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Polícia apreendeu fuzis de diversos países em megaoperação no Rio, mas nenhum em Cuba

Especialistas detalham modelos de armas confiscadas na ação e explicam rotas de origem dos armamentos

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Perfis nas redes sociais repercutiram um vídeo do site Pleno News, que afirma, incorretamente, que fuzis de Cuba foram encontrados na megaoperação de 28 de outubro que deixou 121 mortos na capital fluminense. A gravação original é do delegado Vinícius Domingos, coordenador da Coordenadoria de Fiscalização de Armas e Explosivos do Rio (Cfae). Ele detalha os armamentos confiscados na ação e destaca os seus países de origem, mencionando o próprio Brasil, Peru, Argentina e Venezuela, sem qualquer citação a Cuba.

Após a repercussão, o site fez uma correção e alterou a legenda do vídeo no Instagram, inserindo uma errata: “Não foi encontrado fuzil de Cuba”. Apesar de ter acrescentado a errata no texto, o vídeo continua publicado, com a informação inverídica de que as autoridades do Rio de Janeiro encontraram armas de Cuba nos complexos do Alemão e da Penha. Até a publicação deste texto, o post com a informação errada não tinha sido retirado do ar.

Procurado, o Pleno News reforçou que, além da errata, a página também destacou, na postagem, o comentário do delegado, que reforçou as origens dos armamentos mostrados no vídeo.

De acordo com um comunicado da Polícia Civil, foram confiscadas 120 armas na operação, sendo 93 fuzis. O arsenal tem origem de países diferentes – entre eles Venezuela, Argentina, Peru, Bélgica, Rússia, Alemanha e Brasil – e inclui modelos usados em zonas de conflito, como AK-47, AR-10, G3, FAL e AR-15.

As postagens identificadas pelo Comprova destacam apreensões de fuzis vindos da Venezuela e, falsamente, de Cuba. Nas publicações, internautas tentam estabelecer uma conexão entre os governos desses países — ambos de esquerda — e uma suposta atuação no abastecimento do crime organizado brasileiro.

Características dos fuzis venezuelanos apreendidos

Apesar de o fuzil venezuelano ter sido destacado na postagem analisada, não existe diferença dele para os que vieram de outros países, de acordo com o analista do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Roberto Uchôa.

"Do ponto de vista técnico ou operacional para o criminoso, um FAL venezuelano, argentino ou brasileiro (desviado) são funcionalmente idênticos. Todos são fuzis potentes, robustos e confiáveis, projetados para uso militar”, explicou ao Comprova.

Uchôa também afirma que o diferencial das armas apreendidas é a rota de origem delas. “Fuzis FAL, sejam da Venezuela, Argentina ou Peru, não são armas compradas no mercado civil, como um AR-15 pode ser nos EUA. A sua presença nas mãos de criminosos aponta quase invariavelmente para o desvio das Forças Armadas ou policiais desses países”, disse.

Segundo ele, a menção a armas venezuelanas sugere uma rota de tráfico consolidada pelo Norte do Brasil, enquanto armas argentinas entram pela região Sul/Sudoeste. Ele opina que não é possível afirmar que todos eles são da mesma origem.

Rotas ilegais das armas

No vídeo analisado, o delegado Vinicius Domingos afirma que as armas têm origem na fronteira com a Amazônia, principalmente as que são de outras Forças Armadas e também entram no Brasil por rota terrestre, a maioria delas vindas do Paraguai.

Em outra postagem, do início de outubro, o delegado detalha as origens de armas apreendidas por policiais no Brasil. Segundo ele, apenas 5% dos armamentos confiscados têm fabricação nacional.

"Isso deixa claro que mais de 95% das armas que hoje estão nas mãos dos criminosos que assolam a sociedade carioca foram de fabricação estrangeira e entraram em nosso país por meio das conhecidas rotas que entram não só armas, drogas e materiais contrabandeados”, detalha.

Na opinião do presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina, José Ricardo Bandeira, a grande parte dos fuzis apreendidos terem origem estrangeira indica que o crime organizado no Rio de Janeiro possui uma estrutura logística robusta de tráfico internacional de armas, capaz de contornar as barreiras nacionais de fiscalização.

“A preferência por fuzis de uso militar e estrangeiros, muitas vezes com o número de série raspado ou falsificado, indica o altíssimo poder de investimento das facções”, explicou, ao Comprova. “ Isso demonstra que o Comando Vermelho e outras facções mantêm conexões diretas ou indiretas com redes de contrabando que se estendem pela América do Sul e até pela Europa, provando o caráter transnacional do crime.”

Perfil da apreensão

Ainda conforme José Ricardo, a apreensão de fuzis estrangeiros de alto calibre, como AK-47 e FAL/G3, confirma o perfil de armamento pesado utilizado pelas grandes facções criminosas do Rio de Janeiro ao longo dos anos.

“A novidade, muitas vezes, não está no tipo de arma em si, mas na escala da apreensão em um único dia e nas evidências de ramificações em outros estados, como as inscrições do “CV AM” – Comando Vermelho do Amazonas –, em algumas armas. O que se tem visto é uma modernização e um aumento de poder de fogo que acompanha a expansão das facções, mas os modelos básicos de fuzis táticos continuam a ser o padrão do arsenal do crime”, explicou.

Fontes consultadas: Postagens da Polícia Civil do Rio, do delegado Vinicius Domingos e os especialistas José Ricardo Bandeira e Roberto Uchôa.

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