemoração pela nomeação da Marina Silva. Eu acho que a Dilma acaba entrando nesse bojo, aproveitando essa onda do Lula, que deve dar uma proteção a ela, mas seria em um organismo com poucas questões deliberativas, uma posição mais representativa", avalia. Já internamente, ele considera que a ex-presidente causaria dano à imagem do governo e apreensão nos setores econômicos.
Assista à integra da entrevista com Cesar Bergo:
Homenagens a Dilma
A primeira menção à ex-presidente foi feita por Lula antes do discurso de posse na Câmara. O petista saudou o ex-presidente José Sarney e, em seguida, cumprimentou a correligionária. "Minha querida companheira Dilma Rousseff, presidente da república", disse Lula, seguido de fortes aplausos dos presentes.
A declaração do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), em sua posse, resumiu o compromisso do partido. "A sua presença aqui, presidente, neste ato, e como a senhora foi recebida, é uma reparação histórica das injustiças que a senhora sofreu". Na sequência da fala de Padilha, o público no Planalto entoou: "Dilma, guerreira, da pátria brasileira"
Legado ignorado
Os discursos e saudações a Dilma Rousseff não fizeram menção ao legado do governo dela na área econômica. A baixa popularidade e rejeição que enfrentou quando estava na Presidência da República também são assuntos que os petistas preferem passar uma borracha. "Lula fala muitas vezes se referindo aos oito anos dele e parece que não aconteceram os seis anos da Dilma. Eles simplesmente não mencionam", diz Bergo.
O cientista político Lúcio Rennó também ressalta que o Partido dos Trabalhadores não reconheceu os problemas da gestão de Dilma. "O próprio termo 'golpe' é uma narrativa construída pelo PT para proteger, obviamente, a presidente", destaca.
Rennó, entretanto, afirma que não dá para avaliar se o esforço da legenda terá impacto na recuperação da imagem de Dilma para a população em geral. "Os opositores que participaram ativamente do processo de impeachment vão seguir críticos daquela gestão, não vai alterar em nada a reputação dela. Os apoiadores continuarão defendendo, é o que na Ciência Política a gente chama de reforço das condições políticas postas", concluiu.
Assista à integra da entrevista com Lúcio Rennó: