Publicidade
Eleições

"A vida não é só como se deseja", diz Boulos ao desistir do governo de SP

Ele vai concorrer como deputado federal e apoiar as candidaturas de Haddad e Lula

Imagem da noticia "A vida não é só como se deseja", diz Boulos ao desistir do governo de SP
Guilherme Boulos
• Atualizado em
Publicidade

Apontado como uma das principais renovações na política brasileira, especialmente ao chegar ao segundo turno na última disputa pela prefeitura de São Paulo com mais de 40% dos votos, Guilherme Boulos (PSOL) anunciou nesta 2ª feira que desistiu da pré-candidatura ao governo de São Paulo. Ele vai abrir mão de participar do pleito para apoiar o pré-candidato pelo PT, Fernando Haddad, ex-ministro e ex-prefeito da capital paulista. Boulos aparece com cerca de 7% em recentes pesquisas de intenções de voto. Haddad, com 24%.

+ Leia as últimas notícias no portal SBT News

Boulos anunciou ser pré-candidato pelo PSOL a deputado federal pelo estado paulist. Em entrevista ao SBT News ele afirmou que vai reunir esforços para apoiar também a eleição do ex-presidente Lula à presidência.  Segundo ele, embora fale sempre com Lula, disse que a decisão foi tomada em acordo com o PSOL. Sobre um cargo de ministro em um possível governo petista, ele respondeu: "Quem tem língua diz o que quer (...) vamos nos preocupar primeiro em ganhar a eleição, depois se discute o que se faz em 2023". Abaixo, a íntegra da entrevista.

Por que o senhor desistiu de se candidatar ao governo de São Paulo e concorrer ao cargo de deputado federal?
Esta decisão foi tomada a partir de muito diálogo com meus companheiros de partido, analisando o cenário grave que o Brasil está vivendo hoje e por duas motivações principais: a primeira é a importância da gente construir uma bancada forte no Congresso Nacional. Hoje, o Congresso é dominado pelo Centrão, por interesses fisiológicos, por interesses de grandes bancadas econômicas, por privilégios. É esta turma que está com a chave do cofre do orçamento da União; o segundo motivo que me levou a esta decisão é buscar a unidade do campo progressista aqui em São Paulo para a gente acabar com 27 anos de governos do PSDB, que deixaram o estado mais rico do Brasil parado no tempo. São Paulo é o estado mais rico do Brasil, mas também é um dos mais desiguais, não tem política social não tem política econômica, não tem política ambiental, o estado está largado. Então, eu espero que a gente possa construir uma unidade do campo progressista e quero ajudar o meu partido. Obviamente, o meu partido vai fazer esta discussão com sua militância, com o seus espaços, mas eu defendo uma unidade e acho que a candidatura do Fernando Haddad (PT) a partir deste momento é aquela que melhor representa o projeto que a gente defende.

Por que não o senhor para fazer isso pelo estado?
Veja, eu busquei construir a nossa candidatura. No ano passado, eu viajei para mais de 40 cidades do estado de São Paulo. A vida não é apenas como a gente deseja, nós temos que analisar a gravidade no momento que nós estamos vivendo no Brasil e em São Paulo e traduzir ela em gestos políticos. A minha candidatura não foi aquela que teve as melhores condições para unificar a esquerda para a gente derrotar tanto o bolsonarismo quanto os tucanos em São Paulo. Eu fiz esta análise e a traduzi numa atuação política. Este é o momento de dar um passo atrás, em relação à candidatura do governo estadual, buscar a construção de uma unidade e, ao mesmo tempo, assumir um outro desafio, que é fundamental. Nós precisamos ter uma Câmara dos Deputados diferente. Eu acho que é muito importante eleger o Lula para tirar o Bolsonaro, agora não basta isso. Nós precisamos também mudar a agenda política do país, apontar uma perspectiva de futuro e eu acho que hoje, o lugar que eu mais posso contribuir para o Brasil, para o projeto coletivo que eu acredito é justamente sendo candidato a deputado federal.

