Pequenas e médias empresas também devem seguir parâmetros ESG
Sebrae atualiza portfólio de cursos e consultorias para atender demanda do mercado
Pablo Valler
Se as bolsas de valores e as grandes empresas é que lidam diretamente com ESG, analisando seus impactos no meio ambiente, na sociedade e na governança, o que um microempreendedor individual, por exemplo, tem a ver com isso?
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Tudo. Apesar de que os próprios MEIs tem muitas dúvidas sobre sua participação nesse movimento. Foi assim com a Suelen Borelli. Formada em Recursos Humanos e com ampla experiência em multinacionais, ela achou que, ao empreender, se destacaria logo. Mas, além da dificuldade em empreender no Brasil, com todas as mazelas sobre conseguir crédito, desenvolver um produto ou serviço de baixo custo e alto rendimento, além de todas as taxas e impostos, ela encontrou outra exigência de mercado que deveria ficar atenta, o ESG.
"É uma jornada. Mas, é uma jornada que a gente tem que trilhar. Senão você não se conhece, não se desbrava. Empreender é um desbravamento. Conforme fui participando de palestras, tendo conversas com alguns consultores do Sebrae, também fazendo minha parte de pesquisar mais sobre outros assuntos, fui começando a da forma para toda aquela ideia. Porque por mais que, às vezes, a gente tem uma experiência só vivendo mesmo a experiência do próprio empreender, que você percebe que tem oportunidades que você não enxergava", conta ela em tom de cansaço e gratidão ao mesmo tempo.
Suelen descobriu que as pequenas empresas são indiretamente influenciadas pelos parâmetros ESG. Apesar de não estarem listadas nos índices de sustentabilidade do mercado financeiro, prestam serviços para as empresas que são. Só por isso, aparecem nos relatórios das mesmas e também precisam impactar positivamente o meio ambiente, a sociedade e a governança.
A exigência é um desafio e uma oportunidade porque a empreendedora percebeu que, apesar de ter que se dedicar mais, também poderia se diferenciar no segmento em que atua. Ela vende treinamento e software para uma gestão mais eficiente. Com o ESG, ampliou o que oferece aos clientes, incluindo informações dessa nova tendência.
"É legal o caso da Suelen porque ela traz um retrato do empreendedor, que se transformou sobre a ótica ESG. Tem um propósito, mas, também ficou atenta às oportunidades, que o mercado está aí dando", considera Tiago Antunes, gerente de negócios ESG do Sebrae.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) teve que se atualizar para oferecer a consultoria baseada na sustentabilidade: "Nós tínhamos algumas soluções para atender essa temática no Sebrae São Paulo. Agora, outras unidades também fizeram um trabalho dentro do seu portfólio e estão construindo, tem muita coisa boa por vir ainda de solução para poder aproximar esse pequeno empresário".
A influência do ESG nas pequenas e médias empresas é tema do FOCO ESG desta 4ª feira (01.fev), disponível no SBT News, no SBT Vídeos e em todas as plataformas de videocast e podcast.
Confira a entrevista no videocast Foco ESG:
Confira a entrevista completa em texto:
Pablo: A gente sabe que o ESG impacta totalmente as grandes empresas e, principalmente, aquelas listadas na bolsa de valores, por causa dos parâmetros para avaliar elas. Quando a gente fala de médias e pequenas empresas... tem gente que pode estranhar: ué, mas, se eu não estou listado em bolsa, preciso ser ESG? É que existe uma influência das grandes para essas médias e pequenas, né? Você pode explicar para o pessoal que nos acompanha entender bem?
Tiago Antunes: Claro, vamos lá! Olhando sobre a ótica da pequena empresa, né? Ela é por dois caminhos, entre aspas, pressionada a olhar para essa agenda. O primeiro deles é quando participa da cadeia da grande, como você colocou. Então, o ESG vem forte para a grande e essa prática, esse compromisso e essa percepção de impacto transborda as paredes da grande empresa para sua cadeia. Fornecedores, distribuidores e até mesmo clientes. Nesse contexto, tendo em vista que as MPEs representam, no Brasil, 99% das empresas constituídas, é um número bastante expressivo. Então, a grande certamente tem uma grande proporção de MPE na sua cadeia. Não tem como falar de ESG sem contemplar a pequena empresa dentro dessa cadeia. Esse é um caminho. O outro é o perfil do consumidor, que tá mudando. Então, são dois grandes caminhos e, nesse meio, a pequena está sentindo né? Se ele é fornecedor de uma grande empresa ou de produtos finais e tem seu cliente olhando essa agenda, olhando para as práticas sustentáveis, são dois caminhos. E também quando esse grande empresário exige algumas condições de impacto positivo, não é da boca para fora.
