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Eleições

Tema ambiental está longe da prioridade dos candidatos, avaliam especialistas

Desmatamento na Amazônia Legal foi de 13.235 km² em 2021, segundo o Inpe

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Com cocar, Lula olha para indígena (Ricardo Stuckert)
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No ano em que o mês de abril teve recorde na soma das áreas de alerta, feito pelo Deter, de desmatamento e degradação na Amazônia, com 1.013 km² -- o equivalente a 1.389 campos de futebol --, os candidatos a presidente da República não abordarão o tema do meio ambiente com prioridade na campanha, por causa das expectativas dos eleitores. A análise é do pós-doutor em ciência política e coordenador do Núcleo de Estudos Políticos e Eleitorais (Nepe) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), professor Cléber de Deus.

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"As pesquisas que estão sendo realizadas não detectam, por incrível que pareça, prioridade nessa questão, pelo menos no que diz respeito às intenções dos eleitores. O que está em ordem de preferência? Segurança, saúde e educação. E como o marketing político dos candidatos é voltado, em geral, para as questões que mais chamam atenção ou dizem respeito às expectativas dos eleitores, eles vão formular no sentido de tentar adequar o seu discurso a essas questões que são de prioridades elencadas pelo eleitor", afirmou, em entrevista ao SBT News

De acordo com o professor, a pauta do meio ambiente "infelizmente" não mobiliza o eleitor comum, tanto no plano nacional como estadual. "É um pequeno segmento [de eleitores] que se mobiliza por esse assunto", pontuou. Propostas ambientais, acrescenta Cléber, vem sendo e serão apresentadas pelos participantes da corrida presidencial, "mas não vai ter um detalhamento preciso para essa questão". Ainda conforme o especialista, atualmente, quando falam de uma agenda para o meio ambiente, pré-candidatos a presidente mostram que o desenvolvimento sustentável seria priorizado nessa agenda, "mas são questões genéricas", também para não revelarem suas estratégias, tendo em vista que ainda faltam cinco meses para as eleições.

Por outro, segundo o ambientalista Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, o tema do meio ambiente chegará com "muito mais força" no pleito deste ano "do que nas eleições passadas". "Ele vem crescendo em importância no mundo inteiro, não apenas no Brasil. As mudanças climáticas estão afetando cada vez mais a vida das pessoas. Aqui no Brasil da mesma forma. Aqui a gente tem uma situação particular, que é o caso do desmatamento da Amazônia. Também temos tragédias que ocorreram em vários estados, no Rio de Janeiro, Petrópolis, sul da Bahia", completou. Foram mais de 100 mortos por causa das precipitações em Petrópolis, em fevereiro deste ano, e mais 20 na Bahia entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022.

O Observatório do Clima espera que os candidatos ao Planalto se posicionem sobre a temática ambiental e deem atenção maior para esta. Refletindo sobre as propostas que deverão ser apresentadas por esses políticos, Astrini pontua: "o centro do debate vai ser realmente o desmatamento da Amazônia. O desmatamento da Amazônia é um escândalo global e atinge a gente tanto [internamente como] externamente, no mercado internacional do Brasil, fecha as portas, isola o Brasil, em vários momentos". Como exemplos destes, cita o impasse para a ratificação do acordo comercial entre a União Europeia (UE) e  Mercosul e o adiamento, no ano passado, pelo comitê ambiental da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da discussão sobre a entrada do Brasil na organização.

Propostas ambientais envolvendo a produção de energia também deverão ser apresentadas por candidatos a presidente neste ano, de acordo com o ambientalista. "Nós temos, por exemplo, o aumento na conta de luz de todos nós brasileiros, tem a ver com como a gente gera eletricidade e com a regularidade de chuva do nosso país, que está mudando. Toda vez que a gente tem menos chuva, as hidrelétricas não geram energia e a gente tem que acionar térmicas, e as térmicas pesam no nosso bolso. Variar essa matriz energética, portanto, tem a ver com o que a gente desembolsa na conta de luz no final do mês", afirmou.

Em discurso no evento de lançamento de sua pré-candidatura, no dia 7 de maio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) -- líder das pesquisas de intenção de voto para chefe do Executivo federal -- disse que "cuidar do meio ambiente é, antes de tudo, cuidar das pessoas". "É buscar a convivência pacífica entre o desenvolvimento econômico e o respeito à flora, à fauna e aos seres humanos. A transição para um novo modelo de desenvolvimento sustentável é um desafio planetário".

Entre as medidas implementas no governo Lula voltadas à preservação do meio ambiente, estiveram o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) e a publicação, pelo Ministério do Meio Ambiente, de uma lista com os municípios que apresentam maior perda de cobertura vegetal. O ano de 2004, o segundo da gestão do petista no Palácio do Planalto, foi o que teve a segunda pior taxa de desmatamento da Amazônia Legal na série história do Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com 27.772 km² - superado apenas pelos 29.059 km² de 1995, no governo FHC (PSDB). Porém, o índice ficou em patamares bem menores nos anos seguintes; em 2010, foi de 7 mil km².

O presidenciável do PDT, Ciro Gomes, por sua vez, falou em fevereiro deste ano, por meio de um tweet, que "a questão do meio ambiente é central para o Brasil". "Mas não vamos resolvê-la reprimindo populações que, até outro dia, eram estimuladas a desmatar. Temos que criar alternativas para quem vive da floresta. Em suma, estabelecer o desenvolvimento sustentável como meta prioritária", acrescentou.

