Analistas avaliam desafios de Lula para cumprir promessas de campanha
Entre as propostas do petista estão a manutenção do valor do Auxílio Brasil e o reajuste real do salário mínimo
Simone Queiroz
Na carta para o "Brasil do Amanhã", o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se comprometeu com uma política fiscal responsável, com regras realistas que enfrentem a emergência social que os brasileiros vivem, e que reativem o investimento público e privado para arrancar o país da estagnação.
O "caixa", no entanto, não está dos melhores. Neste ano eleitoral, a gestão Jair Bolsonaro fez inúmeras despesas, e a conta vai chegar no ano que vem.
O governo Lula terá uma difícil equação para resolver: honrar os compromissos eleitorais assumidos com os eleitores e mostrar responsabilidade, cautela com os gastos. Ou seja, não gastar mais do que tem, como todo brasileiro se vira para fazer na própria casa. Contudo, o presidente eleito sai das urnas com um grande capital eleitoral, o que deve favorecer as negociações.
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Na pauta, além da manutenção do Auxílio Brasil e do reajuste real e anual do salário mínimo, tem a correção da tabela do Imposto de Renda, isentando quem ganha até R$ 5 mil, aumentar o valor da merenda escolar e manter o corte de impostos dos combustíveis para não pressionar a inflação.
Pelas contas do professor de Economia do Insper, Roberto Dumas, Lula vai precisar de R$ 215 bilhões a mais fora do Orçamento do ano que vem, mas destaca que é possível atingir o valor, se houver o chamado compromisso fiscal.
"Eu te dou essa licença para gastar, mas o que você vai fazer a partir daqui, para parar de gastar e ter mais receita? Entrou no poder, qual a reforma mais importante que tem que fazer? A reforma tributária", esclarece o economista.
Anunciar o quanto antes a equipe econômica colabora com a boa vontade do mercado, mas ainda tem o Congresso que, após as eleições, ficou mais ao Centro e à Direita.
A aposta do cientista político Alberto Carlos Almeida é de que Lula conseguirá aprovar medidas ainda que, às vezes, com modificações apresentadas pelos parlamentares.
"O que todo deputado e todo senador deseja? Eles querem ser ouvidos pelo governo, dar sugestões, e que essas sugestões sejam aceitas; eles querem indicar para nomeação de cargos, e eles querem recurso do Orçamento Federal", explica o especialista.
A moeda em troca de apoio parlamentar pode ser os cargos nos ministérios e demais escalões. "Lula é muito habilidoso, e tem experiência em seus 8 anos de Governo. Ele vai alocar os ministérios de acordo com o apoio parlamentar, e a quantidade de votos que o partido tem na Câmara e no Senado. Não é só o Brasil, é em todos os lugares do mundo é que do mesmo jeito. O jogo é esse. Política é isso", conclui o cientista político.
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