Mercado financeiro oscila sob pressão externa: bolsa sobe, dólar em queda
Influência do ambiente político foi bem digerida em dia de encontro de Bolsonaro com embaixadores
A Bolsa de Valores brasileira passou o dia fazendo contas pautada principalmente pelo cenário externo. Fatores corporativos e o universo das commodities dominaram a cena. Da China chegaram sinais de que o país asiático se mexe pra tentar aquecer a economia. E uma China se movimentando anima os mercados, sobretudo fornecedores de matérias-primas e petróleo, por exemplo.
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"É bom monitorar as próximas ações na área de juros e de incentivos fiscais na China para tentar 'travar' uma desaceleração mais profunda do PIB chinês", avalia Eduardo Velho, economista chefe da JFTrust Gestão de Recursos. Visões assim deram impulso para ajudar a elevar o preço do petróleo do tipo Brent em 4,47%, até ser cotado a U$ 105,60.
Nada mau para mercados como o do Brasil, caucado fortemente em papéis de empresas ligadas ao ramal petróleo da economia. No caso da Petrobras, os papéis preferenciais subiram 2,29%. As ações ordinárias ganharam 3,33%. "O panorama das commodities tem sempre enorme influência sobre o nosso mercado doméstico. Quando se fala em petróleo então, as oscilações se fazem sentir direto sobre os preços de uma série de companhias do setor que são listadas na B3", opina Marília Fontes, sócia da Nord Research.
Pouco além do zero a zero
O apoio luxuoso dos papéis de petróleo foi a garantia para que o pregão em São Paulo conseguisse se firmar em território positivo. E foi por pouco. Ao longo do dia chegou a informação de que a Apple vai reduzir o ritmo de contratações, o que foi lido por muitos mercados como uma sinalização clara de que o risco de os Estados Unidos entrarem em recessão é hoje bem maior. "A economia norte-americana ainda cresce no curtíssimo prazo, com alta robusta de ganhos salariais e de ocupação no mercado de trabalho", aponta Velho. Em outras palavras, inflação. E para segurar a inflação, o remédio amargo -- com doses já administradas no dia a dia -- na " precificação" do mercado, é aumento de juros. Taxas para cima, mercado acionário para baixo. O Dow Jones baixou 0,69%, a Nasdaq caiu 0,81% e o S&P cedeu 0,84%.
No Brasil, deu tempo de o Ibovespa permanecer no território positivo. No fechamento, alta ligeira de 0,38%, aos 96.916 pontos. No mercado cambial, queda de 0,17% para a moeda americana, cotada a R$ 5,402. Mostras do quanto um mercado poderoso, como o do petróleo, direciona as decisões de investimento ao redor do planeta. "O petróleo começou o dia tranquilo, mas acabou disparando 5% lá fora. Resultado: taxa de juros subiu e isso jogou as bolsas para baixo. Elas estavam indo super bem", pontua Pedro Paulo Silveira, diretor de Gestão da corretora Nova Futura.
Dentro do possível
A produção "doméstica" de fatores de influência sobre o mercado andou em segundo plano, nesta 2ª feira (18.jul). No início do dia, o relatório Focus do Banco Central trouxe apostas de inflação menor e Produto Interno Bruto (PIB) crescendo mais no final do ano. Segundo os analistas, os investidores já calcularam o impacto da desaceleração da inflação patrocinado pelo efeito ICMS nos combustíveis. Mas o cenário não está definido.
"O problema é a continuidade da deterioração da inflação para 2023, cuja mediana das expectativas passou de 5,09% para 5,2%. E ainda o ritmo de crescimento da economia brasileira estaria um pouco acima do esperado em 2022 com estímulos fiscais adicionais", pondera Eduardo Velho. Pra bom entendedor: mais juros e menos crescimento. Ao menos o mercado "descolou" da tensão política, pelo menos por ora. E isso no dia em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu com embaixadores para tecer críticas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao sistema de urnas eletrônicas. No radar, um clima de acirramento institucional entre Executivo e o TSE que aparece no horizonte do mercado, mas que foi bem suportado no dia. "O mercado vai fazendo suas contas quanto a eleição. À medida que tende a encontrar suas definições quanto ao pleito, igualmente busca ficar mais tranquilo dentro do possível", vaticina Marília Fontes.
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