Falsa promoção: consumidor paga mais caro por produtos em supermercados
Atenção aos preços e pacotes de ofertas especiais: há situações em que a "vantagem" vira prejuízo no bolso
Guto Abranches
Tem estrela, arco-íris e foguetinho... Imaginação não falta na hora de fazer aquelas etiquetas chamativas. Tudo pra ganhar a atenção e cair no gosto do cliente dos supermercados. No entanto, o olhar mais atento percebe que a criatividade, em alguns casos, vai bem além. A reportagem do SBT News perambulou por varejistas de todos os portes na capital paulista -- e até em outros Estados -- para constatar uma prática cada vez mais comum: produtos com menor fração podem ser mais baratos que produtos em promoção com embalagens maiores.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Indo de lojas de bairro a hipermercados, e assim, na prática, foi possível constatar um tipo de ação comercial que apela para a idéia do "compre mais e pague menos" -- só que não. "A gente bate o olho na etiqueta e já sai atrás da promoção", diz a aposentada Ana Paula Ferreira, num supermercado no Butantã, em São Paulo.
Uma vez envolvido pelos objetos de desejo enfileirados, o comprador se sente recompensado. Vai de uma embalagem para outra. Muitas vezes sem perceber que as propostas convidativas escondem realidades bem diferentes do que seria uma compra saborosa, com confeitos de vantagem para o bolso.
"O desejo mexe com a atitude dos consumidores", alerta Adriano Sá, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e especialista em comportamento dos compradores. Ele detalhou em entrevista em vídeo ao SBT News que em muitos casos a promoção pode ser uma armadilha para o bolso.
Nem sempre o maior é o mais barato
Entre um pacote grande de um produto e dois pequenos do mesmo item - mesma marca e especificação - qual você compraria? Pode pensar! Porque tem horas que uns minutinhos a mais ali, são bem gastos e fazem bem ao bolso.
Agora a resposta para a pergunta: se liga! O golpe da "falsa promoção" pode estar logo adiante, escondido naquela familiar prateleira de pacotes de café.
Num grande supermercado da zona oeste de São Paulo, encontramos um pacote de café com 250 gramas, custa R$ 6,79.Um outro pacote, da mesma marca de café, pesando 500 gramas, custa R$ 14,98. O consumidor mais empolgado vai direto para o pacote de meio quilo, porque sempre acha que se tiver desconto, vai ser no maior volume: aí ele se quebra. Faça as contas: dois pacotes de 250g, pra fazer meio quilo, custam R$ 13,58. Quer dizer, R$ 1,40 mais barato. Pelo mesmo meio quilo da embalagem "econômica".
Todo tipo de produto pode cair na "falsa promoção". Olha o caso das fraldas, logo elas, cujos preços fazem os papais e mamães chorarem de emoção à cada nova compra. Encontramos um "combo", pacotão com 52 unidades de fralda média, de marca tradicional ao preço módico de R$ 59,99. Logo, cada fralda custaria aos emocionados progenitores do pequeno recém-chegado cerca de R$ 1,15.
Salve esse número! Ao lado do pacotão, um pacotinho menor, com 30 fraldas idênticas em marca, tamanho e qualidade. Preço? R$ 24,99. Cada fralda, feitas as contas, saindo a R$ 0,83. Salve esse número e faça a comparação.
É isso mesmo. Bem menos do que o preço unitário do lote de 52 unidades. Detalhe, se você comprar dois pacotes de 30 fraldas, ainda sai com 60 delas, bem mais que aquelas 52 unidades... Que tem o preço mais caro.
Ah, e não gasta nem R$ 50, enquanto o pacote "do desconto", sai por quase R$ 60. Nem pelo rebento mais fofo o papai ficaria satisfeito com uma comparação dessas!
"Rapaz, eu nunca teria parado pra conferir isso. Nunca tinha percebido essa arapuca", contou ao repórter - que não disse ser um profissional - um senhor que, a julgar pelos brilho dos fartos cabelos brancos, tem ainda mais abundante experiência em explorar os tais corredores. "Vou levar os menores.....é um jeito de errar menos", confessou o veterano.
Leve menos e pague menos
Pode parecer óbvio mas comprar menos quantidade pode ajudar o consumidor a economizar. É só comprar...mais vezes, mais embalagens menores no lugar daquela oferecida como promoção. Caso do papel higiênico. Um pacote com 24 unidades, de uma marca boa era oferecido nesta semana que passou a R$ 40,79.
Cada um custaria, portanto, R$ 1,69. Já o pacote com 16 unidades, tudo igualzinho, custa R$ 22,90, ou seja, R$ 1,43 a unidade, R$ 0,26 a menos cada rolinho. Tem economia aí, comprando do menor volume.
Temos comestíveis? Temos! Margarina daquela marca boa, que todo mundo conhece. Potão família, de 1kg custa R$ 16,29. Por bem menos, R$ 15,36, você leva dois, isso mesmo, dois potes de 500g e faz o mesmo quilo. Não perde conteúdo e nem dinheiro.
Livre iniciativa: ajustes de preços são permitidos
"Não há ilegalidade quando o estabelecimento não puxa o preço de uma embalagem de produto pra deixá-lo igual ao de embalagens menores. O consumidor não pode exigir isso", diz David Guedes, advogado da área de relacionamento do Instituto de Defesa do Consumidor de São Paulo (IDEC). " Mas seria interessante se o varejista, por conta própria, fizesse a redução. Esperar, o consumidor pode", pontua ele.
Vamos botar tudo em pias, copos, em pratos limpos: com vocês o limpador líquido "a jato", de marca respeitada, consumidora gosta e conta com ele. Talvez não conte com essa pegadinha.
Garrafão "na promoção" com 3,8 litros custando R$ 36,99. O litro sai a R$ 9,73.
Agora, o litro logo acima na prateleira custa R$ 9,49. Vale a pena levar um litro individual ou dois, pois, vai pagar menos para cada unidade.
"Precificação é decisão estratégica", diz Abras
"A Abras -- Associação Brasileira de Supermercados -- defende a transparência nas relações de consumo e esclarece que a precificação é uma decisão interna, operacional e estratégica de cada empresa. Às empresas supermercadistas cabe cumprir as normas previstas na legislação, no que diz respeito à precificação. Aos consumidores, comparar os preços, expostos de maneira clara."
Assista a entrevista completa do professor Adriano Sá, da ESPM, especialista em comportamento do consumidor, que fala sobre essa estratégia de precificação dos produtos adotada pelos mercados: