Ex-secretário defende que MEC faça reunião sobre recomposição da aprendizagem
Schneider, que integra GT da Educação, disse achar que essa deveria ser 1ª reunião do novo ministro
O ex-secretário de Educação de São Paulo e integrante do Grupo Técnico (GT) da área no governo de transição, Alexandre Schneider, deve sugerir que o GT inclua em sua lista de propostas ao governo Lula (PT) a convocação de uma reunião entre o novo(a) ministro(a) da Educação, os secretários estaduais desta e representantes dos municipais para definirem juntos como será a recomposição das aprendizagens no país.
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Questionado pelo SBT News, nesta 6ª feira (25.nov), sobre se tem alguma proposta em mente que gostaria de apresentar ao novo governo com base no que analisa no cenário da educação no território brasileiro, pontuou: "Acho que a principal delas é o ministro ou ministra que assumir ter como primeira medida chamar os secretários estaduais e a representação dos secretários municipais para na mesma mesa desenhar como vai ser feita a recomposição das aprendizagens. Acho que essa deveria ser a primeira reunião que o ministro ou a ministra vai ter que fazer".
Schneider conversou com a reportagem após o término do painel -- do qual participou -- "As políticas prioritárias para um Brasil menos desigual e mais sustentável", do Fórum Brasil 2023-26. O ex-secretário reforçou que o GT está elaborando um relatório com o diagnóstico do que o novo titular do MEC encontrará na área da educação ao assumir. "A segunda fase do relatório, que se inicia daqui a 15 dias, ela vai ser, como todos os grupos de trabalho, olhando para os primeiros 100 dias".
Nessa segunda fase, portanto, serão elencadas propostas de ações para o governo Lula adotar em seus primeiros 100 dias. Ainda de acordo com ex-secretário, o "GT tem se reunido praticamente diariamente com duas agendas. Uma agenda que é ouvir a sociedade, são movimentos, sindicatos, representantes de universidades privadas e públicas, professores, e de outro lado o seu próprio planejamento do relatório. Então a gente tem um relator, e esse relator está trabalhando neste fim de semana no desenho daquilo que vai ser entregue para a primeira fase do relatório, que é esse diagnóstico".
Painel
No painel "As políticas prioritárias para um Brasil menos desigual e mais sustentável", do qual participaram também a ex-secretária de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia de São Paulo Patricia Ellen, o deputado federal eleito Delegado Bruno Lima (PP-SP) e o advogado e doutor em direito do Estado Igor Tamasauskas, destacou problemas existentes na área da educação no país, como a falta de vagas de creches, o analfabetismo e a evasão escolar.
"A gente tem pouca criança na creche e a gente tem ainda aquelas que precisam mais, mais fora da creche, que são as crianças mais pobres. E aí o que a gente precisa fazer é não só retornar com o apoio do governo federal a ampliação das matrículas em creche no país, mas sobretudo construir uma política integrada de primeira infância, em que a gente tenha a atenção à saúde, os programas de renda", afirmou. Segundo ele, para ampliar o número de vagas, pode ser feita parceria entre o setor público e privado, e promover esse aumento é necessário "porque tem criança fora da creche e porque todas as evidências mostram que é exatamente nessa idade que a gente desenvolve uma série de particularidade importantes na vida futura".
Em relação ao analfabetismo, Schneider disse que "Seis em cada dez crianças eram alfabetizadas no Brasil até os oito anos de idade antes da pandemia", e houve uma piora nesse número. "O Brasil precisa de uma política que integre Governo Federal, os governos estaduais e os municipais para transformar a alfabetização como um pauta urgente, e a gente não aceitar que ninguém esteja na escola e não seja alfabetizada", complementou.
Ainda de acordo com o ex-secretário, 650 mil alunos saíram da escola na pandemia e não voltaram. "Então o que a gente precisa é, de um lado, buscar essas crianças, ter uma política e busca ativa dessas crianças e também trabalhar com os programas de renda, federal, estaduais e municipais, muitos estados e municípios têm programas de renda, para manter essas crianças mais vulneráveis", declarou. Outra medida necessária para combater a evasão escolar, disse, é a formação dos professores.
Ele apontou a governadora do Ceará, Izolda Cela (sem partido), e o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, como bons nomes para assumirem o MEC no próximo ano. Ao final do painel, Schneider defendeu a implementação de uma matriz curricular que contenha o ensino técnico profissionalizante: "A gente precisa de uma matriz, e o Novo Ensino Médio nos dá isso, em que a gente consiga juntar, além do Ensino Médico propedêutico, que é o tradicional, com as matérias, disciplinas, etc., com o ensino técnico profissionalizante".
Patricia Ellen, por sua vez, discorreu sobre o modelo de desenvolvimento econômico do Brasil: "A gente tem um modelo pós-Revolução Industrial que é exatamente o mesmo de desenvolvimento econômico que a gente tem tentado replicar por décadas e décadas. Para alguns países funcionou muito bem. A Coreia do Sul dobrou o PIB em 20 anos, a Alemanha conseguiu dobrar o PIB em 20 anos, a China conseguiu fazer a mesma coisa. O problema é que o Brasil, ao tentar emular esses modelos, não conseguiu crescer como eles cresceram".
Para ela, o Brasil possui um modelo "extrativista ineficiente". Ainda conforme Patricia Ellen, o país "é a única grande nação hoje no mundo que tem condições de ser carbono zero até 2030 e, ao mesmo tempo, ser menos desigual e mais sustentável, mas também mais próspero".
Para se tornar carbono zero até o final da década, falou, o Brasil precisa, além de promover a descarbonização da sua indústria e investir em ciência e tecnologia, "ter um programa de bioeconomia muito grande e valorização da floresta em pé". "Um programa para o agro sustentável e também aumentar a sofisticação dos nossos produtos" também "descarbonização da indústria e o próximo passo da economia, que é investimento em ciência e tecnologia". A descarbonização da indústria, de acordo com ela, depende de um programa público de apoio, que olhe setor por setor.
Em seu comentário final, a ex-secretária relembrou o problema da fome: "A gente precisa de um sonho grande para o Brasil agora, e esse sonho precisa falar com as pessoas que mais precisam. Quando a gente está aqui, uma em cada dez pessoas no Sudeste hoje estão passando fome. Na Amazônia são três em cada dez. Então não vai ter como a gente falar, infelizmente, em educação, desenvolvimento econômico, de tecnologia enquanto a gente não resolver essa questão".
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