Deputados governistas querem depoimento de Bolsonaro na CPMI do 8/1
Colegiado voltará a se reunir no início de agosto, após o recesso parlamentar
Guilherme Resck
Passada a ida do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro tem ainda outras 32 oitivas aguardando apenas para serem marcadas. Deputados governistas defendem que o depoimento do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, seja priorizado, mas afirmam que o de Bolsonaro, não aprovado pela comissão até o momento, é um dos mais importantes dentre os que faltam ser prestados também.
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O ex-secretário do DF, que foi ainda ministro da Justiça e Segurança Pública no governo passado, chegou a ficar quase quatro meses preso por suspeita de conivência com os atos golpistas de 8 de janeiro, quando os prédios-sedes dos Três Poderes foram invadidos em Brasília. Em 11 de maio, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu liberdade provisória a ele.
A convocação de Anderson Torres foi aprovada pela CPMI em 13 de junho. Na mesma reunião, foram aprovadas as convocações de outras 35 pessoas, incluindo o próprio Mauro Cid e cinco que depois, como o tenente-coronel, prestaram depoimentos ao colegiado: Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF); Valdir Pires Dantas Filho, perito da Polícia Civil do DF (PCDF); Leonardo de Castro, diretor de Combate à Corrupção e Crime Organizado da PCDF; George Washington de Oliveira Sousa, gerente de postos de combustíveis condenado por tentativa de atentado a bomba perto do Aeroporto Internacional de Brasília em dezembro 2022; e Jorge Eduardo Naime, coronel da Polícia Militar do DF que comandava o Departamento de Operações (DOP) da corporação durante o ataque aos Poderes.
A CPMI já ouviu ainda Renato Martins Carrijo, perito da PCDF, e o coronel Jean Lawand Junior, ex-subchefe do Estado-Maior do Exército. Para a relatora da colegiado, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), Anderson Torrres é o nome que a comissão "precisa para exaurir" sua primeira etapa. "A gente não conseguiu agora, porque na semana passada nós tivemos um esforço concentrado, chega agora o recesso, mas eu acho que ele deverá ser o primeiro no retorno aqui dos trabalhos", complementou. As declarações foram dadas em entrevista à TV Senado, na última 3ª feira (11.jul). O recesso parlamentar vai de 18 a 31 de julho. A próxima reunião da CPMI será realizada em 1º de agosto.
Questionada pelo SBT News sobre quais oitivas avalia que são importantes de serem feitas como prioridades, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que a de Anderson Torres "é muito importante". "O Mauro Cid precisa voltar, na minha opinião. Quando a gente quebrar o sigilo, ele precisa voltar. E acho que, mais para a frente, o Bolsonaro e a [ex-primeira-dama] Michelle. Esses são os mais importantes", acrescentou. Na última reunião da CPMI, a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) anunciou a apresentação de pedidos de convocação do ex-presidente e de Michelle.
"Diante do silêncio do depoente [Mauro Cid] e da nossa obrigação de investigar o que ele está querendo omitir, estou protocolando à mesa, neste momento, dois requerimentos para ouvir na condição de investigados o senhor Jair Messias Bolsonaro e a senhora Michelle Bolsonaro", falou Erika.
"Que acho que são as figuras centrais e importantes para que nós possamos ouvir nessa CPMI. São as pessoas com quem vossa senhoria tinha uma profunda proximidade e, muito provavelmente, não queira nos responder aquilo que de fato é nosso dever perguntar porque deva estar querendo encobrir, proteger ou omitir fatos extremamente relevantes, importantes e necessários na reconstrução da cronologia da tentativa de golpe que ocorreu neste país", complementou, se dirigindo a Cid.
A reportagem perguntou ao colega de partido e de comissão da deputada, o deputado federal Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ), quais depoimentos considera que são prioritários. O parlamentar citou Anderson Torres, integrantes da "milícia digital" que incentivou os atos golpistas de 8 de janeiro e "no tempo certo" Jair Bolsonaro.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) considera o depoimento de Torres como o prioritário agora. "Esse é essencial, porque ele esteve no planejamento também do golpe, ficou preso exatamente por isso. Saiu de Brasília, foi aos Estados Unidos, deixando a segurança pública aqui à deriva. E durante o período que esteve no Ministério, simplesmente foi encontrada na casa dele uma minuta de golpe", afirmou o parlamentar.