Pablo: Também acho importante falar isso. Porque esse grande empresário, em seu relatório ESG, vai ter que colocar informações sobre quem fornece para ele. Então, é sério o negócio.
Tiago Antunes: Exatamente. Ele tem um compromisso com seus investidores. Mas, além dele, eu contratei isso com a sociedade. Porque impacta todos os stakeholders. A economia deixou de ser de gerar valor apenas para quem investe. Também passou a ser a economia dos stakeholders. Então, essa grande empresa tem esse compromisso. Relata e monitora isso através de metodologias para que tenha condições de avançar, eliminar impacto ruim ou potencializar o impacto bom. Então, ela precisa garantir que que o pequeno, seja serviço ou indústria também tenha a prática. Aí a gente tem percebido esse grande movimento com a grande. Incentivando, apoiando essa pequena ao longo da cadeia para que ela possa também incorporar as suas práticas, do seu sistema de gestão as práticas ambientais, sociais e de governança... E, se por acaso não atender, a gente sabe o que pode acontecer, né?
Pablo: Você aí que nos assiste, que nos ouve, já sbe, né? Perder cliente. Ninguém quer! De que forma estão posicionadas, hoje, as nossas médias e pequenas empresas?
Tiago Antunes: Então, nesse cenário ESG é importante... Antes de responder sua pergunta.. É dizer que no final do dia, Pablo, a empresa quer sobreviver. Ela precisa de resultado. Muitas vezes é um empreendedor sozinho, 100% do esforço dele ou com, no máximo, um empregado ali. Então, no final do dia, esse é o principal objetivo dessa pequena empresa. No cotidiano as empresas estão começando a perceber que... Bom, se eu tiver práticas ambientais corretas, sociais e também de governança, eu tenho condições de fortalecer o relacionamento comercial que eu tenho com quem prioriza isso, com quem tem esse essa ótica, e também aproveitar espaços de mercado que o meu concorrente, por exemplo, não conseguiu enxergar. Então, é importante que ela entenda isso. Quando entende, percebe: bom, eu preciso me organizar, criar condições e práticas para que não perder competitividade. Então, nós costumamos afirmar que a sustentabilidade, o ESG, é um novo modelo de gestão, de negócio. E isso, sem sobre dúvida, precisa estar no cotidiano desse pequeno negócio.
Pablo: Não é só mais um tópico para eu ficar de olho. É o tópico. Surgiu acima de todos, influenciando tudo na empresa?
Tiago Antunes:Exatamente, um novo modelo de fazer negócio. É o novo modelo de entender que, por mais pequeno que eu seja, causo impacto ambiental e social, em governança. Quando eu não cumpro com os meus compromissos, quando eu não faço meu compliance, né? Todas as minhas obrigatoriedades fiscais, tributárias, trabalhistas, então, isso passa a ser integrado a um negócio e não um tópico a mais que eu preciso me atentar. Eu preciso olhar para isso. Isso faz parte integral do novo sistema de gestão.
Pablo: Eu sempre gosto de perguntar algo sobre o dia-a-dia, até para que o pessoal que nos acompanha se identifique com alguma situação. Fica mais fácil entender. Como é que você repara nesses empreendedores a forma que absorvem o conteúdo ESG.
Tiago Antunes: Sim, nós costumamos sensibilizar esse pequeno empresário. Dizer que quando ele utiliza as práticas sustentáveis voltadas à agenda ESG, consegue ser competitivo. Porque a simples prática de você, por exemplo, criar mecanismo para reduzir a sua conta de energia ou melhorar o consumo de água ou reduzir o consumo de papel ou mitigar emissões, isso gera economia no final das contas. Vamos falar de uma padaria para dar um exemplo mais concreto. Se eu começo a olhar para dentro do meu do meu processo de produção, identificar formas de gestão e mecanismos em que eu elimine o consumo de energia e utilize realmente o que precisa, eu consigo utilizar a água de uma maneira mais racional, no final das contas eu sou mais competitivo. Então, esse é um caminho que nós buscamos dentro do Sebrae, de mostrar para esse pequeno empresário que ser sustentável é ser competitivo. Ser competitivo aumenta suas margens, aproveitando aquele público que identifica e entende valor no seu produto ou serviço prestado com essas práticas. Acho que não vai levar muito tempo para todo mundo entender que sustentabilidade não tem só a ver hoje em dia com meio ambiente é para sustentar o seu cliente junto com você, é para sustentar o seu caixa. Sempre com as contas em dia.
Pablo: Inclusive, acredito que vocês no Sebrae, para passar a atender quem procura vocês com essas informações, também tiveram que se preparar. Como foi isso?