Já o ex-governador de São Paulo e presidenciável do PSDB, João Doria, disse na semana passada, pelo Twitter, que "o progresso e o meio ambiente devem avançar juntos", ao relembrar feitos do seu governo na área ambiental, entre os quais a despoluição de 86% do Rio Pinheiros e a criação do programa Refloresta SP - para recuperar 1,5 milhão de hectares de vegetação nativa até 2050.

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Pesquisa Ibope divulgada em fevereiro deste ano mostra que 77% dos brasileiros consideram mais proteger o meio ambiente, mesmo que isso signifique menos crescimento econômico e menos empregos, do que promover o crescimento econômico e a geração de empregos, mesmo que isso prejudique o meio ambiente. E 45% já votaram em algum político pelas suas propostas para defesa do meio ambiente. O levantamento ouviu por telefone 2,6 mil pessoas com 18 anos ou mais, de 28 de setembro a 1º de novembro de 2021.

Para Marcio Astrini, em relação ao meio ambiente, os pré-candidatos a presidente da República "precisam falar muito mais do que estão falando, mas a gente ainda está o começo da campanha". "Então nós [do Observatório do Clima] tivemos, por exemplo, a apresentação de propostas para a candidatura do Lula, que chamou a nós e vários outros especialistas da área. Eu, particularmente, já estive em uma conversa com o Ciro Gomes. A gente espera agora conversas com os outros candidatos, com o Doria, com Simone Tebet. Algumas pessoas da área ambiental já estiveram com alguns desses outros candidatos, então a formulação dessas propostas está sendo feita exatamente agora".

De acordo com o ambientalista, o Observatório do Clima espera que todos os presidenciáveis abordem na campanha o desmatamento da Amazônia e a composição da matriz energética brasileira, e demonstrem "posicionamentos muito duros com relação, por exemplo, a casos extremamente urgentes" -- entre os quais a questão indígena --, com exceção do presidente Jair Bolsonaro (PL). "O atual presidente realmente não tem nenhuma proposta a ser feita, porque o que ele demonstrou nos últimos três anos deixa bem claro que a missão dele é destruir o meio ambiente, não tem nenhum compromisso com a agenda", fala Astrini.

No governo Bolsonaro, em suas palavras, "absolutamente todos os números que dizem respeito a crime e meio ambiente pioraram no país". "Só para a gente ter uma ideia, o mais escandaloso deles é o desmatamento da Amazônia. O desmatamento da Amazônia aumentou 76% durante o governo Bolsonaro. Não existe nada, nenhuma circunstância que explique um aumento tão drástico do desmatamento que não a política antiambiental do governo", acrescentou. Questionado pelo SBT News sobre as afirmações, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) disse que "no âmbito da proteção ambiental aliada ao desenvolvimento sustentável, a pasta instituiu o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais Floresta+, que visa reconhecer e remunerar quem protege floresta nativa no Brasil, de produtores rurais a comunidades".

O MMA afirmou ainda ter reforçado "o combate ao desmatamento ilegal", por meio da criação de sistemas de monitoramento e da implementação das operações Guardiões do Bioma -- para combater o crime organizado na Amazônia --; destacou outra medida adota em prol da preservação do meio ambiente, o Certificado de Crédito de Reciclagem (Recicla+); citou recordes de reciclagem registrados pelo país em 2021, como índice de 94% de reciclagem de embalagens de defensivos agrícolas; e relembrou metas apresentadas pela pasta na COP26, além da adesão do Brasil ao Acordo de Redução de Metano e assinatura da Carta de Florestas.

"Também liderou as discussões, articulando com mais de 70 países, para a aprovação do Mercado Global de Carbono. Como o lançamento do Programa Nacional de Redução de Emissões - Metano Zero, fomos o primeiro país a transformar compromissos assumidos durante a Conferência das Partes em medidas concretas, com isenção de imposto federais, financiamento específicos e criação do crédito de metano. A iniciativa poderá reduzir em mais de 30% as emissões totais de metano do Brasil", finaliza a nota enviada à reportagem. Entretanto, conforme o Prodes, o desmatamento na Amazônia Legal foi de 10.129 km² em 2019 (ante 7.536 km² de 2018), 10.851 km² em 2020 e de 13.235 km² em 2021. 

Outras nações

Na visão de Marcio Astrini, "no mundo inteiro" a temática do meio ambiente não vem sendo tratada com a importânica devida. "Se a gente pegar o principal instrumento que a gente tem para debater clima, que é o Acordo de Paris, e pegar todas as propostas que existem no mundo e colocar em cima da mesa, elas são insuficientes para resolver o problema [mudanças climáticas]. E veja, a gente está falando de propostas, não saíram do papel ainda. Quer dizer, se elas forem realizadas, virarem ações, elas não resolvem o problema", declarou. Contudo, disse o ambientalista, há países "avançando nessas promessas", por exemplo, com planejamento para diminuir a emissão de gases do efeito estufa por meio da transferência de investimentos de fontes poluentes para fontes renováveis.

O Brasil, por parte do qual, avalia, vem ocorrendo um movimento contrário -- por causa do governo Bolsonaro --, tem o potencial, segundo Astrini, "de ser o único país de dimensões continentais no mundo, entre as maiores economias mundiais, que em vez de emitir ou emitir menos esses gases poluentes, ele pode retirar da atmosfera mais do que emite". "Quer dizer, a gente pode ter um saldo negativo nas nossas emissões. Esse é um exemplo global, para todas as nações. Isso significa vantagens, inúmeras vantagens para o nosso país. Podemos ser líder nesse quesito, mas estamos caminhando para trás, infelizmente".

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