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Em evento com artistas, Lula defende criação de "orçamento participativo"

Petista chamou as emendas de relator de "maior podridão desde que foi proclamada a República"

Em evento com artistas, Lula defende criação de "orçamento participativo"
Lula fala ao microfone no evento de lançamento do livro 'Querido Lula' (Guilherme Resck/SBT News)
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Discursando no evento de lançamento do livro Querido Lula: cartas a um presidente na prisão (Boitempo), em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 3ª feira (31.mai) que, em um eventual governo, trabalhará para implementar um "orçamento participativo a nível nacional", no qual a população dirá "o que quer, como quer, que obra vai ser feita". De acordo com o petista, essa é a única forma de impedir que um presidente fique "refém" do chamado orçamento secreto -- ou emendas de relator -- e não deseja "fazer o povo brasileiro ficar refém outra vez".

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Lula criticou diretamente a existência do orçamento secreto: "é a maior podridão desde que foi proclamada a República de se apoderar do poder, que o Congresso Nacional fez. São bilhões e bilhões de reais manipulados pelos deputados". Após defender a criação de um participativo, disse que sua campanha não permitirá que perca as eleições de 2022 por causa das redes sociais e da disseminação de fake news contrárias.

"A gente tem quatro meses [de campanha]. Comprem sapato novo com sola de borracha e vamos andar este país. Não vamos permitir ser derrotado pelo 'Zap', ou derrotado por fake news, ou derrotado pelo Telegram, ou pelo Instagram", disse Lula, em meio a aplausos. De acordo com o político, ele e seus apoiadores estão lutando "contra gente muito ruim", contra os responsáveis por matar a vereadora do Rio Marielle Franco (Psol) no Rio de Janeiro, em 2018, os milicianos e as "pessoas que não têm medo de matar inocente, pessoas que não tem medo de fazer com o Genivaldo o que a Polícia Rodoviária Federal fez". Genivaldo de Jesus morreu durante abordagem feita por agentes da PRF em Sergipe; na ocasião, foi mantido dentro de uma viatura com uma bomba de gás lacrimogênio ativa.

Entre as causas de violência policial, disse o petista, está a "ausência do Estado no cumprimento das suas funções", como geração de emprego e fornecimento de educação. O discurso teve ainda críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Em determinado momento, acusou o atual chefe do Executivo de ter manipulado o pleito de 2018: "A gente não pode ser manipulado como foi na eleição americana pelo Trump. Como o Bolsonaro manipulou através das fake news as eleições de 2018. Nós não podemos. Nós precisamos resistir e ir para a rua, conversar e discutir".

Em outro instante, após ressaltar a importância da educação, afirmando que nenhum país conseguiu ser "independente, rico e soberano sem antes investir" na área, falou que a "ignorância não gera um estadista, gera um Bolsonaro". O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também foi alvo de crítica: "Uma notícia me deixou estarrecido. Nos Estados Unidos, o Biden estava fazendo uma peregrinação pelo mundo para comprar leite para criança recém-nascida, porque estava faltando nos Estados Unidos. Ora, como é que pode a primeira potência econômica do mundo dizer que não tem leite para as crianças se o presidente Biden tinha acabado de anunciar mais US$ 40 bilhões para comprar armas para ajudar na guerra na Ucrânia?". O líder americano assinou a ajuda aos ucranianos em 21 de maio.

O relacionamento com banqueiros e empresário foi outro assunto abordado pelo presidenciável do PT. "Eu vou fazer muita reunião com banqueiro, com empresário, mas eles nunca perguntaram para mim como é que está o povo na rua, como é que está fome, o desemprego, as pessoas que estão abandonadas. Nunca perguntaram. Só pergunta assim 'e o teto fiscal? E o teto de gasto fiscal? Você vai manter ou não vai manter? E a responsabilidade fiscal? Você vai manter ou não vai manter? E a dívida pública?', porque eles só pensam no dinheiro que é para reverter para eles", declarou. Além disso, ele alfinetou o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), afirmando ter acabado enquanto o "PT continua forte, continua crescendo e conseguiu compor a maior frente de esquerda já feita neste país". O político se referia ao movimento Vamos Juntos pelo Brasil, formado pelo Partido dos Trabalhadores, PV, Psol, Rede Sustentabilidade, Solidariedade, PSB e PCdoB.

A ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, a socióloga Rosângela da Silva -- mulher de Lula --, o vereador paulistano Eduardo Suplicy, a cantora Zélia Duncan, e as atrizes Denise Fraga e Camila Pitanga são alguns dos demais presentes no evento de lançamento do livro, que ocorreu no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), em Perdizes, na zona oeste da capital paulista. Na ocasião, antes do discurso de Lula, cartas enviadas ao petista enquanto esteve preso em Curitiba e que estão entre 46 selecionadas, dentre as mais de 25 mil destinadas ao ex-presidente ao longo dos 580 dias de prisão, para compor a obra lançada, foram lidas por personalidades (como os próprios Dilma, Haddad, Janja, Zélia e as atrizes) e por populares - em determinados casos, o próprio autor da mensagem.

