Por que o óleo de soja está tão valorizado, mais que a inflação?
Brasil é o maior produtor da matéria-prima: não seria suficiente para equilibrar o mercado?
Pablo Valler
O óleo de soja está com preço bem mais elevado do que a própria inflação, no Brasil. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em um intervalo de 12 meses, o produto subiu 31%, enquanto o índice geral registra 12%.
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Difícil para quem precisa usar diariamente, ou seja, grande parte da população. As donas de casa até podem utilizar quantidades mínimas e não sentir tanto a variação. Mas o empreendedor que tem o óleo de soja como insumo essencial, está sentindo e muito.
Em São Paulo, as tradicionais pastelarias tiveram que atualizar o menu. Em uma no bairro Pompeia, o pastel de frango e catupiry sai por R$ 9,50. Ano passado custava R$ 7. O comerciante Zezito Bonfim explica que não teve outro jeito: "Aumentou a farinha de trigo, a mussarela e, principalmente, o óleo de soja, com diferença de mais de 100%".
O que explica essa supervalorização? Seria a falta do produto nos supermercados? Não. Nas fábricas? Também não. A Associação Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal estima produzir até o fim de 2022, quase 10 milhões de toneladas. O mesmo volume do ano passado.
Será que caiu a produtividade das lavouras? De fato, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2021/2022 de soja rendeu 125,47 milhões de toneladas. São 9% a menos que no ciclo anterior.
Porém, os 9% de queda em produtividade do grão não explicam os mais de 100% de alta no valor do produto processado. Devem existir outros números nessa conta. A equipe do SBT News perguntou a um economista. O professor da Universidade de São Paulo (USP), Roberto Troster, nos explica que existem vários fatores. Dois são mais determinantes.
Um deles é a guerra que a Rússia instalou na Ucrânia. O pais atacado é um grande produtor de girassol. As sementes são transformadas em óleo. Mas, a distribuição foi interrompida por causa dos portos que foram fechados.
Além da oferta menor, que já impulsiona preços, tem o fator dólar, que torna a venda para o exterior mais interessante. "Digamos que a soja custa R$ 1. O mercado interno paga R$ 5. O mercado externo paga R$ 6. Para qual eu vendo?", provoca ele.