Tiago Antunes: Exato, nós temos no Sebrae o Centro Sebrae de Sustentabilidade. Fica em Mato Grosso. É nossa referência técnica no tema. Muitos dos conhecimentos gerais e de sustentabilidade dentro da nossa rede surgem lá. Tendo em vista esse movimento, nesses últimos dois anos podemos começamos a perceber que o Sebrae precisa também fazer com que cada vez mais esse tema chegue ao pequeno e buscar o conhecimento, investir em capacitação. Recentemente, um grupo de segurança em São Paulo fez cursos para que pudesse se organizar nisso. O Sebrae São Paulo também acabou de construir uma Comissão de Sustentabilidade para tratar desses aspectos e passou a integrar, agora em 2023, a Rede Brasil do Pacto Global, com o compromisso de, como instituição, alinhar toda a sua estratégia aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveil, as 17 ODS. O Sebrae se movimentou e estamos preparados. Para contribuir com o pequeno, para criar alianças com a grande, com outras instituições. Nós acabamos de criar uma aliança para chegar com esse tema desde a grande multinacional até o pequeno, que hoje é um microempreendedor individual. Ninguém pode ficar de fora dessa agenda. E aí tá o nosso desafio. O Sebrae quer atender, em 2023, aproximadamente um milhão de micro e pequenos empreendedores. Disseminar essa informação para que possam internalizar e impactem positivamente na sociedade, no meio ambiente, dentro desse ecossistema ESG.
Pablo: Para quem nos acompanha entender, as 17 ODS, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU são objetivos para que a gente, até 2030, consiga mitigar os gases de efeito estufa e manter o nosso planeta saudável. Pronto. Tiago, também acredito que vocês acabaram fazendo cursos para poder repassar. Vocês estão montando até novas consultorias, adaptando outras, porque como a gente sabe o ESG tá em tudo.
Tiago Antunes: Aconteceu uma curadoria do nosso portfólio. Nós tínhamos algumas soluções para atender essa temática no Sebrae São Paulo. Agora, outras unidades também fizeram um trabalho dentro do seu portfólio e estão construindo, tem muita coisa boa por vir ainda de solução para poder aproximar esse pequeno empresário. Temos previsto novas linhas de solução individual e coletiva, online, EAD, para dar acessibilidade a todos aqueles que precisam entender essa importante temática.
Pablo: Inclusive, a gente tem aqui um exemplo. Eu ia usar até a palavra aluno. Não deixa de ser. Porque a gente está sempre buscando aprender e foi isso que a Suelen boreli fez. Ela que já era empreendedora há algum tempo, não é Suelen? Bem-vinda.
Suelen Borelli: Obrigada.
A Suelen trabalhou em grandes empresas e depois começou a se aventurar a ter um negócio próprio. Aí ela foi sentindo algumas dificuldades. O que é bastante comum. Procurou o Sebrae, não é, Suelen? Aí como é que foi a sua experiência.
Suelen: Queria ser mais do que uma gestora. Também ter uma governança bem feita. Porque a gente passa tanto tempo num cenário controlado, que a gente se torna especialista no que faz. E acaba se enganando, achando que dá conta porque sabe sobre aquilo: não eu vou dar conta, vou para o mercado e vai acontecer... Porém, dado momento você percebe que você é só o especialista. A bola do seu jogo é com você, mas, existe todo um campo para ser explorado. E aí entra aquela questão: reconhecer que não sabe, né? Até que tomei conta de saber mais sobre o Sebrae. Sabia do renome, mas não sabia o que exatamente fazia. Algumas pessoas também indicaram. Na época eu busquei o Sebrae de Piracicaba. E aí foi onde comecei a ter as primeiras orientações, informações sobre possibilidades
Pablo: E como foi seu encontro com essas informações todas, incluindo o ESG.
Suelen: É uma jornada, Pablo. Mas, é uma jornada que a gente tem que trilhar. Senão você não se conhece, não se desbrava. Empreender é um desbravamento. Conforme fui participando de palestras, tendo conversas com alguns consultores do Sebrae, também fazendo minha parte de pesquisar mais sobre outros assuntos, fui começando a da forma para toda aquela ideia. Porque por mais que, às vezes, a gente tem uma experiência só vivendo mesmo a experiência do próprio empreender, que você percebe que tem oportunidades que você não enxergava. Porque você tava no cenário controlado. Todas as informações, no meu caso, moldaram o meu tipo de negócio. O ESG a gente meio que já vive, querendo ou não, em multinacional por conta das ISOs. Trabalhei muito tempo com segurança do trabalho, então, mesmo que o termo tenha ficado um pouco mais refinado, a essência, a filosofia do termo a gente já via isso na indústria. A grande [empresa], por um motivo, faz o que precisa ser feito. O baque foi mesmo por conta do achômetro: eu sei fazer, eu vou vender o que eu sei e vai dar tudo certo. Então, o ESG acabou vindo um pouquinho mais tardio. Mas, a essência eu sempre tive comigo.
