Conheça o Quilombo Campinho da Independência
Comunidade foi a primeira a conquistar a posse definitiva da terra
Liane Borges
A histórica comunidade quilombola do Campinho da Independência, localizada em Paraty, no sul do estado do Rio de Janeiro, alcançou um marco significativo ao se tornar a primeira comunidade quilombola a receber o título definitivo de suas terras. Após uma longa espera de quase trinta anos, a comunidade recebeu a garantia legal de sua posse, marcando uma vitória importante para a preservação da cultura afro-brasileira e para a luta pelos direitos territoriais das populações tradicionais.
Fundado no século XIX por três mulheres - Antonica, Marcelina e Luiza - descendentes de escravos africanos, o quilombo emergiu quando suas antepassadas foram obrigadas a trabalhar nas fazendas da região. Com o abandono dos proprietários, essas mulheres e seus descendentes permaneceram no local, dando origem à comunidade que hoje mantém viva a história e tradições dos seus antepassados.
Atualmente, o Campinho da Independência abriga cento e cinquenta famílias de remanescentes quilombolas, totalizando cerca de quinhentos e cinquenta moradores. A comunidade, situada a 20 km de Paraty, sustenta-se principalmente pela agricultura familiar, com destaque para a produção artesanal de alimentos como farinha de mandioca, peixes à moda quilombola e suco de juçara.
O processo de reconhecimento das terras foi longo e árduo. A comunidade enfrentou pressões externas, incluindo a supervalorização das terras devido à construção da rodovia BR-101 nos anos 70, que atraiu interesses de empreendimentos turísticos e grileiros. No entanto, os quilombolas resistiram, lutando por mais de trinta anos pela titulação coletiva de suas terras.
Em 21 de março de 1999, a Associação de Moradores do Campinho (AMOC) conquistou a titulação definitiva do território, um passo crucial para garantir a segurança jurídica das futuras gerações. Esse marco não apenas reconheceu a herança cultural e histórica da comunidade, mas também fortaleceu sua identidade e contribuiu para a preservação das tradições quilombolas.
Daniele Elias Santos, presidente da associação de moradores, expressou a importância desse momento: "Foi muito importante para que a gente tivesse certeza que os nossos filhos e netos, eles possam viver aqui no território".
Além da agricultura, o artesanato é uma atividade essencial na comunidade, transmitida de geração em geração. Artesãs como Adilsa da Conceição ensinam o ofício às novas gerações, mantendo viva a rica tradição de fabricação das bonecas Abayomi e outros produtos artesanais.
A conquista do título de propriedade pelo quilombo Campinho da Independência não apenas consolida a história de luta e resistência dessa comunidade, mas também destaca a importância de preservar e proteger os territórios quilombolas como pilares fundamentais da diversidade cultural brasileira.