Voluntários alertam para diminuição de ajuda humanitária no RS: "Precisamos de mais braços, estamos exaustos"
Quase 50 mil gaúchos permanecem em abrigos no estado; em Porto Alegre, a maior parte dos abrigos são mantidos com doações e o trabalho de voluntários
Quase 50 mil gaúchos obrigados a abandonar as casas por causa das inundações permanecem em abrigos no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, a maior parte dos locais improvisados são mantidos com doações e o trabalho de centenas de voluntários.
A presidente da ONG Corrente do Bem, Jessica Almeida, conta que não deu tempo de planejar nada para os abrigos, só de acolher quem perdeu tudo. “Quando a gente abriu a escola, 30 minutos depois, já chegou o primeiro casal de idosos molhados, todos encharcados. E duas horas depois, um ônibus cheio de gente”, revela.
A escola estadual usada pela ONG é um dos 140 abrigos em Porto Alegre. “Eu teria pra onde ir, mas não quero incomodar e também não gasta nada”, diz o vigilante Luís Roberto da Costa, um dos abrigados do local.
Os colchões, cobertores, roupas, alimentos dos locais vieram de doações. Diante do improviso, também surgiram situações difíceis: são apenas dois chuveiros elétricos para o banho de 270 pessoas. Além disso, de vez em quando, eles param de funcionar pelo uso em excesso, exatamente como aconteceu nesta terça-feira (28), dia em que fez apenas 10º na cidade.
A Mari Mercanti, vice-presidente da Corrente do Bem, é uma das voluntárias que coordena o trabalho. Segundo ela, só há poucos dias, a prefeitura passou a fornecer marmitas e atendimento médico. “Nós temos duas veterinárias que foram contratadas pela prefeitura, mas ainda é muito pouco comparado ao que a gente precisa, assim”, relata.
Dos abrigos da cidade, 80% são mantidos por instituições e por voluntários. Com o recuo da enchente, aos poucos, o número de pessoas dispostas a trabalhar de maneira voluntária diminuiu.
“A gente precisa de mais pessoas, a gente precisa de mais braços para conseguir tocar essa ação, para a gente conseguir seguir ajudando o próximo, porque a gente já está exausto, estamos esgotados”, reforça Jessica Almeida.
Em Canoas, na região metropolitana, mais de 20 mil pessoas permanecem nos abrigos. A cidade ainda tem 12 moradores desaparecidos, o maior número no estado.
Na casa da Rejane Bum, é difícil até identificar os móveis. Ela conta que tudo está fora do lugar. A marca na parede da sala de TV revela a força da água. “Gente que já tem uma certa idade, já viu muita coisa, né? Vai ficar calejado, mas enfim... Se não tivesse, nem estaria aqui. Mas eu ainda tenho casa, né? E isso já fortalece muito a gente”, conta a aposentada.