Tarifa de Trump afeta exportações do Sul do Brasil
Levantamento da FGV aponta que apenas 4% das exportações de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ficarão isentas da taxação

Eduardo Pinzon
A nova política tarifária anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atinge em cheio a região Sul do Brasil. Segundo levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apenas 4% das exportações de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ficarão isentas da taxação.
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Juntos, os três estados movimentam mais de US$ 5,1 bilhões em exportações para os EUA. Desse total, somente US$ 205,82 milhões não serão taxados. Santa Catarina é o estado mais impactado: 99,3% de suas exportações, avaliadas em US$ 1,74 bilhão, serão tarifadas. No Paraná, o percentual chega a 97,3%, enquanto no Rio Grande do Sul, 91,8% das vendas ao mercado americano serão atingidas.
O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, Flávio Ataliba, explica que a situação do Sul é delicada. "No nosso nível de análise, consideramos um risco médio. Temos uma exposição menor que o Sudeste, mas maior que o Nordeste. Por outro lado, há uma mão de obra mais qualificada e produtos com maior valor agregado", afirmou.
Embora o tarifaço tenha sido suavizado em algumas regiões, a distribuição dos benefícios foi desigual. O Centro-Oeste foi o mais favorecido, com 33,9% das exportações isentas. O Nordeste aparece em seguida, com 30,3%.
Mesmo assim, lideranças da região nordestina alertam para impactos. "O Ceará exporta 44% para os Estados Unidos, no setor metalúrgico e de pesca. A Paraíba será atingida nos setores de couro, calçados e alimentos. Em Pernambuco, a fruticultura vai sofrer. O Nordeste, mais uma vez, está sendo alvo de uma política que não é boa para a região", criticou Cassiano Pereira, presidente da Federação das Indústrias da Paraíba.
No Rio Grande do Sul, o setor calçadista é um dos mais afetados. A indústria gaúcha é a maior exportadora de calçados do país, com linhas exclusivas para o mercado americano. Haroldo Ferreira, presidente da Abicalçados, alerta para os riscos. "Não é simples realocar essa produção. Só no nosso setor, esse tarifaço pode desempregar oito mil pessoas diretamente. Na cadeia toda, o impacto pode ser o triplo", estimou.
A associação de indústrias pesqueiras também se manifestou. Segundo a entidade, 35 empresas e 20 mil trabalhadores podem ser atingidos por cortes e paralisações no país.