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Na batalha de narrativas, como sei se uma informação é verdadeira?

Fotos manipuladas, vídeos fabricados, informações enganosas. O SBT News te dá dicas para verificar conteúdos recebidos na internet

Na batalha de narrativas, como sei se uma informação é verdadeira?
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Quatro em cada dez brasileiros afirmam receber fake news todos os dias. Os dados são de pesquisa divulgada pelo Poynter Institute no início do mês de agosto. Informações enganosas e falsas nos cercam por todos os cantos, circulam em diversos formatos e meios, podem ser fabricadas por qualquer pessoa ou criadas e compartilhadas por quem possui grande aparato tecnológico e interesses políticos e econômicos claros. Em um contexto cada vez mais conectado, a criação de narrativas e a circulação de mensagens ajudam a propagar facilmente ideias que muitas vezes estão desarticuladas da realidade.

Saiba mais:

Essa disputa pela verdade e as diversas estratégias utilizadas para fazer circular desinformação ficou muito visível durante a pandemia do coronavírus. Uma pesquisa da Avaaz, divulgada no primeiro ano da pandemia, mostrou que 73% dos brasileiros acreditavam em notícias sobre o vírus.

Outro contexto em que a desinformação já provoca realidades paralelas é a disputa eleitoral, que cada vez mais se acirra, faltando pouco mais de um mês para a população ir às urnas. 

Neste cenário, a desinformação representa uma ameaça à democracia, como explica  Patrícia Blanco,  presidente do Instituto Palavra Aberta, responsável pelo projeto EducaMídia, maior programa de educação midiática do Brasil. "Ataques à Justiça Eleitoral e às urnas eletrônicas são alguns exemplos.

Esse tipo de desinformação visa desestabilizar a democracia tirando a credibilidade dos agentes que nela atuam, provocando uma crise de confiança e de reputação. Isso também pode ocorrer com mentiras inventadas sobre determinados candidatos e candidatas, difamando-os durante a campanha eleitoral e prejudicando intenções de voto", destaca. 

Recebi uma informação. O que faço? 

O combate à desinformação começa de forma individual. Smartphones, redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas fizeram com que qualquer pessoa se tornasse produtor de conteúdo, além de propagador de informações.

"Todos nós somos micro influenciadores nas nossas redes e círculos sociais. Quando você curte, comenta ou compartilha um post mentiroso ou de ódio, mesmo que seja para desmentí-lo ou criticá-lo, você está ajudando a disseminar a mensagem, porque o algoritmo entende que, pelo fato de você ter interagido, ela é importante e mais gente deveria interagir também. Precisamos entender o poder que temos em mão", pondera Patrícia Blanco. 

Para virar notícia, uma informação, por exemplo, passa por um processo de apuração para depois circular. Ou seja, antes de uma informação ser divulgada ou compartilhada, ela precisa ser questionada.  E esse olhar crítico não deve ser exclusivo de jornalistas.

Ao se deparar com um conteúdo noticioso, o primeiro passo é parar e analisar, questionar o contexto, o tom e a linguagem utilizada, verificar a autoria do conteúdo e as possíveis intenções por trás da mensagem.

A presidente do Instituto Palavra Aberta destaca algumas perguntas que podem ser feitas ao nos depararmos com uma informação: "O que sabemos sobre aquela pessoa que postou? Foi ela mesma quem criou a postagem? É recente? Qual o tom do discurso? É apelativo? Tem imagens? São atuais e verdadeiras, sem manipulação? Como eu me sinto diante dessa mensagem?", são algumas questões que podem ser feitas e que são importantes para não compartilharmos informações falsas e enganosas. 

O que sei sobre aquela pessoa que postou?

Tem dúvidas se uma informação é verdadeira? Primeiro, analise quem é o responsável por aquele conteúdo. Pergunte-se se é uma fonte confiável, verifique quem escreveu, quem compartilhou e, se for o caso, quem financiou. Essa análise permite visualizar se há interesses claros por trás daquela informação. 

No caso de páginas e perfis em redes sociais, a dica é verificar a autenticidade do perfil, analisar se é verificado, se o nome está escrito corretamente.

Se for uma página ou perfil de pessoa pública ou de uma instituição conhecida, veja se a página tem um selo azul ao lado do nome do usuário, essa marca é a verificação concedida por plataformas como Facebook, Instagram e Twitter para perfis considerados oficiais.

Outros itens que podem ser analisados são os números de seguidores e outras postagens do perfil para ver se é compatível com o que se espera daquela página ou pessoa. 

Se o conteúdo recebido é um print, procure o perfil nas redes sociais para saber se aquilo realmente foi postado. Essa verificação é importante porque muitos conteúdos falsos circulam por meio de montagens que utilizam perfis verdadeiros.
 

Se tá na internet é verdade? Como pesquisar com qualidade?

