Paz entre Lula e Ciro Gomes anima a esquerda
Os dois se encontraram em setembro em SP, onde lavaram roupa suja por mais de três horas
O jornal O Globo revelou nesta 5ª feira (29) que Ciro e Lula se encontraram em setembro para fazer as pazes. Eles não se falavam desde a campanha eleitoral de 2018, quando o PT não quis abrir mão de seu hegemonismo político-partidário e a esquerda chegou fragmentada para disputar com um fresco e envolvente Bolsonaro (hoje sem partido), aos olhos de um eleitor confuso e cansado. Em um comício ao longo desta mesma disputa, Ciro disparou a célebre frase: "O Lula tá preso, ô, babaca", que depois virou até estampa de camiseta.
Ficou a dúvida: João Santana sabia do encontro que aconteceu em setembro quando lançou a ideia ao vivo, em rede nacional?
Ao SBTNEWS ele disse que não: "Quando li isto hoje, senti-me uma espécie de cartomante traída - a que previu, sem saber, algo que já acontecera"
A ideia de reunir os dois brigões foi do governador do Ceará Camilo Santana, que é do PT e aliado de Ciro no estado. Primeiro, Camilo procurou o cearense e quis saber se ele toparia um encontro com o petista. Argumentou que não era para que eles concordassem, mas para serem francos um com o outro. Ciro disse que, se tivesse a oportunidade, sim, aceitaria. Afinal, sentia ter muita coisa engasgada para dizer e muito Brasil para discutir. Camilo encheu de entusiasmo e foi atrás de Lula. As tratativas duraram quase um mês e o ex-presidente concordou. Disse que sim, "já era tempo".
Em deferência ao ex-presidente, Ciro viajou até São Paulo. Conversaram por mais de três horas e lavaram roupa suja. Falaram sobre as situações constrangedoras pelas quais passaram durante a campanha de 2018. Dissertaram que a desunião da esquerda levou, entre outras coisas, à eleição da direita extrema.
O senador Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro, disse ao SBTNEWS não acreditar em uma chapa Ciro-Lula, mas sim no apoio mútuo. "O Lula já foi presidente duas vezes, não precisa disso. Não acho que seria razoável pedir a ele para fazer isso. Não precisaria ser o próprio Lula. Um nome do PT, indicado e apoiado pelo Lula para formar uma chapa com Ciro já seria mais que suficiente."
O deputado estadual em São Paulo José Américo, do PT, disse que não sabia do encontro, mas que "a esquerda dividida não é um bom negócio. É preciso, sim, unificar a esquerda. Se não for na mesma chapa, ao menos que seja a unificação do discurso", ponderou ele.
Lula disse que só comunicaria sobre o encontro a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e o líder da minoria da Câmara, o deputado José Guimarães (CE). Não pretendiam fazer grandes divulgações. Mas, pelo sim, pelo não, o fotógrafo Ricardo Stuckert, oficial do Instituto Lula, registrou o momento, que vazou na imprensa hoje.