Queda de alimentos acelera e IPCA sobe menos que o esperado em julho apesar de energia elétrica
No acumulado de 12 meses até julho, o IPCA teve alta de 5,23 por cento

Reuters
A inflação brasileira ficou bem abaixo do esperado em julho, quando a queda dos preços dos alimentos compensou o peso da energia elétrica, levando a taxa em 12 meses a desacelerar, depois de o Banco Central indicar manutenção dos juros por período bastante prolongado.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,26% no mês passado, após alta de 0,24% em junho, resultado que ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,37%.
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Os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a taxa acumulada em 12 meses passou a subir 5,23%, de 5,35% em junho, contra expectativa de 5,33%.
Ainda que essa tenha sido a taxa mais baixa desde fevereiro (+5,06%) nessa base de comparação, a inflação permanece acima da meta contínua -- 3,0% medida pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
No final de julho, o Banco Central decidiu interromper o ciclo de alta nos juros básicos ao manter a Selic em 15% ao ano, ressaltando que antecipa a manutenção da taxa nesse patamar por período "bastante prolongado".
Para isso, o BC citou expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho.
Pesam ainda sobre o cenário as incertezas relacionadas à tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. O BC apontou que a política tarifária dos EUA torna o cenário mais incerto e adverso para o Brasil, ressaltando que sua atuação focará nos mecanismos de transmissão do ambiente externo sobre a inflação local.
Na segunda-feira, o presidente da autarquia, Gabriel Galípolo, chamou atenção para uma visão crescente entre economistas de que a alíquota elevada impõe risco de desaceleração da atividade no Brasil.
Energia elétrica
Em julho, o maior peso sobre o IPCA foi exercido pela energia elétrica, com alta de 3,04%, levando o grupo Habitação a subir 0,91%. No mês, predominou a bandeira tarifária vermelha patamar 1, o que significa adicional de R$4,46 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. O resultado reflete ainda reajustes em concessionárias.
“De janeiro a julho, energia elétrica residencial acumula uma alta de 10,18%. Essa variação é a maior para o período janeiro a julho desde 2018, quando o acumulado foi de 13,78%.”, disse Fernando Gonçalves, gerente do IPCA.
Segundo ele, sem a contribuição da energia elétrica, o resultado do IPCA de julho seria de uma alta de 0,15%.
Já o grupo Transportes acelerou a alta a 0,35% em julho, de 0,27% no mês anterior, impactado pelo aumento de 19,92% das passagens aéreas. Os combustíveis, por sua vez, recuaram 0,64% em julho, com quedas nos preços do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).
Por outro lado, o grupo Alimentação e bebidas registrou queda de 0,27% nos preços em julho, após recuo de 0,18% em junho. Sem a contribuição dos alimentos, a inflação seria de 0,41%, segundo o IBGE.
A alimentação no domicílio recuou 0,69%, com destaque para batata-inglesa (-20,27%), cebola (-13,26%) e arroz (-2,89%).
Atenção
A inflação de serviços segue como ponto de atenção, dada a resiliência do mercado de trabalho no Brasil e a renda elevada. Em julho, a inflação de serviços acelerou a 0,59%, de 0,40% no mês anterior, sob o peso principalmente das passagens aéreas, segundo maior impacto individual no índice do mês. Em 12 meses a inflação de serviços chegou a 6,01%.
O índice de difusão, que mostra o espalhamento das variações de preços, teve em julho queda para 50%, de 54% no mês anterior.
Para agosto, os preços da energia seguem no foco, uma vez que foi acionada a bandeira tarifária vermelha patamar 2 para as contas de luz, com adicional de R$7,87 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
No entanto, a pressão sobre os consumidores de energia em agosto tende a ser aliviada pelo crédito que cairá nas faturas do mês referente ao "Bônus de Itaipu". A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou R$883,07 milhões para o mecanismo este ano, reduzindo custos no mês para consumidores residenciais e rurais.
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O bônus de Itaipu é um valor distribuído aos consumidores todo ano após apuração do saldo registrado na conta de comercialização da energia da usina hidrelétrica binacional no ano anterior.
A mais recente pesquisa Focus do BC mostra que a expectativa do mercado para a inflação vem diminuindo, com projeção de que o IPCA encerre este ano com alta de 5,05%, com a Selic a 15%.