Todos os dias, somos bombardeados por mensagens no meio digital. Mas não é porque aquela informação está na internet, viralizou ou teve alguma repercussão expressiva que ela seja verdadeira. Primeiro, verifique se aquela informação está em mais algum lugar. Está em outras páginas? São páginas confiáveis? Quem está por trás delas? 

Para verificar a autenticidade de uma informação, a dica é pesquisar. Dar um Google é simples e qualquer pessoa que tem acesso à internet consegue pesquisar na plataforma. Mas não adianta apenas procurar, é preciso buscar  com qualidade. 

Para quem quer fazer pesquisas mais refinadas, é possível buscar no Google por meio de operadores. São símbolos e palavras que ajudam a tornar os resultados mais precisos.

Com estes macetes, é possível, por exemplo, excluir palavras da pesquisa, pesquisar uma frase exata da forma que está escrita, combinar pesquisas ou buscar em um site específico. 

Se o conteúdo a ser verificado é uma imagem, é possível fazer a busca reversa na plataforma. O Google disponibiliza a opção de pesquisa por imagem.

Clicando no ícone com imagem de uma câmera, é possível anexar imagens na pesquisa. Os resultados irão  revelar as outras vezes que a imagem foi publicada, se ela é recente ou antiga, se a localização corresponde ao que a informação recebida afirma. 

Essa imagem que recebi é verdadeira? 

Estamos na era das imagens, a comunicação nas redes sociais é predominantemente visual. Mas quando usadas por pessoas mal intencionadas, as imagens podem se tornar poderosos veículos de desinformação.

A manipulação de imagens é uma das formas mais comuns de desinformação. Fotos e vídeos recebem edições enganosas para disseminar mensagens falsas. Por isso, esses conteúdos precisam ser analisados com critério, antes de serem compartilhados.

A First Draft, organização global independente, sem fins lucrativos e apartidária, criou um guia de verificação visual com perguntas que podemos fazer ao nos depararmos com uma imagem.

São elas: Você está olhando para a versão original? Você sabe quem capturou a foto? Você sabe onde a foto foi capturada? Você sabe quando a foto foi capturada? Você sabe por que a foto foi capturada?

Outras dicas que podem ajudar a verificar se uma imagem é verdadeira é analisar em qual contexto ela foi usada. Para saber se o local é realmente o que a informação diz, recomenda-se analisar as roupas das pessoas que estão na foto, se fazem sentido dentro do contexto; verificar como está o clima na foto, se está nublado ou ensolarado; procurar na imagem por sinais visuais, como placas de trânsito, vitrines de lojas, nomes de estabelecimentos e propagandas. 

Para verificar se uma foto recebeu edição, pode-se observar a iluminação da imagem, se existem objetos mais brilhantes ou mais apagados.

Isso permite analisar se itens foram adicionados digitalmente na imagem. Variações de luz, cor e sombra também podem ser indicativos de que se trata de uma imagem editada. Quando uma foto é mal manipulada, ela também costuma apresentar deformações nos contornos de pessoas ou objetos. 

Cuidado com deepfakes

Com tanta tecnologia, um formato que se popularizou e que pode ser uma grande ameaça no combate à desinformação é a tecnologia deepfake. Os "deepfakes" são vídeos manipulados produzidos por inteligência artificial que produz imagens e sons realistas, mas são totalmente fabricados.

A tecnologia permite criar vídeos em que são feitos troca de rosto, troca de áudio para fazer parecer que uma pessoa está dizendo algo que nunca disse, clonagem de voz, criação de rostos e corpos totalmente sintéticos, entre outras possibilidades. 

Para quem não tem familiaridade com a ferramenta, pode ser difícil identificar quando o vídeo é na verdade um deepfake.

É importante olhar com calma, pode-se verificar a cor do rosto da pessoa que aparece na imagem, nos vídeos fabricados o rosto pode ficar mais saturado e embaçado.

Observar o olhar da figura no vídeo também é importante, em deepfakes o olhar pode não estar direcionado pro local onde deve estar. Mudanças na ênfase da voz, pontos borrados, formas estranhas em partes do corpo como cabelos, orelhas e mãos também são indicativos de que pode se estar de frente para um vídeo digitalmente fabricado. 

Na dúvida, não compartilhe 

Antes de compartilhar uma informação, verifique a história completa que envolve a narrativa. Além de ter acesso a ferramentas e dicas que ajudem a analisar se a informação é verdadeira, é importante estar bem informado sobre os eventos da atualidade.

Saber o que está acontecendo de fato no universo a qual aquele conteúdo está ligado ajuda a não cair em falácias noticiosas.

"É preciso entender que todos somos responsáveis e, por isso, dar preferência à informação de qualidade é fundamental, não só para brecar a disseminação de conteúdos desinformativos ou enganosos, como também para  fazer dos nossos canais de comunicação ambientes positivos onde nossos amigos, familiares e colegas encontram conteúdos baseados em fatos", reforça Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta.

E havendo dúvidas se aquela informação é real, a dica é sempre não repassar. 


>> Mayra Nascimento é jornalista do SBT Pará e SBT News


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