Em busca de apoio a Lula, PT reduz candidaturas de governadores
Partido quer cortar pela metade nomes a governos estaduais em 2022. Estratégia deve isolar Ciro Gomes
Leonardo Cavalcanti
No final da manhã da 3ª feira (4.mai), em um hotel em Brasília, o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva deu um recado para o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ): o PT está disposto a abrir mão de candidatos a governador. A estratégia principal é derrotar o bolsonarismo no próximo ano em estados-chave, como o Rio de Janeiro, mas os acordos em andamento têm um efeito colateral: as negociações isolam Ciro Gomes, o nome do PDT ao Palácio do Planalto.
Nas eleições de 2018, os petistas lançaram 16 nomes aos governos estaduais no Ceará, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás, São Paulo, Piuaí, Bahia, Pará, Rio Grande do Sul, Acre e Rio de Janeiro. Em 2022, a decisão está tomada pelo grupo de trabalho eleitoral: serão no máximo oito candidaturas. Em alguns estados, tudo está adiantado. É o caso do Rio, berço do bolsonarismo.
Em 2018, Fernando Haddad, o nome de Lula naquela eleição, obteve 3 milhões de votos a menos em relação ao então candidato Jair Bolsonaro. Foi uma lavada. O PT lançou ao governo a fraca canditaura de Márcia Tibure, que recebeu menos de 500 mil votos. Agora, ao recuperar os direitos políticos no Supremo Tribunal Federal (STF), Lula já interceptou a ida do deputado Marcelo Freixo, hoje no PSol, para o PDT, o deixando às portas do PSB, de Molon.
Freixo, assim, abandonou o barco de Ciro antes mesmo de ter entrado, abrindo um leque amplo de alianças, que inclui o prefeito Eduardo Paes (PSD) e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, prestes a ser expulso do DEM. Na conversa com Molon, Lula deixou claro que a frente ampla pode ser apoiada por partidos que tenham diferentes candidatos à Presidência da República. É a costura iniciada pelos estados, sufocando no início candidatos como Ciro.
No caso do Maranhão, por exemplo, o PDT se prepara para lançar ao governo o senador Weverton Rocha. Em conversa com o congressista durante a turnê que fez por Brasília, Lula disse não se incomodar com a candidatura nacional do partido e que deve apoiar o senador. "É a estratégia para dividir palanques, o que inevitavelmente enfraquece Ciro", disse um político petista na condição de anonimato. A ação, porém, irritou o PDT.
Palanques
Em entrevista ao SBT News, o presidente do PDT, Carlos Lupi, disse que, mesmo com o apoio de Lula a Weverton, a candidatura é do PDT. "Qual o número que estará no palanque, o 13, do PT, ou o do 12, do PDT?" Segundo Lupi, um antigo aliado dos petistas, os movimentos de Lula são naturais. "Ele acabou de recuperar os direitos políticos. Se eu fosse ele estaria fazendo o mesmo, mas é muito cedo para falar em cenários eleitorais para 2022. Está distante."
Em Pernambuco, quem deve ter as asas cortadas novamente é a deputada federal do PT Marília Arraes. Candidata a prefeita em 2020, Marília já foi vítima dos acordos petistas no plano nacional e teve de abrir mão de disputas em prol dos acordos com o PSB. Será obrigada a tomar o mesmo caminho, permaneça no partido. O candidato de Lula hoje ao governo de Pernambuco é o ex-prefeito Geraldo Júlio, do PSB, o que apenas confirma a tese da estratégia nacional.
Marqueteiro
Em reuniões internas, Lula tem dito aos parlamentares petistas ouvidos pelo SBT News para não se preocupar com Ciro. Mas um detalhe não passou despercebido. O ex-presidente ainda tem um sonho de consumo para um eventual segundo turno em 2022, ou até mesmo no primeiro turno: o publicitário João Santana, responsável pelas campanhas petistas em 2006, 2010 e 2014. No mês passado, Santana anunciou uma parceria com Ciro.