Como vai ser sua participação nas campanhas de Fernando Haddad ao governo de São Paulo e de Lula à Presidência?
Além de fazer a minha própria campanha para deputado federal, vou fortalecer outras candidaturas não só a Câmara Federal, como também para Assembleia Legislativa, fortalecer candidaturas de esquerda em outros estados do Brasil, vou dedicar também os meus esforços para eleger o Lula. Isso é fundamental porque estamos em uma encruzilhada na história brasileira. O que está em jogo não é só uma eleição, o que está em jogo é devolver esperança, e perspectiva de futuro. Bolsonaro devastou Brasil, este cidadão é responsável por um genocídio na pandemia, por devolver o Brasil ao mapa da fome. Nós precisamos apontar para uma outra perspectiva. Eu vou buscar fazer isso aqui no estado de São Paulo e no país.

O senhor consultou o ex-presidente Lula sobre essa decisão? 
Eu tenho uma relação de amizade, proximidade e de companheirismo com o Lula de longa data. Converso com ele sempre, com regularidade quando é possível, agora, esta decisão eu tomei em conjunto com os meus companheiros de partido, com meus companheiros do PSOL, entendendo o que é o melhor caminho. Eu tomei esta decisão com a consciência muito firme. Estou muito convicto que este é o melhor caminho para o PSOL e para esquerda.

Já há especulação de que, se  Lula ganhar, o senhor será ministro. Há algum acordo?
Olha, quem tem língua diz o que quer. É natural que se tenha especulações na política sobre perspectivas. Agora, quem neste momento estiver discutindo sobre ministério diante de uma eleição dura, que não está ganha... O Lula é favorito, mas a eleição não está ganha, vai ser duríssima. Bolsonaro, além da máquina do ódio, que ele já usou 2018, ele vai ter a máquina estatal para fazer campanha para ele, não vai ser fácil, vai ser uma batalha histórica no Brasil. Então, vamos nos preocupar primeiro em ganhar a eleição, depois se discute o que se faz em 2023.

O senhor critica bancadas, critica o Centrão. Mas o ex-presidente Lula já disse que, se eleito, em nome da governabilidade, quer compor com eles. Como será para o senhor apoiar um projeto que vai se aliar a esses grupos?
O Brasil de 2023 não é o Brasil de 2003. Agora, o país é terra arrasada. Arrasada por quatro anos de Bolsonaro, por três (dois) anos de pandemia, por 6, 7 anos de uma agenda econômica antipopular. Então, para que se possa avançar em direitos sociais neste momento vai precisar ter mais ousadia. Vai precisar enfrentar grandes privilégios, para que se possa ter recursos para fazer um grande plano de investimento nacional, de voltar a investir pesado no SUS, em educação e moradia popular, em agricultura familiar, para que agente possa fazer isso no país vai ser preciso enfrentar grandes privilégios. Vai ser preciso, por exemplo, uma reforma tributária que façam os bilionários começarem a pagar contas nesse Brasil, porque não pagam. Quem paga é pobre, é classe média. O Lula, eu acredito, que tenha esta consciência e eu acho que em 2023 nós temos condições de abrir novos horizontes para o país com mais ousadia e com disposição de enfrentar os problemas estruturais do Brasil e do nosso povo.
O que quer dizer com ousadia? Ousadia é compor com o Centrão ou não compor?
Não, quando eu digo em ousadia é que não se pode fazer uma comparação entre o que era o Brasil que o Lula pegou em 2003, quando foi eleito presidente da República pela primeira vez e o que é o Brasil de 2023, que ele pegará se for eleito de novo este ano. A circunstâncias são outras internacionalmente, na economia e na política do país. Eu não acho que vai ter uma repetição daquilo que aconteceu.

Mas ele já disse recentemente que, em nome da governabilidade vai procurar essas alianças.
Sim, mas eu acho que vai ter uma construção sobre outros modos. É natural que, na política, você dialogue, que você busque ampliar, que você busque mais apoios. A questão é em torno de qual projeto que isso acontece. E a disputa que nós queremos fazer aqui é que seja em torno de um projeto profundamente popular e comprometido em tirar o Brasil do mapa da fome e que este projeto esteja na agenda do Lula, se eleito presidente do Brasil.

Publicidade

Últimas Notícias

Publicidade