Reação do mercado é moderada após atos golpistas e bolsa sobe 0,15%
Analistas veem maior chance de reflexo negativo sobre ações no curto prazo; investimento estrangeiro preocupa
No primeiro pregão após os ataques terroristas ao Palácio do Planalto, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso Nacional, os investidores em bolsa aqui no Brasil puxaram os negócios para baixo já na abertura. O temor era ante a possibilidade de que o investidor estrangeiro, principalmente, fosse fortemente impactado pela repercussão internacional à violência em Brasília.
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O Ibovespa caiu 0,76% logo de início - uma baixa considerada moderada, no entanto. À espera do movimento do dia, os investidores focaram atenções sobre o cenário externo. " Independentemente de quem está no poder, instabilidade política, manifestações, instabilidade fiscal, afasta o capital estrangeiro. Já na pré-abertura de mercado, o índice que replica os papéis brasileiros em Nova Iorque, o EWZ, ele já rodava no negativo pautado pelo sentimento de mais risco Brasil", apontava no início do dia o sócio da Nexgen Capital, Felipe Izac.
A jogar a favor do prognóstico no mínimo zero a zero da bolsa brasileira, multiplicaram-se apostas de analistas dando conta de que os ataques à democracia podem acabar por fortalecer o novo governo: o saldo amplamente negativo das ações bolsonaristas na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios, a depredação do patrimônio público e as prisões de radicais em número relevante, parecem ter sido um balde de água fria no entusiasmo terrorista. Equivale a dizer que os investidores não areditam em escalada de novos atos terroristas depois do 8 de janeiro. A outra face do mesmo espelho, que dá musculatura ao Lula 3, é o enfraquecimento da oposição, na opinião destes analistas.
Andar da carruagem
E ao menos um aspecto é de constatação imediata: o golpe fracassou. Os Poderes da República estão atuando, o presidente eleito segue na chefia do executivo e os responsáveis pela arruaça golpista vão sendo identificados, responsabilizados e presos. Se o cenário positivo para a democracia será de curto prazo ou duradouro, é coisa do passar dos dias. Questão de tempo ver tais previsões confirmadas ou não. " Dia de surpresas no mercado financeiro, que acabou no território positivo após um início tenso", avalia Dany Rappaport, CEO da InvestPort.
O termo "surpresa" para ilustrar o movimento do dia faz mesmo sentido. Papéis de estatais brasileiras tiveram desempenho no azul: Petrobras PN (Petr4) subiu 0,16%; Petrobras ON (Petr3) + 0,14%. A bolsa fechou em alta de 0,15% aos 109.226 pontos.
"A despeito dos tumultos em Brasilia no domingo, os investidores brasileiros passaram a olhar com mais atenção as variáveis econômicas positivas do Brasil, como inflação para baixo e contas externas positivas, enquanto os investidores estrangeiros entraram 2023 otimistas para mercados emergentes" - Dany Rappaport
E, falando em estrangeiros, para o gasto imediato da segunda-feira (09.jan), empurrão importante veio mesmo do exterior. A reabertura das fronteiras chinesas ajudou a segurar o ímpeto da subida do dólar: o real chegou a ser a moeda mais impactada pelo dólar no dia, mas a volta chinesa botou um freio nas perdas. Fechamento em + 0,41% cotado a R$ 5,25 para a venda. "A reação dos mercados foi dentro do esperado: sem ruptura institucional com os ataques em Brasília e resposta de intervenção na segurança pelo governo foram importantes para uma alta moderada da Bolsa e limitar o dólar ainda abaixo de R$ 5,30". avalia Eduardo Velho, economista chefe da JF Trust gestão de recursos. Mas para o horizonte mais largo, a exigência vai ser bem maior na visão dele. Aí passam a pesar os fatores macroeconômicos e o equilíbrio fiscal é um deles.
" Será crucial que Haddad anuncie um bom ajuste fiscal até quinta-feira para sustentar a recuperação dessa bolsa e superar de vez 110 mil pontos. Esse é o desafio, pois a inflação tende a ficar mais elevada em 2023, acima da atual mediana do mercado. Estimo acima de 6% em 2023 e superior à 4% em 2024, portando acima das metas" - Eduardo Velho, JF Trust
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