Exclusivo: venda de cigarros eletrônicos “turbinados" cresce na internet e no centro comercial da 25 de Março
Vapes e pods com maconha são comercializados livremente em barracas e lojas; investigação do Primeiro Impacto revela preços e esquema criminoso
A prática ilegal da venda de "cigarros eletrônicos turbinados", conhecidos como pods ou vapes, tem ganhado força na internet e na Rua 25 de Março, o maior centro comercial da América Latina, em São Paulo. Com uma investigação que durou meses, a equipe do Primeiro Impacto revelou o esquema criminoso que movimenta milhões de reais.
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Nos corredores movimentados da 25 de Março, os vapes estão expostos em prateleiras, com preços que variam entre R$ 80 e R$ 380. "Qual que é a diferença de cada um?”, pergunta nosso produtor disfarçado. “É mais a potência deles. Uma é mais forte. Esse é R$ 380!", explica um vendedor. Entre os clientes, um revendedor busca negociar o preço de um vape, mencionando que atua na cidade de Mairiporã (SP).
Embora os vendedores sigam com suas transações, o Primeiro Impacto acompanhou de perto o comércio e registrou um momento em que, em uma barraca na rua, um ambulante ofereceu vapes "turbinados" com maconha – o local também oferecia arma de choque. Nosso produtor saiu sem levar nada e, na saída da galeria, cruzou com policiais militares.
Venda de cigarros eletrônicos é “proibida” desde 2009
Esses vapes contêm substâncias como THC e CBD, extraídos em laboratório ou diretamente da planta da maconha. Embora a comercialização de cigarros eletrônicos seja proibida no Brasil pela ANVISA desde 2009, esses produtos continuam a circular com facilidade. Esses dispositivos são fabricados no exterior e chegam ao Brasil de maneira irregular, com o risco de consumo elevado.
Especialistas alertam sobre os perigos desses produtos. O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, especialista em dependência química, explica que o uso de vapes turbinados com maconha tem efeitos devastadores na saúde.
"Quando você fuma o cigarro eletrônico, você tem vinte vezes mais, trinta vezes mais a concentração do princípio ativo da maconha. O efeito vai ser muito mais entorpecedor", explica Laranjeira, enfatizando os riscos para a coordenação motora e a capacidade de direção, além de alertar sobre o risco de vício.
Além do uso de THC, substância psicoativa que causa euforia, os vapes também podem conter CBD, que tem efeitos mais calmantes e analgésicos. Contudo, a combinação desses compostos pode intensificar o efeito psicotrópico e aumentar o risco de dependência.
No comércio clandestino, os vapes com THC chegam a custar até R$ 500, enquanto os menores, de 1 ml, são vendidos entre R$ 180 e R$ 200. "É que não dá cheiro nenhum e dura muito tempo, né! Só não tem cheiro!", justifica um ambulante.
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“Novos patamares de euforia”: as iscas na internet
Além das vendas na rua, esses produtos também são comercializados nas redes sociais, com anúncios que prometem uma experiência eufórica e relaxante, atraindo cada vez mais usuários. Uma “incrível mistura de canabinóides” que leva o fumante a “novos patamares de euforia", diz um dos anúncios. O preço de venda pode chegar a quase R$ 400, dependendo da combinação de efeitos oferecida.
Em setembro deste ano, uma operação da Delegacia Anti-Pirataria da Polícia Civil apreendeu cerca de 60 mil unidades de cigarros eletrônicos, além de frascos de THC líquido e vapes turbinados, em um galpão na Zona Leste de São Paulo. Três pessoas foram presas em flagrante. No entanto, a venda ilegal continua a crescer, alimentada pela falta de fiscalização.
A comercialização e importação de cigarros eletrônicos são proibidas pela ANVISA desde 2009, e, quando associados ao uso de substâncias ilícitas como o THC, a situação se agrava, configurando tráfico de drogas.
A falta de uma legislação mais rígida no Brasil tem favorecido o crime organizado, conforme observa o psiquiatra Laranjeira: "Na falta de uma legislação no Brasil, o crime organizado diversifica, [o vape] fica sem cheiro, fica menos estimulante, menos difícil que a lei possa interferir ou até mesmo que as famílias possam identificar."
A reportagem do Primeiro Impacto procurou a Polícia Civil, a Polícia Militar e a ANVISA para comentar a venda desses produtos, mas até o momento não obteve retorno.