"Nunca vi o presidente ao vivo", diz coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima
Oswaldo Lucon, que acompanha a COP26, foi nomeado por Bolsonaro para o cargo em 2019

Vinicius Doria
Depois que a notícia do pedido de exoneração de Oswaldo dos Santos Lucon do cargo de coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima começou a circular em sites de notícias, o próprio ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, telefonou para ele, que está em Glasgow, na Escócia, participando da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas. "A ligação não durou nem um minuto", disse Lucon ao SBT News. Ele está no cargo desde maio de 2019, nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro, com quem jamais teve um encontro sequer. "Nunca vi o presidente ao vivo."
Sobre os motivos que o levaram a deixar a coordenação do colegiado, que reúne representantes do governo e da sociedade, Lacon ressalvou que não iria fazer comentários ou avaliações políticas. "Achei que hoje era o dia certo para fazer isso [pedir demissão]", respondeu. Mas admitiu que, nestes dois anos e meio no cargo, ficou frustrado por não conseguir encaminhar questões que considerava relevantes. "Eu tinha expectativas que não se confirmaram, mas acho que não fui merecedor de minhas próprias expectativas", lamentou.
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Para ele, o pedido de demissão significa não só deixar o cargo, mas, "na prática", sair do fórum, "a não ser que o novo coordenador faça um pedido para eu continue colaborando, aí eu posso pensar nisso". Na breve conversa telefônica com Pereira Leite, Lucon disse que o ministro "respeitou a decisão" de deixar o comando do colegiado, e que não fez nenhum questionamento.
Perguntado se houve esvaziamento do fórum desde que ele assumiu a coordenação, Lucom reconheceu que o "período foi muito difícil". Apesar das atividades do colegiado, das reuniões com representantes de vários segmentos da sociedade brasileira, o órgão nunca recebeu atenção por parte da Presidência. "Se o fórum reunia de 15 a 20 pessoas, e se fôssemos chamados para conversar com o presidente, poderíamos nos sentir prestigiados, mas isso nunca aconteceu", lamentou. Mas fez questão de dizer que o fórum "existe, foi criado por lei e vai continuar existindo".
"Falar que o fórum existe é muito positivo. A maioria esmagadora dos brasileiros sequer sabia disso", concluiu Lucon.
Oswaldo dos Santos Lucon é engenheiro civil com doutorado em energia, foi assessor para Mudanças Climáticas da Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, e integra o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), criado pelas Nações Unidas e pela Organização Meteorológica Mundial. E é como observador da ONU que ele está em Glasgow, acompanhando a COP26.
Participação do Brasil na COP26
O presidente Jair Bolsonaro decidiu não participar da Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, atitude vista como ruim para Brasil, mas, em vídeo enviado para o evento, declarou que o país é "parte da solução" dos problemas decorrentes das mudanças climáticas, e não "do problema".
Entre os compromissos já firmados pelo Brasil na COP26 estão a redução de 50% das emissões de gases de efeito estufa até 2030 e transição para uma nova economia verde neutra em emissões de carbono até 2050.
Nesta 3ª feira (02.nov), o país se comprometeu também a reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, e assinou um acordo com os líderes mundiais para preservar florestas, combater o desmatamento e reduzir o ritmo de degradação do solo até 2030.