Ciro na Casa Civil gera estabilidade política, avaliam ministros do STF
Avaliação é de que sem ameaça de impeachment o clima melhora
Roseann Kennedy
A nomeação de Ciro Nogueira como ministro-chefe da Casa Civil foi bem recebida pela cúpula do Supremo Tribunal Federal, apesar de o político ser alvo de inquéritos no STF.
Internamente, os ministros da Suprema Corte acreditam que a chegada de Ciro vai ajudar num movimento de diálogo com Congresso. Eles observam que isso segura qualquer movimento de impeachment e, portanto, dá maior estabilidade política ao país no momento.
Sobre o fato de o novo ministro ser investigado, o próprio presidente Jair Bolsonaro falou do assunto, em entrevista à uma rádio esta semana.
"Se eu afastar do meu convívio parlamentares que são réus ou têm inquéritos, eu perco quase metade do parlamento. Todos nós só somos culpados depois da sentença ser apresentada em julgado. Então se o Ciro, ou qualquer outro ministro meu for julgado e condenado, obviamente se afasta do governo", afirmou.
Como tem perfil mais apaziguador, interlocutores do STF acreditam que Ciro também possa ajudar a baixar o tom do presidente Bolsonaro em relação às críticas contra os ministros.
Sobre essa relação, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, vai tentar agendar na próxima semana uma reunião com os presidentes da República, da Câmara e do Senado. O encontro com Jair Bolsonaro, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco estava previsto para o dia 14 de julho, mas foi cancelado por causa da internação de Bolsonaro para tratar de problemas de saúde.
A ideia é conversar sobre a relação entre Executivo, Legislativo e Judiciário, para melhorar o clima que ficou tenso nas últimas semanas, especialmente pelas declarações de Bolsonaro sobre não ocorrer eleições em 2022 se não houver voto impresso e pelos ataques ao ministro Luis Roberto Barroso.
Fux chegou a ter um encontro com Bolsonaro no início deste mês. Pediu respeito aos limites constitucionais e aos ministros da Suprema Corte. Bolsonaro prometeu respeito à Constituição.
A avaliação no Supremo é de que, após essa conversa, ele baixou o tom. "Em relação a Barroso, manteve as críticas, mas em tom aceitável e não mais chamando o ministro de imbecil", afirma uma fonte do STF.