Vírus ancestral pode aumentar mortes por covid-19 em UTIs, diz estudo
Pesquisadores analisaram amostras de 25 pacientes com quadros graves da doença
SBT News
O retrovírus endógeno humano da família K (HERV-K), um vírus ancestral presente no genoma humano desde que a espécie e chimpanzés estavam se disssociando na escala evolutiva, está associado tanto ao agravamento da covid-19 como à mortalidade precoce pela doença, segundo um estudo conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O trabalho, que ainda depende de revisão por pares, foi publicado online na última semana. Nele, de março a dezembro de 2020, os pesquisadores acompanharam 25 pessoas com covid-19 em estado crítico que precisavam de ventilação mecânica e estavam internados no Instituto D?Or (IDOR) e no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IECPN), no Rio de Janeiro. A idade média dos pacientes era de 57 anos.
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Foram analisadas amostras de secreção traqueal das pessoas para descobrir quais microorganismos do chamado viroma humano -- o conjunto de vírus do corpo -- estavam presentes nelas. Segundo o estudo, os testes identificaram níveis altos de HERV-K, em comparação com os resultados dos pacientes com quadros leves da covid e de pessoas não infectadas pelo novo coronavírus.
"A nossa surpresa foi encontrar esses altos níveis de retrovírus endógeno K", afirma Thiago Moreno, integrante do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz). Ainda segundo ele, "a gente estabeleceu, de fato, que o Sars-CoV-2 é o gatilho para o aumento desses retrovírus endógenos, para despertar os genes silenciosos".
Por outro lado, os pesquisadores não sabem dizer o motivo de essa associação não ocorrer em todos os indíviduos. "Talvez o sinal para o silenciamento de determinados retrovírus endógenos seja mais forte em algumas pessoas do que em outras", diz Thiago.
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De todo modo, o estudo mostra ainda que, conforme o nível de HERV-K era maior nos pacientes, fatores de coagulação era mais consumidos, mais processos inflamatórios eram desencadeados e aumentava as chances de as células do sistema imunológico não sobreviverem.
Os pesquisadores explicam que o HERV-K também aparece em outras doenças, como câncer e esclerose múltipla e, a partir dos resultados encontrados agora, poderia ser tomado como base para a adoção de estratégias -- como o uso de anticoagulantes e anti-inflamatórios -- visando à melhora da pessoa com covid-19. A mortalidade em pacientes com quadros graves da doença atinge 50% entre aqueles com níveis altos do retrovírus endógeno.