Tarifaço de Trump beneficia negociações para acordo entre Mercosul e União Europeia
Guerra comercial entre EUA e China impulsiona exportações brasileiras e cria clima favorável para conclusão de tratado com europeus
Nathalia Fruet
O tarifaço imposto pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode acelerar a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Esse foi um dos temas debatidos durante um evento promovido pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em São Paulo.
Com as barreiras comerciais impostas pelos EUA à China, um único porto chinês registrou aumento de 48% na atracação de navios carregados com soja brasileira em abril, comparado ao mesmo período do ano passado. O cenário anima produtores como Raul Pruinelli.
“É a lei da oferta e da demanda, entendeu? Se tiver mais demanda, a tendência dos preços é melhorar”, explicou o produtor rural.
O aumento das exportações para a China foi um dos destaques do seminário promovido pela CNA nesta terça-feira (6). Durante o evento, a senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que as medidas protecionistas de Trump criaram um ambiente mais favorável para o fechamento do acordo entre os países do Mercosul e a União Europeia.
“Eu acho que agora criou-se um clima melhor para o fechamento dele. Ele está aí desde 2019, que foi feito o acordo e assinado, e a Europa ficou, enfim, criando dificuldades. Hoje, eu acho que nós estamos bem mais próximos, na minha visão, da assinatura do acordo Mercosul e União Europeia”, disse a senadora.
As negociações entre os países do Mercosul para vender produtos isentos de tarifas à Europa começaram há mais de 20 anos. No entanto, a proposta só foi oficialmente anunciada no fim do ano passado pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Para que o comércio entre os blocos seja ampliado, o acordo ainda precisa ser aprovado pelo Conselho e pelo Parlamento Europeus. No Brasil, há expectativa de que a medida seja implementada até o final deste ano.
Segundo a diretora de Relações Internacionais da CNA, Sueme Mori, a Polônia, a França e a Itália ainda se mostram contrárias ao acordo. No entanto, desde os anúncios de Trump, a postura do bloco europeu passou a mudar.
“O diálogo está um pouco melhor. Essa mudança toda geopolítica acordou a Europa para a necessidade de ser mais competitiva. Para isso, o acordo com o Mercosul faz muito sentido”, explicou Mori.
No Brasil, pecuaristas como Oswaldo Stival apostam que o crescimento das exportações de carne para a China pode resultar em investimentos no campo.
“Teremos uma condição melhor de preços, preços mais fortalecidos para a pecuária nacional. Através de uma reserva de capital gerada por um bom negócio, temos condições de renovar pastagens e adotar novas tecnologias para aumento da produtividade”, disse.