Inflação ao consumidor nos EUA sobe 0,4% em setembro, o dobro do esperado
Especialistas falam em duas altas seguidas nos juros até o fim do ano; taxa pode ir a 5,00% em fevereiro
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Os números da inflação americana não cansam de impactar o humor dos analistas e investidores do mercado financeiro. E, considerada a amplitude dos negócios -- e de suas consequências -- atingida pela maior economia do mundo, pode-se falar sem rodeios em uma preocupação mundial. Desta vez foi a inflação ao consumidor, o CPI na sigla em inglês. O indicador veio acima do esperado para setembro -- na véspera (12.out), tinha sido a vez da inflação ao produtor (PPI) assustar.
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Na avaliação mensal, o CPI em setembro subiu 0,4%, frente a agosto. "A inflação nos EUA veio o dobro do esperado. A projeção mediana era de 0,2% e a anterior era 0,1%. Contudo veio em 0,4% no mês de setembro", faz questão de frisar André Perfeito, economista da Necton. E não há exagero. O nível da preocupação com o cenário econômico dos Estados Unidos não raro faz menção ao risco de a economia americana arrastar boa parte do planeta para a recessão. Daí cada centésimo computado a mais nestes indicadores conta, e muito. Porque essa medição precisa vai balizar a decisão sobre a política monetária, que vem se caracterizando por aperto nos juros pra segurar os preços.
Passado e futuro
Voltando aos dados, na comparação anual o custo de vida do consumidor americano acumula 8,2% no período terminado em setembro. Já foi uma desaceleração quando olhado versus os 12 meses terminados em agosto, que estocaram 8,3%. Mas o mercado esperava um pé no freio até 8,1%. Mais uma decepção... e contando. De olho no núcleo, nova subida: 6,6% em setembro, acima dos 6,3% de agosto. "Os núcleos subiram mais do que o esperado, denotando que a surpresa não foi concentrada em alimentos e combustíveis", aponta Étore Sanchez, economista chefe da Ativa Investimentos. Era esperada uma aceleração do core de 6,3% para 6,5%, mas o índice atingiu 6,6% no anual.
O índice de energia sobe fortemente em 12 meses: 19,8%. Alimentos, +11,2%. Tudo a reforçar a percepção de que a inflação vai custar mesmo a ceder nos Estados Unidos. Foi a senha para os observadores de plantão começarem a rascunhar projeções para o comportamento e para a decisão do Federal Reserve quanto aos juros. "Os dados do CPI de setembro reforçaram os 'gavioes'", avalia Otaviano Canuto, membro sênior do Policy Center for the New South e ex-vice presidente do Banco Mundial. É uma alusão ao comportamento com tendência "hawkish" (do gavião), no modo de falar do mercado americano. Quer dizer, tendência a novo puxão pra cima nas taxas.
Feitas as contas
Canuto acompanha as reuniões do FMI e Banco Mundial em Washington (DC), e viu de perto a "troca de ideias" que se seguiu pelos corredores e salas de palestras do encontro após o índice ao consumidor ser divulgado. E testemunha uma realidade onde a visão que ganha mais força, a partir de dados como estes da inflação, divulgados agora, é a de que o Banco Central americano, nas próximas reuniões do Comitê de Mercado Aberto (FOMC), vai mesmo promover uma sequência de altas nos juros.
"O CPI reforçou a aposta em 0,75% e 0,50% em novembro e dezembro, respectivamente. A minuta da reunião de setembro do Fed -- quando subiu pela terceira vez consecutiva em 0,75% -- também mostrou que o número de seus membros mais preocupados com a possibilidade de fazer 'muito pouco' do que com a possibilidade de fazer 'demais' é maior. As falas posteriores de membros do Comite vêm reforçando isso."
Otaviano Canuto
Mas há opiniões que acreditam em mais intensidade das altas. "Nossa projeção é de 4,50% - 4,75%, com elevações até a reunião da virada de janeiro para fevereiro de 2023", calcula Étore Sanchez. Para ficar claro, altas de 0,75pp em novembro, 0,50pp em dezembro e 0,25pp em janeiro. O cenário projetado por Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, se apóia na ideia de duas altas... mais uma: "Nosso cenário considera mais 75 bps [0,75pp] em novembro e 75 bps [0,75pp] em dezembro, mas o dado de hoje aumenta significativamente a chance de outra alta de 25 bps em fevereiro". No limite das contas da Tenax Capital, e considerando o intervalo da taxa hoje, entre 3,00% e 3,25%, em fevereiro os juros americanos poderiam estar em 5,00%.
E ainda é preciso olhar além, sugere André Perfeito: "A resultante da piora da inflação nos EUA é a elevação dos juros em escala global em reação à alta que o FED deve continuar fazendo". É mais ou menos como se se dissesse: é possível saber onde começa, mas não até onde se estende a maré de juros altos.
O que tem pra hoje
Ao longo do dia, depois de muita oscilação, os mercados nos Estados Unidos acabaram fechando em alta. É que, apesar da inflação maior e do furor quanto aos juros, de certa forma os investidores teriam "se preparado" melhor para estas notícias ruins. Papéis do setor financeiro, estimulados por balanços dos bancos, e da área de energia, que aproveitaram anúncio de redução de produção de petróleo para se valorizarem, fizeram a diferença. Ao final, Dow Jones em = 2,83%; S&P500 + 2,60 e Nasdaq +2,23%. No Brasil o Ibovespa rodou em volta do zero a zero o dia todo, até fechar em queda de 0,46% aos 114.300 pontos. Dólar praticamente estável: + 0,01% cotado para venda a R$ 5,273.