Dólar bate recordes de alta: qual o papel do Banco Central nesse cenário?
Em meio a críticas do presidente Lula, especialistas consultados pelo SBT News analisam o que a instituição pode fazer
Após três altas seguidas, o dólar chegou a R$ 5,70 e fechou a terça-feira (2) em R$ 5,66, o seu maior valor em dois anos e meio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que a alta da moeda americana preocupa, e que existe um “interesse especulativo contra o real”. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, atribuiu a subida a “ruídos”.
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Em meio a especulações e ruídos, o que o Banco Central (BC), cujo presidente Roberto Campos Neto vem sendo alvo de críticas do presidente petista, pode fazer para estabilizar a moeda americana no Brasil?
O pesquisador e economista Felipe Queiroz analisa que o BC pode atuar em duas frentes para tentar combater a alta do dólar: pela política monetária e pela política cambial.
“Na política monetária, algumas ações já foram tomadas, como restringir o ciclo de corte da taxa Selic. Atualmente, nós temos uma das maiores taxas de juros do mundo. Isso contribui para que, especialmente o capital que venha aplicar em títulos e bolsa, tenha uma atração maior ao mercado local. Por outro lado, há uma consequente preocupação em relação se o governo terá condição de honrar seus compromissos”, explica.
Pela política cambial, Felipe afirma que, entre as ações, estão os swaps cambiais, onde o governo atua oferecendo contratos de câmbio no mercado futuro, contribuindo para que haja um arrefecimento dos ânimos e uma possível estabilização da queda na taxa de câmbio.
Ambiente de incertezas
Professor da Universidade Estadual do Ceará e Conselheiro Federal de Economia, Lauro Chaves Neto vê a atual situação do dólar no Brasil como um somatório de componentes do ambiente interno e externo. Lauro analisa que, externamente, o principal problema da variação cambial se deve à perspectiva de alta da taxa de juros americana.
“Quando você tem juros americanos maiores, eles sugam o capital que está aplicado em todos os outros países do mundo, especialmente os emergentes. Então, na hora que a taxa de juros americana deixa de cair, ela tem uma perspectiva de elevação e isso faz com que parte dos capitais internacionais que estavam no Brasil, tomem o destino de títulos do tesouro americano”.
Sobre o ambiente interno, o economista explica que duas grandes questões têm afetado a a variação cambial. A primeira delas é a incerteza fiscal.
“Nós tínhamos uma lei de responsabilidade fiscal. Ela foi substituída pelo novo arcabouço fiscal, mas nada do que foi prometido em termos de gestão das contas públicas tem sido cumprido”, afirma.
“Nós temos um déficit grande, em um patamar que não era previsto. Isso aumenta a dívida pública e a necessidade de financiamento interno do governo, o que gera incerteza e, consequentemente, aumento do dólar”.
A segunda questão apontada por Lauro é sobre a independência do Banco Central, cuja principal tarefa é garantir a estabilidade da economia, uma condição necessária, porém não suficiente, para o desenvolvimento do Brasil.
“Não é que a estabilização vai garantir o desenvolvimento. Mas sem a estabilização, com o risco de volta da inflação, você com certeza não terá desenvolvimento. Então, a soma do componente interno com o componente externo faz com que a taxa de juros, com a taxa cambial, tenha essa variação”.
Lauro e Felipe explicam que as grandes reservas que o Brasil possui fornecem segurança em relação à situação. E internamente, acrescenta Lauro, “nós deveríamos buscar um maior equilíbrio fiscal e uma melhor gestão das contas públicas para diminuir essa incerteza”.