Bolsas no Brasil e nos EUA disparam com inflação americana estável em julho
Índice de preços ao consumidor americano não teve alteração no mês; analistas já falam em queda dos juros
Guto Abranches
Entre ficar atento aos rumos dos juros americanos em 2023 -- mais para longo prazo -- e aos caminhos da inflação no Brasil e no mundo no médio prazo, leia-se até o fim deste ano, o mercado financeiro escolheu fazer dinheiro... já. Nem as turbulências eleitorais seguraram a empolgação dos investidores aqui e lá fora assim que foi divulgado o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos. Inflação estável em julho ante o mês de junho, em levantamento do Departamento do Trabalho.
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Quer dizer, nada de preços em alta o que, em meio ao cenário de medo da recessão e num áspero convívio com os juros altos, é uma notícia a ser comemorada. E foi. É fato que no cálculo dos últimos 12 meses a inflação acumula 8,5% até o mês passado, já menos do que o estoque até junho, que batia em 9,1%. Mas sinalização de uma estabilidade surpreendente até para os economistas é coisa para levar em conta... nas compras dos investidores e dos consumidores.
Abaixo do esperado... e isso é bom!
É um daqueles raros casos em que um resultado, que sai abaixo do que espera o mercado -- havia contas de alta de zero alguma coisa nos preços nos Estados Unidos --, agrada ao mundo financeiro... e ao consumidor gente como a gente. Até para quem sabe que o mercado financeiro não gosta de surpresas, nem das boas, o indicador do dia fez a diferença... ao não ser diferente do mês imediatamente anterior. "Quando se diz que alguma coisa ficou abaixo do que esperava o mercado, todo mundo entende como piora. Mas quando o dado tem a ver com inflação, é o contrário", aponta Piter Carvalho, economista da Valor Investimentos.
E tem explicação de fácil compreensão. Preços subindo nos Estados Unidos, como o planeta tem acompanhado nos últimos tempos, significa que o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, tem de lançar mão de juros mais altos pra reduzir a atividade, os preços e, consequentemente, a inflação. O remédio é conhecido - Brasil que o diga - mas o problema é a dosagem. Até onde ir com os juros altos? Até quando a economia suporta os juros altos? O freio na atividade vai descambar para uma recessão a ser compartilhada com o mundo inteiro?
Alternativa agora
São todas perguntas para as quais não há resposta conclusiva no presente momento. Então, a opção é viver um dia de cada vez ou, melhor dizendo... um ganho de cada vez. Garantir o que o movimento diário nas bolsas pode oferecer. E os investidores assumiram a estratégia com gosto. A bolsa brasileira passou o dia realizando negócios sob este signo. Até fechar em alta bem considerável de 1,46%, de volta aos 110 mil pontos, régua mais alta em dois meses.
Nos Estados Unidos pontuações igualmente no azul: o Dow Jones foi a +1,63%; o S&P teve +2,04%; e a tecnológica Nasdaq, +2,89%. O desempenho dos papéis no Nasdaq são diretamente impactados pela leitura de menos inflação é igual a menos juros. "É um setor que depende muito de pegar dinheiro no mercado e não suportaria juros altos por muito tempo", aponta Carvalho. E ele via além: do pessimismo de quem previa o risco de alta nos juros até um limite de 5%, "agora já tem gente enxergando possibilidade de redução do custo do crédito à medida em que a inflação siga dando sinais de ir arrefecendo, talvez já a partir do início de 2023", sentencia.
Preencher as lacunas
Como que a fazer valer a máxima da gangorra, que prevê bolsa em alta... dólar em queda e vice-versa, no mercado de câmbio a moeda americana voltou a ceder fortemente. Baixa de 0,87% pra trazer a divisa a R$ 5,08. "Os juros até podem aumentar nos Estados Unidos, embora com ritmo menor", calcula Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest. Na opinião dela, essa indicação foi suficiente no dia para mexer com os rumos do fluxo de capitais mundo afora. "Isso configurou um maior apetite ao risco e por isso a gente viu essa queda no dólar aqui no Brasil", avalia.
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