Pablo: Tiago, um exemplo do que a gente tava falando. Legal a Suelen assumir isso: eu achei que tava com meio caminho andado, porque via meu horizonte, sabia onde queria chegar. Mas, pode ser que existam relevos e obstáculos para ela passar, né? Como é a realidade para esse empreendedor?
Tiago: Então, Pablo, é legal o caso da Suelen porque ela traz um retrato do empreendedor, que se transformou sobre a ótica ESG. Tem um propósito, mas, também ficou atenta às oportunidades, que o mercado está aí dando.
Pablo: ESG também é uma oportunidade de negócio e foi o que ela fez. Ela remodelou o negócio, ajustando para atender essa agenda.
Tiago: Isso é muito é comum com aqueles empreendedores atentos. Sobretudo, a Suelen tem estado atenta aí a toda essa dinâmica que tem acontecido.
Pablo: Pois é, o mais interessante é que nesse processo você, inclusive, acabou mudando a ideia de negócio. Mais do que isso, tornou o ESG seu foco de negócio. Quero que você conte pra gente qual empresa era essa que você tinha e qual que tem agora.
Suelen: Quando eu trabalhava na indústria, a gente sempre se envolvia com procedimento, desenvolvimento de pessoas. Tenho formação em Gestão de Recursos Humanos. Eu queria, à princípio, vender treinamentos porque foi o cenário que vivi mais de uma década. Desenvolvendo pessoas, procedimentos. A gente contratava pessoas, empresas e, muitas vezes, não tinha uma qualidade em uma apresentação de competências ou fornecedores. Por isso tinha aquele achômetro mesmo, tipo: se eu sei fazer bem isso, sou bem quista na indústria, eu gostaria de empreender com isso. Mas eu não tinha a visão de mercado. Foi com essa proposta de vender treinamento, segurança do trabalho, recursos humanos que eu encontrei a realidade e, como mencionei, busquei o Sebrae e comecei a ter informações como um quebra-cabeça, que precisava ser montado. Nesse quebra-cabeça, a principal peça também era eu, né? Quem eu sou realmente? Eu vou dar conta de fazer tudo isso? Quando você se dá conta do cenário, você se assusta. Eu cheguei a fazer uma feira de empreendedorismo com o apoio do Sebrae, em Limeira (SP). O Sebrae sempre esteve em paralelo, apoiando em alguns movimentos, justamente porque são fomentadores. Porém, o empreendedor não pode apenas ficar a mercê ou depender de uma instituição, ele tem que fazer a parte dele, tem que se encontrar, estar disposto a mudar. Foi o que fiz. Logicamente que não foi de uma hora para outra. Mas, definindo o segmento que eu queria, que era de gestão empresarial, que faz parte da minha zona de genialidade, que é onde me sinto tranquila, você identifica no mercado se existe aquela necessidade. Pelas estatísticas, a falta de gestão empresarial é um dos motivos de mortalidade no nosso país. Então, o que eu sei fazer é uma necessidade de mercado. Porém, preciso transformar isso num produto viável.
Pablo: Isso é o que tô curioso, que produto é esse que você desenvolveu.
Suelen: Então, é de ESG, inclusive. Uma tecnologia. A gente tá em uma era de aceleração. A própria indústria 4.0 foi um fator que estava na minha mente. Olhar para a otimização do processo. Porque se você não otimiza, você não gera mais. A quantidade de informação é muito grande, então, eu decidi que eu só iria realmente empreender com algo 100% online, que tivesse uma tecnologia voltada à gestão. E aí eu comecei a desenhar, desenhar o protótipo. Uma das minhas habilidades sempre foi para o Excel também. O protótipo, inclusive, nasceu em Excel. Porém, toda a ideia do que entra, do que sai, eu já tinha vivência do empreendedorismo, então, isso facilitou construir algo voltado para o pequeno negócio. Pablo, não é só porque você tem um software de gestão, que acabaram seus problemas. Pelo contrário, agora você tem um lugar para colocar todas as coisas que você vai aprender, porque o movimento para o mercado exige mais. A parte da organização é metade do caminho. Se eu facilito isso, a pessoa vai focar no que é mais importante e é esse o nosso produto. Então, a gente tem um software de gestão empresarial. Eu construí um sistema de gestão que foca em organizar a casa e olhar para o mercado com base em dados. Então, ele agrega todas as informações, tudo o que tá na sua cabeça, para que se consiga ver oportunidades.
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