Traficantes cobram "pedágio" de motoristas de app em bairro do Rio
Segundo relatos das vítimas, quem não segue as ordens dos criminosos pode até ser morto
Salutiel Filót
Motoristas de aplicativo denunciam que estão sendo obrigados a pagar uma espécie de taxa a traficantes, para poderem circular em um bairro da zona norte do Rio de Janeiro.
Por se recursar a seguir as ordens dos criminosos, uma das vítimas prefere não se identificar, por medo de sofrer retaliação. "Eu voto cerca de R$ 60, R$ 65 de gás por dia. EU fico com R$ 200. Aí, vou pagar R$ 150 ou R$ 85? O que é que eu vou levar para casa?", ele questiona.
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Esses são os valores exigidos pelos bandidos para permitir que veículos de aplicativo rodem pela Ilha do Governador. A desobediência é punida com muita violência, conforme revelam mensagens de áudio trocadas entre os motoristas.
"[sic] Tá proibido de rodar na Ilha. Se for deixar passageiro, deixa e mete o pé. Não pode pegar passageiro lá dentro. Se não, os caras 'vai' pegar, 'vai' dar um esculacho, e 'vai' tacar fogo no carro", diz um dos relatos.
"[sic] Um amigo, que é morador lá dentro, os caras agarraram ele e levaram 'pro' morro e foi 'pro' desenrolado. É regra dos caras", acrescenta um outro.
São os chamados "fiscais do tráfico". De acordo com as denúncias, eles abordam motoristas que estão parados, à espera de passageiros. É nesse momento que fazem ameaças e cobram a taxa de circulação pelo bairro.
"Tem várias pessoas espalhadas aí por dentro da Ilha, para ficar observando quando você pega passageiro, quando não pega", explica um motorista.
Mais de 200 mil pessoas vivem na Ilha do Governador. Os criminosos se aproveitam da deficiência do transporte público para coagir quem oferece o serviço alternativo. Há um ano, um mototaxista desapareceu. A mãe, que prefere não se identificar, soube por traficantes que o rapaz tinha sido assassinado.
"O corpo dele foi jogado na Baía de Guanabara e, até hoje, não encontramos nada. A Ilha do Governador se tornou um campo de batalha. Quem manda é o tráfico de drogas", diz a mãe da vítima.
A Polícia Militar alega que está realizando operações para tentar acabar com o problema. Na 3ª feira, dois homens foram presos, em flagrante, enquanto ameaçavam motoristas. Ainda segundo a PM, o esquema criminoso é comandado por um dos chefes do tráfico do Morro do Dendê, Mário Henrique Paranhos de Oliveira, o "Neves".
"O traficante Neves, ele já é um foragido da Justiça há bastante tempo. É um traficante frio, calculista, bastante sanguinário. E o 17º Batalhão está no encalço dele", afirma o comandante do Batalhão da PM, Fábio Cardoso.
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