"Então ele é peça também importante dessa minuta. E acho que mais para frente nós vamos ter que ouvir o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro e a Michelle Bolsonaro. Esses são os mais importantes. Tem também muitos que fizeram a quebradeira que precisam vir aqui, por exemplo, aquele que quebrou o relógio, esses terroristas que foram mais exemplares nisso, acho que precisam ser ouvidos, até para ver o que os motivou".
Ainda de acordo com o petista, "nos depoimentos que eles dão na Polícia Federal, se você olhar, isso já está público, eles falam que vieram mesmo para dar golpe, para que o presidente Jair Bolsonaro voltasse para o poder. Então a motivação deles é o golpe. Isso eu acho que preciso ficar claro".
O responsável por quebrar o relógio do século XVII no Palácio do Planalto, a quem ele se referiu, é Antônio Cláudio Alves Ferreira. Ainda não foi aprovada a convocação dele.
A deputada Duda Salabert (PDT-MG), outra integrante da CPMI, considera bastante relevante a comissão ouvir pessoas que patrocionaram campanhas eleitorais ou trabalham em campanhas eleitorais e estão sendo investigadas por envolvimento no ataque aos Poderes. Ela ressalta que sua equipe buscou levantar os nomes. "Porque a gente quer ouvir essas pessoas a fim de desnudar se existe ou não relação entre parlamentares eleitos e fomento a atos antidemocráticos no Brasil".
Bolsonaro
A senadora Eliziane Gama acredita ainda ser cedo para para falar sobre uma convocação de Jair Bolsonaro. "A gente está ainda numa primeira etapa, a gente tem agora recesso. O que nós aprovamos hoje nós teremos muitos elementos para estudarmos durante o período de recesso e poder retornar lá na frente com, na verdade, novos requerimentos, novas convocações. Eu continuo dizendo: a possibilidade de ser convocado é real, mas hoje realmente ainda não há uma definição sobre isso", afirmou na última 3ª feira (11.jul).
Confira a seguir as 32 oitivas já aprovadas e ainda não agendadas; todas são convocações:
- Anderson Torres, ex-secretário de Segurança do DF;
- Ricardo Garcia Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública e foi interventor da Segurança Pública do DF;
- Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do GSI;
- General Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa;
- Jorge Teixeira de Lima, delegado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF);
- Jorge Eduardo Naime, Coronel/PMDF então Comandante do Departamento de Operações (DOP) da PMDF;
- Coronel Elcio Franco Filho, ex-secretário do Ministério da Saúde;
- Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP);
- Fernando de Souza Oliveira, ex-secretário executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF;
- Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do DF;
- Robson Cândido, delegado-geral da Polícia Civil do DF;
- Marcelo Fernandes, delegado da Polícia Civil do DF;
- Márcio Nunes de Oliveira, ex-delegado-Geral da Polícia Federal;
- Milton Rodrigues Neves, delegado da Polícia Federal e ex-secretário-executivo da Secretaria de Segurança do DF;
- Paulo José Ferreira de Sousa Bezerra, coronel da Polícia Militar do DF e ex-chefe interino do Departamento de Operações (DOP);
- Júlio Danilo Souza Ferreira, ex-Secretário de Segurança Pública do DF;
- Marília Ferreira Alencar, ex-subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do DF;
- Ailton de Barros, ex-militar;
- Jeferson Henrique Ribeiro Silveira, motorista do caminhão-tanque onde foi colocada uma bomba nas proximidades do aeroporto de Brasília;
- Alan Diego dos Santos, suspeito de planejar o ataque a bomba no DF;
- Wellington Macedo de Souza, réu pela tentativa de explosão do caminhão-tanque;
- Adauto Lucio de Mesquita, empresário;
- Edilson Antonio Piaia, empresário e produtor rural de Campo Novo do Parecis;
- Diomar Pedrassani, empresário;
- Argino Bedin, empresário;
- Roberta Bedin, empresária;
- Albert Alisson Gomes Mascarenhas, empresário;
- Ainesten Espírito Santo Mascarenhas, empresário;
- Leandro Pedrassani, empresário;
- Joveci Xavier de Andrade, empresário;
- José Carlos Pedrassani, empresário;
- General Marco Edson Gonçalves Dias, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
- Saulo Moura da Cunha, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).