O evento estava previsto para começar às 19h, mas teve início por volta de 19h30. A Boitempo, editora do livro, distribuiu ingressos, pela internet, gratuitamente para quem quisesse assistir do lado da plateia. Fora do Tuca, já às 18h10, havia uma fila de pessoas para entrar. Lá dentro, entre os que se acomodaram depois, era possível ver indivíduos com bonés do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um carregando uma toalha com foto de Lula estampada e outros com faixas com a escrita "Sou Lula" amarradas à cabeça. Uma senhora levou um cartaz que dizia "Central de Cartas Lula Livre - Você quer enviar uma carta para o presidente?". Outra, distribuiu flores de diferentes cores, feitas de plástico, por meio de uma cesta. Já um rapaz entregou a todos os presentes uma folha de papel contendo o jingle Sem Medo de Ser Feliz, da pré-campanha do petista.

Ao longo do evento, houve aplausos (inclusive de pé), gritos de celebração ou apoio -- "Eu te amo, Dilma" -- e os cantos "olê, olê, olá, Lula, Lula" e "olê, olê, olá, Dilma, Dilma" foram entoados. Segundo a historiadora francesa Maud Chirio, autora do livro, o envio das mais de 25 mil cartas ao petista é uma "história extraordinária", que teve início com um pedido feito por ele a apoiadores em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), pouco antes de ser preso, para que não deixassem a injustiça interromper a luta e o representassem fora da cadeia. Para Chirio, "o envio de cartas foi a prova de que o seu pedido tinha sido ouvido". De acordo com ela, nenhum líder suscitou um movimento igual.

Ainda conforme a autora, "essas cartas contam uma história coletiva: a de milhões de vidas revolucionadas pelas esperanças que o Lula encarnou, pelas políticas sociais de inclusão que foram implementadas durantes os mandatos do PT". São mensagens, nas palavras de Chirio, "de agradecimento, conforto". A primeira lida no palco, por Denise Fraga, foi escrita por um pedreiro - Francisco Aparecido Malheiros. Nela, diz querer ajudar a reforçar a equipe de advogados do ex-presidente: "Eu sei que os que te defendem são muito bons e eficientes. Mas vamos reforçar mais esse time, porque nós queremos o nosso artilheiro em campo. Lula, muito obrigado por tudo que você representa para o Brasil".

Na segunda, Douglas Willian Silva, de Teresópilis, quem a leu no palco, diz que concluiu um curso superior graças aos programas de inclusão social implementados pelo PT e agradece Lula "por não desistir do Brasil". Em outra, Jorge Luiz afirma que, graças ao antigo Bolsa Família recebido pela mãe, o irmão pôde parar de recolher reciclável, e que precisava agradecer ao petista "pessoalmente por lutar contra a fome, miséria e exploração". Numa lida por Zélia Duncan, uma professora aposentada, Ana Beatriz Arena, fala que os programas dos governos Lula e Dilma "devolveram ou desenvolveram" em pessoas "a vontade de estudar e se tornar doutor". Após concluir a leitura, Zélia cantou Juízo Final.

Na lida por Dilma, de 8 de abril de 2018, Juliana Freitas agradece o ex-presidente "por ter dado dignidade a este povo" e lhe diz para ficar "bem, na medida do possível". Haddad e Denise Fraga leram a de um morador de Curitiba, Luiz Fernando Costa, na qual este relata morar em uma casa construída graças ao antigo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que, ao consegui-la, toda a família sentiu muita felicidade. "Tudo que hoje tenho é graças ao seu olhar de grande estadista e ao seu olhar humano", fala a Lula.

Lucas Figueira, nordestino de origem humilde e retirante, leu sua própria. Conforme a mensagem, teve 19 irmãos, mas 11 morreram crianças, devido à falta de serviços básicos de saúde. Se emocionou ao relembrar que a mãe nunca sentava com os filhos à mesa, durante as refeições, e só comia se tivesse sobrado algo, depois. "Se não sobrasse , ela colocava café fervendo em um prato de sopa e jogava farinha", fala na carta. Ainda nela, declara ter conseguido uma casa graças ao antigo Minha Casa, Minha Vida. Ao final, diz que "as sementes plantadas" por Lula e Dilma nunca serão eliminadas.

A vereadora de São Paulo Erika Hilton (Psol) leu uma escrita pelo ex-deputado federal Jean Wyllys. Nela, ele fala que estará com Lula independentemente do preço a ser pago e que o vê como um "pai". As últimas mensagens foram lidas por Janja e foram escritas por ela própria. A socióloga enviou mais de 580 cartas para o agora marido, quando ele esteve preso. Uma delas, encerra dizendo que "essa tempestade logo vai passar. Fique forte. Te amo". Outra, escrita quando Lula completou 100 dias preso, fala terem se tratado de 100 dias "de muita saudade" e para amá-lo "cada vez mais".

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