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Laudo revela farsa montada por policiais que mataram mecânico e catador

Documento tem 321 páginas e demonstra a farsa montada por policiais em novembro do ano passado

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Laudo da Corregedoria da Polícia Civil (Reprodução/SBT Brasil)
• Atualizado em
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Um laudo da Unidade de Inteligência da Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo mostra os policiais que mataram um mecânico, de 25 anos, e um catador de reciclagem, de 62, em 25 de novembro do ano passado na zona leste da capital paulista. Seis atiradores, entre eles um que não era policial, chamado na gíria de "ganso", dispararam pelo menos 32 tiros na operação que teve a participação de uma espécie de polícia paralela.

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O laudo da polícia tem 321 páginas e demonstra a farsa montada por policiais no penúltimo mês de 2021. Uma blitz realizada por investigadores do 24º Distrito Policial terminou com a morte dos dois inocentes. O mecânico Guilherme Tibério Lima passava de carro pela barreira quando foi assassinado com tiros pelas costas. Já José domingos dos santos, que catava material reciclado na rua, morreu com um tiro na cabeça.

O inquérito já tinha revelado que os investigadores estavam acompanhados de três agentes do Instituto Nacional de Defesa e Promoção à Pessoa (Indep), uma ONG que diz apoiar vítimas da violência. A partir de imagens de câmeras de segurança, a Corregedoria provou que, ao contrário do que afirmaram policiais e gansos, não havia como o mecânico ter percebido que se tratava de uma blitz. Ele e o primo tinham saído para buscar uma receita médica para o tio, que estava internado.

O laudo mostra que as viaturas não estavam na rua principal, em local visível. Numa imagem incluída no documento, os investigadores aparecem revistando motoqueiros que passavam pelo local, em busca de um suposto ladrão que teria assaltado um policial de Guarulhos. Um homem careca presente na imagem é Ronaldo Bretan Gomes Correa, um ganso do Indep. Apesar de não ser policial, ele revista pessoas e aponta a arma, como se tivesse esse poder. Ronaldo usa uma pistola .40, própria, sem porte de arma. O ganso tinha autorização apenas para transportar o armamento até um estande de tiro.

Em outra foto, do momento seguinte, o carro de Guilherme surge. Ele vem por uma viela, a Rua Joana D'Arc. As viaturas, os policiais e os gansos estão na Rua Terra Brasileira. Numa terceira imagem, os policiais aparecem cercando o carro do mecânico antes mesmo de ele chegar até a barreira. O que desmente a versão de que o mecânico teria furado o bloqueio.

Em outro momento, ocorre o primeiro disparo, dado pelo policial Marcus Vinícius dos Santos. Deu dois tiros. De frente e de lado. O investigador que matou o mecânico é Caio Vinícius Fernandes da Silva. Ele atirou seis vezes contra o carro de Guilherme. Um dos disparos pegou no chão. Mas um dos tiros acertou Guilherme nas Costas. Ele perde o controle do carro e bateu em um poste mais à frente.

O laudo da Corregedoria registra também o despreparo dos policiais, que eram comandados pelo investigador-chefe, Marcelo Roberto Ruggieri. Dos 11 homens que participavam da blitz, seis deram pelo menos 32 tiros contra os inocentes. Até o ganso, que revistava pessoas nas ruas, disparou contra o carro do mecânico. Imagem mostra o agente do Indep Ronaldo dando três tiros em direção ao veículo.

Os disparos que mataram José Domingos dos Santos e feriram um homem que passava no local, no antebraço, foram disparados pelo investigador Giancarlo Cecconi. Ainda de acordo com o laudo, o mesmo investigador é quem agrediu o primo do mecânico. Assustado, o jovem desceu do carro e se ajoelhou com as mãos para cima, mas foi espancado.

Para justificar o erro, os investigadores alteraram a cena do crime e disseram que o mecânico tinha uma arma de brinquedo. Policiais e gansos estão sendo indiciados pela Corregedoria por homicídio, tentativa de homicídio, fraude processual, porte ilegal de arma e usurpação de função pública. Nenhum deles foi preso até o momento.

Segundo o advogado Luiz Eduardo Kuntz, que defende os policiais, os tiros foram disparados para que o carro parasse, e não para matar o mecânico, e que eles continuam trabalhando normalmente. De acordo com a Polícia Civil, o caso é investigado, e detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho da Corregedoria. O SBT não conseguiu localizar a defesa do atirador, que não é policial.

Os advogados Eduardo Soares Fonseca e Mayara Baldo de Oliveira, responsáveis pela defesa dos interesses das vítimas, elogiaram a atuação dos envolvidos na apuração do caso: "destaca-se elevada estima pelo trabalho desempenhado pela Corregedoria da Polícia Civil do Estado de São Paulo, que vem atuando com verdadeiro empenho na apuração do evento que causou a morte de duas pessoas inocentes". Além disso, afirmaram que trabalharão "incansavelmente na defesa dos interesses da vítima sobrevivente, bem como dos familiares da vítima fatal".

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