Arquiteta brasileira mapeia mais de 40 abrigos antiaéreos da Segunda Guerra em prédios do Rio
Construções da década de 1940, localizadas em bairros como Copacabana, revelam curiosidades da história urbana da capital fluminense
Leo Santanna
Maria Paula Güttler
Uma arquiteta brasileira, que atualmente vive na Alemanha, mapeou mais de quarenta abrigos antiaéreos em prédios do Rio de Janeiro. Essas construções, erguidas durante a Segunda Guerra Mundial, têm mais de oito décadas de existência.
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Um exemplo está em Copacabana. Inaugurado há 80 anos, o prédio foi projetado para resistir a possíveis bombardeios. Na garagem, foi construído um pequeno abrigo antiaéreo, que dona Ana Catrini descobriu ao se mudar para o local.
“Achei que aquilo era uma curiosidade absurda, que eu nunca tinha ouvido falar que ninguém morasse num prédio que tivesse esse abrigo antiaéreo”, contou a aposentada.
Atualmente, o espaço serve como bicicletário. Uma das netas compartilhou essa informação com Isabella Cavallero, arquiteta brasileira radicada na Alemanha, que decidiu investigar a peculiaridade da construção.
“Essas lajes, elas sustentariam um peso de 1.500 quilogramas por metro quadrado. Então, elas são lajes reforçadas”, explicou Isabella.
Ela decidiu aprofundar a pesquisa e já identificou 42 prédios na cidade com abrigos antiaéreos, e todos datam da década de 1940. Na época, anúncios nos jornais destacavam a presença desses espaços como um símbolo de status.
“Esses abrigos surgem nos edifícios da época como meio de tornar esses edifícios mais exclusivos”, explicou a arquiteta.
No entanto, a instalação desses espaços também era uma exigência legal. Em 1942, após declarar guerra contra a Alemanha nazista, o governo de Getúlio Vargas determinou, por decreto, que edifícios com mais de quatro andares deveriam contar com proteção extra.
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O que hoje é uma das escadas para a garagem de um desses prédios, era, no passado, um dos acessos ao abrigo. Apesar das mudanças, ainda é possível encontrar locais que lembram cenários de guerra. Em caso de um ataque inimigo, os moradores teriam que atravessar um longo corredor até chegar ao bunker, com capacidade para quase mil pessoas.
Mas será que havia, de fato, risco de batalhas em território brasileiro? Para o historiador Rafael Mattoso, o decreto de Vargas tinha mais motivação política do que militar.
“Era muito complexo pensar que o exército alemão ou as forças do Eixo junto, com a Itália e Japão, iam se mobilizar para atacar o Brasil. Mas, se de fato houvesse um ataque, a gente tem que lembrar que o Rio de Janeiro era a capital federal”, afirmou.