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O apagão de dados no Brasil em meio à onda da variante ômicron

Saiba o que não está sendo divulgado pelo Ministério da Saúde e as consequências

O apagão de dados no Brasil em meio à onda da variante ômicron
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Após um mês e um dia do ataque hacker aos sites e plataformas do Ministério da Saúde, a pasta mantém dados represados sem atualização e divulgação de dados oficiais sobre os novos casos e novas mortes de covid-19. Em meio à onda da variante ômicron no Brasil, pesquisadores e profissionais da saúde não conseguem estimar a taxa de transmissão do vírus e nem acompanhar a evolução da doença no país, sem poder prever o que está por vir.

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Para se ter uma noção da velocidade da transmissão da variante ômicron da covid-19, é estimado que cerca de um terço da população brasileira se contaminou com a nova cepa nos últimos dois meses, desde o seu surgimento, segundo o epidemiologista, professor da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas e coordenador do Epicovid-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil, Pedro Hallal. Para comparação, as outras variantes demoraram cerca de um ano e meio para contaminar um terço da população do país. 

"A ômicron está varrendo o Brasil, assim como o resto do mundo, mas felizmente, até o momento ela não consegue gerar casos graves, especialmente entre os vacinados", destaca o pesquisador. 

E não é só por causa do apagão de dados nas plataformas do Ministério da Saúde que o Brasil se encontra no escuro, como ressalta Pedro Hallal. A falta de testes de covid-19 é um dos agravantes crônicos da pandemia, que, em um momento que o mundo quebra recordes diários de infecção pelo vírus, o Brasil não mostra, em suas estatísticas oficiais, as taxas de infecção pela covid no país. 

"A situação brasileira é comparável com estar no escuro, porque o Brasil tem dois problemas ao mesmo tempo: a baixa testagem, que é crônica e vem desde o início da pandemia, e há um problema agudo, o apagão de dados", diz Hallal. 

De acordo com o Ministério da Saúde, as plataformas e-SUS Notifica, SI-PNI e Conecte SUS já foram restabelecidas, possibilitando a inclusão de dados por estados e municípios. No entanto, todos os dados lançados após o dia 10 de dezembro, data do ataque hacker, ainda não constam nas plataformas. 

A pasta explica que as informações podem ser registradas pelos gestores locais e, assim que a integração de dados for restabelecida, os registros poderão ser acessados pelos usuários. "A instabilidade nos sistemas da pasta não interfere na vigilância epidemiológica de síndromes agudas respiratórias e da Covid-19. O Ministério da Saúde continua realizando o monitoramento no Brasil para as tomadas de decisões frente ao cenário atual", diz a pasta em nota.

Pedro Hallal discorda. "Basicamente tudo que a gente faz na epidemiologia é por meio de dados. Faço a comparação com um piloto de avião. Ele precisa de informações sobre altitude, ventos, localização, possibilidade de chuva para saber tomar as melhores decisões. É a mesma coisa com pesquisadores e profissionais da saúde, precisamos saber quantas pessoas infectadas estão morrendo, quantos são os infectados ou qual é a taxa de transmissão para decidir se é preciso ampliar leitos de hospitais, ou ampliar a testagem", explica. Para o pesquisador, o alto escalão do Ministério da Saúde, desde o início da pandemia, nunca valorizou os dados e não sabe o que fazer com as informações. "O Brasil é guiado por um piloto de avião sem dados e sem informações", diz. 

Plataformas desatualizadas

O ataque hacker da madrugada de 10 de dezembro invadiu diferentes plataformas do DataSUS -- departamento de informática do Sistema Único de Saúde (SUS) -- afetando o site do Ministério da Saúde, o Conecte SUS e o Painel Coronavírus, um portal do governo para divulgar dados e informações da covid-19. Entre as plataformas que ainda estão desatualizadas ou que não voltaram ao pleno funcionamento estão: 

  • e-SUS Notifica: a plataforma busca mostrar casos leve de covid-19 detectados na atenção primária, ou seja, no atendimento em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Última atualização é de antes de 10 de dezembro. 
  • SI-PNI: o sistema que mostra o cartão de vacina e a situação de imunização dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). Última atualização é de antes de 10 de dezembro. 
  • SIVEP-Gripe: o portal registra número de hospitalizações e mortes por Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) nos estados. 
  • Conecte SUS: a plataforma destinada para mostrar o cartão de vacina da covid-19 voltou a funcionar e exibir o certificado de imunização, no entanto, em alguns casos ainda apresenta algumas falhas, como a falta de uma dose no certificado. A plataforma voltou ao ar em 23 de dezembro e o comprovante de vacinação voltou a aparecer em 26 de dezembro. 

Os dados represados de estados e municípios que não estão sendo divulgados pelo Ministério da Saúde acabam impactando outros levantamentos não operados pela pasta, mas de relevância para o controle da pandemia da covid-19 no país. São eles: 

  • InfoGripe Fiocruz: a plataforma administrada pela  Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) se alimenta dos dados enviados pelo Ministério da Saúde e fornece o monitoramento de casos semanais e tendência a longo prazo de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), divididos por estados e regiões de vigilância para síndromes gripais. As últimas informações divulgadas pela plataforma apresentam dados da 48ª semana do ano passado, ou seja, do início do mês de dezembro.
  • MonitoraCovid-19: portal também da Fiocruz faz um monitoramento do número de casos, óbitos e internações pela covid no país. Último cenário mostra os casos do vírus em novembro de 2021, sem a variante ômicron. 
  • Observatório Covid-19 BR: construído por 85 pesquisadores de 28 universidades, o portal busca mapear informações sobre a pandemia da covid. No entanto, também não está atualizado. Na página inicial, uma mensagem de alerta foi deixada pelos organizadores. "Devido ao apagão de dados do Ministério da Saúde, estamos impossibilitados de atualizar nossas estimativas. Esperamos que o Ministério da Saúde reestabeleça os sistemas de informações afetados e assim possa manter a divulgação e transparência de dados em Saúde no país", ressalta o aviso.

"Isso afeta não apenas as análises referentes à semana 49, mas também às semanas anteriores por conta das atualizações em casos já notificados (inserção de resultado laboratorial, evolução do caso para alta/óbito, entre outros), bem como a própria inserção de casos ocorridos em semanas passadas mas que só foram digitados na semana 49", destaca a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em nota ao SBT News. O impacto da falta de dados vai desde a vigilância nacional de vírus respiratórios no Brasil (covid-19, influenza) até o trabalho dos agentes de saúde nas secretarias municipais e estaduais, segundo a Fiocruz. 

O outro lado

Pedro Hallal ressalta que a metade do copo pode estar meio cheia. O pesquisador destaca que um debate importante surge no meio acadêmico sobre a nova cepa da covid-19, a variante ômicron. "Ela representa uma boa notícia ou não?". Mesmo sendo classificada como variante de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e também apresentando um alto índice de transmissão, a ômicron pode ser um sinal do fim da pandemia. 

"Essa enxurrada de casos sem um aumento considerável de hospitalizações e óbitos talvez esteja sinalizando para o início de uma caminhada para que a covid-19 se torne uma doença endêmica e não mais pandêmica", destaca o pesquisador. No entanto, Hallal ressalta que ainda é cedo para decretar o início do fim da pandemia e que a vacinação e os cuidados como utilização de máscaras e higienização das mãos devem ser priorizados. 

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