Gostaria que Anvisa estivesse errada, diz diretora sobre Sputnik V
Meiruze Freitas, da área de autorização de vacinas, fala ao SBT

SBT News
A diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Meiruze Freitas, responsável pela área que avalia os registros das vacinas contra a covid-19, admitiu a frustração por ter negado autorização para o Brasil importar a Sputnik V, da Rússia, mas afirmou que não havia outro caminho. "Vou ser bem honesta, eu preferia que a Anvisa tivesse errado, mas não foi isso", ressaltou.
Meiruze rebateu as críticas feitas pelo governador do Maranhão. Flávio Dino (PCdoB) havia dito que "ou a Anvisa viu aquilo que ninguém no planeta enxergou, ou nós temos uma decisão, infelizmente, equivocada tecnicamente por parte da agência brasileira".
"Eu não posso julgar a avaliação de outras autoridades, né? Há um respeito pelas decisões entre os países. Eu entendo a colocação do senhor governador Flávio Dino, mas eu não posso responder o que os países não viram. Eu posso responder pelo que o Brasil viu", afirmou Meiruze em entrevista ao Poder em Foco, que vai ao ar no SBT, neste domingo (2.maio), à 0h45.
Entre as informações apontadas pela Anvisa está a presença de adenovírus replicante (RCA), mas as normas internacionais usadas pelas agências sanitárias dos EUA e da Europa determinam que vacinas não podem ter RCAs. A agência também reclama da falta de estudos que garantam a segurança para a aplicação do imunizante.
Atualmente, 62 países têm autorização para usar a Sputnik V, mas a União Europeia, Canadá, Estados Unidos, por exemplo, que têm normas compatíveis com as brasileiras, não adotaram a vacina russa.
A empresa responsável pela produção da Sputnik tem usado as redes sociais para rebater as críticas da Anvisa, o que surpreendeu Meiruze. "Tem um Twitter, isso até me chamou atenção em termos de produtos sujeitos à vigilância sanitária. Foi a primeira vez que eu me deparei com esse marketing relacionado à vacina. Mas tudo bem, faz parte, isso não tem nada de errado. E nesse (post) eles disseram que ofereceram mais informações para a ANVISA do que para outros países, isso me chamou atenção".
A diretora da Anvisa explicou que a empresa responsável e os governos que solicitaram a importação ainda podem complementar informações para a agência avaliar a autorização novamente.
Aquisição prévia
Meiruze Freitas disse que a compra antecipada de vacinas, antes mesmo de haver autorização para uso do imunizante no país, é um processo natural diante de uma pandemia. As normas brasileiras permitem. Mas a utilização só pode ocorrer depois de aprovação do órgão sanitário.
"Muitos países começaram a comprar a vacina ainda no estágio inicial do desenvolvimento do estudo clínico. Cada vez que a gente aprova uma vacina aqui, é uma comemoração muito forte. A gente está fazendo o papel de dar acesso. Então, eu não diria que é um problema a negociação. O problema é a ausência de dados. Isso dá uma frustração muito grande", observou.
São cinco vacinas aprovadas, sendo duas para uso emergencial (Janssen e Coronavac) e as demais já com registro definitivo (AstraZeneca e Pfizer). A AstraZeneca é contada duas vezes, pois considera as doses importadas prontas da Índia e as produzidas no Brasil.
A diretora da Anvisa destaca que mesmo as vacinas apenas com autorização de uso emergencial são absolutamente seguras. Ela pede para a população confiar nas decisões da agência.
No momento não há solicitação de registro de novas vacinas no Brasil, segundo a diretora Meiruze Freitas. Há apenas pedidos de autorização para estudos clínicos.
A expectativa é de que imunizantes que estão nas fases 2 e 3 de estudos em outros países, a exemplo de Canadá e China, tenham solicitação apresentada aqui até agosto e que o processo seja rápido porque o Brasil faz parte do grupo de análise das vacinas junto com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
"Nossa perspectiva é que a partir da aprovação no âmbito da Covax Facility, essas vacinas também possam ser disponibilizadas pro Brasil". O consórcio é uma iniciativa da OMS para ampliar o acesso ao imunizante. O acordo com o Brasil prevê mais de 42 milhões de doses este ano.