Mercado financeiro nacional "comemora" inflação abaixo do esperado e dispara
Ibovespa passa os 106 mil pontos, alta de 4%; dólar foi na contramão e chegou a ficar abaixo de R$ 5
Guto Abranches
A bolsa de valores de São Paulo nem tentou disfarçar: foi ver a marca do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que mede a inflação oficial do país, e só fazer subir. No fechamento desta terça-feira (11.abr), o Ibovespa marcou alta forte de 4,29%, aos 106.216 pontos, maior marca desde fevereiro.
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Entre os analistas e investidores não houve qualquer receio em classificar o indicador da inflação como "surpreendente": veio abaixo da expectativa do mercado financeiro. Leia-se: inflação abaixo do esperado, quer dizer resultado melhor do que o esperado para a vida real. Ainda que entre as máximas dos investidores e analistas resida aquela que orienta que o "mercado financeiro não suporta surpresas: nem as boas".
O IPCA em março veio com alta de 0,71% - bem abaixo dos 0,84% de fevereiro. Para o período de 12 meses, a inflação oficial apurada pelo IBGE estoca agora 4,65%, contra os 5,60% medidos no mês anterior. É a primeira vez em que o índice fica abaixo de 5% em mais de dois anos.
Parte pelo todo
Além do dado em si, soma-se ao cenário de análise as interpretações dos economistas e da gente do mercado. Não foram poucas as vozes a apontarem no custo de vida "crescendo menos", como um efeito direto da taxa de juros, a Selic, que está oficialmente em 13,75% desde agosto do ano passado. Em que pesem as críticas - e até os ataques diretos, inclusive do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução da política monetária pelo Banco Central - , ao que parece os rumos da inflação começam a apontar a convergência no sentido de cumprir as metas estipuladas as pressões de preços. Mas seria só um primeiro movimento. Nada há que garanta desde já que os preços ficarão no enquadramento pretendido, muito ao contrário, ainda mais em 2023. Mas o fato é que a dose abundante do remédio amargo dos juros indica ao menos o início de um possível fim de ciclo dos juros - tão - altos.
"O motivo principal dessa alta é o dado de inflação que veio melhor do que o esperado. Apesar de o índice cheio ter vindo só um pouco melhor do que o esperado, os núcleos de inflação, quer dizer, aqueles dados que retiram os itens mais voláteis, e pegam o grosso da inflação mesmo, aqueles itens mais sensíveis a política econômica, à atividade, esses itens mostraram uma desaceleração importante, que mostra que a política monetária já está sendo eficiente pra desaquecer a economia", analisa Marília Fontes, sócia da Nord Research.
Confira no gráfico abaixo a evolução do Ibovespa no dia.
Constatada a ação efetiva dos juros sobre os preços, segue-se o segundo ponto em observação pelos especialistas: a possibilidade de o ciclo de juros altos estar chegando ao fim. Não há analista que se manifeste com certeza absoluta quanto a um corte nos juros básicos na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central, que acontece nos primeiros dias de maio. Mas que já começa a surgir algum sinal no horizonte, ah, isso começa. A conferir.
Arcabouço Fiscal
Ainda no sentido de vir " pra ajudar", o cenário doméstico gostou de discutir também a - boa - chance de a nova regra fiscal ser enviada ainda esta semana, ao Congresso. Palavra do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Tudo somado, o mercado comemorou o cardápio de notícias do dia com números pra lá de positivos. O fechamento marcou o melhor índice desde outubro do ano passado.
Abaixo a repercussão entre analistas de mercado.
Marília Fontes, sócia da Nord Research
"Como a desaceleração dos núcleos tá acontecendo, a gente já pode começar a vislumbrar um ciclo de queda da Selic ainda pra esse ano, porque a gente vê que essa taxa de juros já está num nível bem restritivo. Então frente a este cenário de possível ciclo de queda das taxas de juros, o mercado se animou com a bolsa. A bolsa na real são lucros futuros descontados a valor presente, e aí quando a taxa de juros cai, o preço das ações vale mais. Então o que tá acontecendo com a bolsa nesse momento é que com um pouco mais de convicção, o mercado está vislumbrando um ciclo de queda da Selic ainda este ano, e isso faz com que o pessoal fique bem otimista com as ações que estavam em patamares bem baratos. Se comparados aos últimos anos, às últimas décadas, fazia tempo que a gente não via tão barato assim."
André Perfeito, economista e consultor
"Compre ao som dos canhões; venda ao som dos violinos" - André Perfeito
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