Incêndios na Amazônia estão mais ligados ao agro do que à seca
Estudo reforça que é preciso agir contra o desmate ilegal e a grilagem de terras
O desmatamento e as queimadas em áreas agrícolas tem mais influência sobre os incêndios na Amazônia do que o tempo seco. A constatação foi do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e publicada na revista científica Global Ecology and Biogeography.
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Entre os focos das áreas queimadas, 32% deles surgiram em terras agrícolas dominadas por pastagens, 29% em campos naturais e 16% em áreas de florestas maduras.
"Detectamos que a agricultura, especialmente no Brasil, onde majoritariamente é pastagem, adota o fogo como técnica para renovação da vegetação, mas sem manejo adequado. Com isso, o risco de escapar e atingir a floresta é grande", avalia um dos autores, Marcus Vinicius de Freitas Silveira, doutorando na Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG-Inpe).
O número de incêndios acumulado dos nove primeiros meses deste ano, especialmente em agosto e setembro, foi o pior desde 2010, quando ocorreram 102.409 focos, conforme o Programa Queimadas, do Inpe. Além disso, a partir de 2019, as taxas de desmatamento atingiram os maiores patamares desde 2009, excedendo anualmente 10 mil km² de desmate, segundo o sistema Deter.
"A principal ação de curto prazo para diminuir o risco de incêndios florestais é extinguir o desmatamento ilegal e atacar os problemas de grilagem de terras", diz outra autora, Liana Anderson.
"Concomitante a isso, a capacitação e a disseminação de técnicas para manejo da terra livre do uso do fogo são cruciais para minimizar o risco crescente de grandes incêndios. Tanto a paisagem cada vez mais fragmentada como um clima mais quente e com menos chuvas levam ao aumento da flamabilidade", completa.
"Se pensarmos que o fogo é uma ferramenta de gestão das áreas abertas para a agricultura, seja de plantio ou de pastagem, percebemos que essa técnica coloca em risco não só a floresta e sua biodiversidade como também a própria evolução da agricultura na região para um sistema mais sustentável. A solução seria buscar um planejamento estratégico do uso da terra, que envolvesse vários níveis governamentais e da sociedade, incluindo treinamento de pessoas e facilitação para o uso de técnicas mais avançadas", diz Luiz Eduardo Oliveira e Cruz de Aragão, chefe da DIOTG-Inpe que também assina o estudo.