Analistas veem IPCA dentro do esperado: 2023 será "menos pior"
Deflação de agosto foi puxada por redução nos impostos sobre combustíveis que tem prazo de validade
Guto Abranches
Era bem o que estava previsto e acabou mesmo se confirmando. A inflação oficial apontada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), colheu mais uma deflação no indicador de agosto. A única observação é que a queda dos preços, de 0,36%, já foi significativamente menor do que em julho, quando tinha baixado 0,68%.
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Palavra forte
O efeito da redução dos impostos sobre combustíveis é determinante, na opinião da maioria dos analistas. E é consensual, igualmente, que tem prazo de validade. Por ora, como consequência direta, a baixa nos preços administrados -- com destaque para transportes (-3,37%) e para combustíveis (-10,82%) -- operou influência decisiva. Mas a indefinição sobre a continuidade da redução tributária não permite, dizem os observadores, bancar uma perspectiva de inflação declinante no médio para longo prazo. Ao contrário. "A queda do índice está ainda concentrada na gasolina que recuou 11,64% e sozinho representou uma queda de 0,67 pontos percentuais do IPCA. Isso mostra o tamanho da distorção que a gasolina tem feito no índice como um todo, não fosse a gasolina estaríamos vendo altas no indicador", avalia André Perfeito, economista chefe da Necton.
Estoque
Neste ano, até agora, a subida de preços já acumula 4,39%. Em doze meses bate nos 8,73%. Não por acaso, a direção do Banco Central manifestou recentemente preocupação com a inflação que pode levar a um acréscimo adicional sobre a taxa de juros ainda em setembro (veja aqui).
A seguir, mais repercussões da divulgação do IPCA entre analistas e observadores especializados:
Celso Toledo, sócio da LCA Consultores
"Os preços caíram, em média, um pouco menos do que esperávamos, mas, de qualquer forma, a notícia é boa e deve ser comemorada. Como nós economistas sempre gostamos de ver o lado meio vazio do copo, preocupo-me com duas coisas: 1) descartando-se as influências importantes, porém pontuais, de preços que caíram por intervenção direta, como combustíveis, o coração inflacionário segue batendo forte (em serviços, por exemplo) e esse componente mais resistente continuará incomodando; 2) Em segundo lugar, as contas. Tenho dúvidas se o próximo governo, seja qual for o vencedor da eleição, terá a firmeza e a disciplina necessárias para praticar uma política fiscal alinhada com a política monetária. Torço muito para estar errado, mas é ainda cedo para declarar vitória."
George Vidor, jornalista e economista
"Trajetória da inflação brasileira agora vai depender mais do mercado internacional. Petróleo provavelmente permanecerá caro ainda sob o impacto da guerra na Ucrânia e as dificuldades de a Europa encontrar alternativas para o gás russo. No caso dos alimentos, a pressa sobre os preços está diminuindo, seja porque estamos produzindo mais aqui, seja porque a própria Ucrânia voltou a a abastecer o mercado. Nas cadeias produtivas industriais também houve melhora no suprimento de semicondutores, e já temos aqui até montadoras de veículos retomando segundo turno. Como sempre, no Brasil a trajetória da inflação depende muito do câmbio, que,no momento, anda comportado, mesmo com o ambiente de disputa eleitoral. Exportadores têm convertido mais dólares em reais, possivelmente para aproveitar o retorno financeiro proporcionado pelas altas taxas de juros no Brasil. O IPCA deve mesmo fechar 2022 próximo a 6%, ligeiramente acima do teto [3,5%, com teto de 1,5 ponto percentual acima], o que será um bom resultado diante do que estamos vendo aí pelo mundo, e dos índices que tivemos de conviver aqui no fim de 2021 e início deste ano."
Cláudio Frischtak, presidente da Inter B consultoria
"O resultado veio dentro do que se esperava. A queda dos impostos está pesando positivamente no sentido dos preços e, ao mesmo tempo, tem a queda global dos preços de energia que está sendo rapidamente transmitida aqui pela Petrobras. Já do ponto de vista de como as pessoas sentem a inflação, a queda não é percebida de forma tão óbvia, porque os gastos em saúde, cuidados pessoais aumentaram bastante no mês [1,31%]. Vestuário foi o grupo que mais pressionou [1,69%] e em alimentos, frango, queijos e frutas estão subindo bem. Daqui pra frente, não acredito em deflação em setembro, mas deve vir uma atenuação do processo inflacionário. É possível que para o fim do ano haja uma nova pressão. A inflação agora, em 8,7%, já é bastante elevada e, no final do ano, deve ficar entre 6,5% e 7,00%."
André Perfeito, economista chefe da Necton
"De fato temos uma queda na inflação na margem, queda esta motivada por fatores exógenos à dinâmica de preços em si [corte de impostos], mas ainda temos uma projeção de alta de preços. De fato não será 9% de alta o IPCA em 2022, será próximo de 6%, mas será mais 6% sobre uma inflação já bastante elevada, que subiu 10% no ano passado. Adicionalmente, vale notar que os patamares já estão muito elevados, logo, a tendência é nitidamente de queda para o ano que vem, uma vez que a base alta de comparação irá fazer parecer 'menos pior' na margem."
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