PIB surpreende, inflação abaixo do previsto. O que explica os bons resultados?
PIB mais alto do que o esperado; inflação no IGP-M muito abaixo do que se previa. Economistas analisam.
Guto Abranches
Os números da economia brasileira mais recentes tem levado surpresa à boa parte dos analistas, investidores e empresários. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9% no primeiro trimestre do ano, em comparação aos três meses imediatamente anteriores. O meio econômico-financeiro tinha projeção de avanço de 1,3%, na média. Quando comparado ao primeiro trimestre de 2022, a expansão foi maior: 4,0%, também deixando para trás a estimativa do mercado, de cerca de 3,0%.
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Foi o anúncio sair e a Bolsa de Valores dar nítidos sinais de aprovação: naquela quinta-feira (01.jun) a bolsa brasileira subiu 2,06% até os 110.564 pontos. Na gangorra financeira, o dólar cedeu 1,37% pra ser cotado a R$ 5,00. Os ecos desses movimentos reuniram potencial para se fazerem presentes nos pregões seguintes. Claro que o cenário externo também ajudou, acordo para a expansão do teto da dívida americana foi importante. Mas os indicadores domésticos foram definidores.
A colaborar
O mercado de trabalho também reservou boas notícias. Pelo Ministério do Trabalho, o Caged apontou geração de 180 mil postos formais em abril, 700 mil desde o início do ano. E a Pnad do IBGE revelou desemprego de 8,5% também em abril, marca inferior a de março.
E tinha mais. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), tinha apontado deflação de 1,84% em maio, o dobro do mês anterior. E quase quatro vezes mais intensa do que o esperado pelo mercado. Neste caso, como se trata de índice de custo de vida, é bom lembrar que mesmo que seja muito abaixo do que espera o meio financeiro e econômico, é bom sinal para a vida social.
Os porquês
Economistas de peso observam os números e as tendências para a continuidade do ano e interpretam um início de 2023 surpreendente. Mesmo que alguns indicadores já apontassem para melhoras há algum tempo. "Quem acompanha inflação no Brasil já tá vendo que há uma desinflação acelerada. É uma inflação diferente das outras, no Brasil e no mundo", diz o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e Ministro das Comunicações. Ele salienta que houve uma preparação importante para uma forte recessão...que não veio. Naquele momento, houve aumento de gasto público para fazer frente à paradeira geral na economia. Na leitura de Luiz Carlos, a descobert das vacinas, a volta do consumo sobretudo de serviços e a Guerra da Ucrânia que puxou a cotação do petróleo para o alto, geraram um "choque de inflação" que está se desfazendo agora. "Ainda mais com o dinheiro abundante que circulou a partir do gasto público. A inflação que era do atacado - os preços subiram 20% - rapidamente voltou via varejo, consumo das famílias. O preço da soja caiu 30% em 12 meses, virou inflação negativa, deflação", completa ele.
Veja a seguir a íntegra da entrevista com Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Efeito Agro
A menção ao agronegócio tem mais significados. "A super safra de grãos era esperada mas surpreendeu ainda mais", aponta Zeina Latif, economista e sócia da Gibraltar Consulting. Nos números do PIB fica explícito: a alta de 21,6% foi muito acima do esperado.
"Claro que começando tão forte, isso puxa a projeção do ano, por isso que tá todo mundo revisando os números pra cima para o ano de 2023" - Zeina Latif
No gráfico abaixo, produzido pela Mendonça de Barros Agro, a presença forte do setor que tem puxado a economia brasileira.
" Com a surpresa da agropecuária no primeiro trimestre, elevamos nossa projeção para o PIB do ano a 2,1%", revela Fernando Honorato Barbosa, economista-chefe do Bradesco. Mas para o restante do ano é outra conversa, avisa ele. " Os bons resultados do mercado de trabalho, o aumento da renda agrícola e os programas de transferência de renda também ajudam a explicar essa resiliência da demanda. Para o restante do ano, parte dos efeitos do primeiro trimestre se dissipam, levando a uma desaceleração gradual da economia", diz.
Pibão?
Para Mendonça de Barros, o PIB de 1,9% no primeiro trimestre é uma miragem.
" O que aconteceu é que o 1º TRI do ano é quando o Brasil colhe a safra de grãos, 80% dela. Se colhe e se estoca. Então hoje você tem a maior safra que já tivemos, toda dentro dos silos. O IBGE, quando calcula o crescimento do PIB, ele calcula o aumento dos estoques. Desse 1,9% pelo menos 1,2% foi o aumento dos estoques que vão ser consumidos ao longo do ano. No 2º TRI você vai ter a redução dos estoques e vai normalizar o PIB, para aquilo que se esperava, 0,7% ou 0,8%. Nesse trimestre vc tinha que pegar 1,9% e multiplicar por quatro. Isso não existe. Tem que pegar 0,5% ou 0,6% e projetar no ano todo. Se feito assim, cresce 2,0 % ou 2,5%. Tá bom, melhor que o 0,8% que nós tivemos.
Surpresas e mistérios
A economista Zeina Latif atualiza ainda quais as questões e possibilidades que andam pelo meio econômico. E até as perguntas por responder tem lá sua validade. " Tem uma discussão entre os economistas do tipo "será que essas reformas todas que foram retomadas estão ajudando a aumentar o potencial de crescimento do país?", revela Zeina. Por mais que não se saiba exatamente o que é 'o agro', ou impulso das políticas de transferência de renda do governo e o que é algo mais estrutural na economia, ela confia em aspectos que tendem a ser positivos para o país. " O BC vai começar a cortar juros mas com calma. Tem muita pressão de custo pra ser repassada na economia. O debate de que o pior da inflação já passou é verdade", completa.
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