Saiba como aproveitar a ceia de Natal sem exageros e evitar mal-estar e ressaca
Especialistas explicam o impacto da combinação de bebidas e alimentos pesados no organismo durante as festas

Ana Clara Souza
Nas festas de fim de ano, o aumento no consumo de álcool e de alimentos mais gordurosos e salgados, além das mudanças na rotina e do maior nível de estresse, contribuem para o crescimento dos atendimentos médicos relacionados a mal-estar e a complicações cardiovasculares.
O segredo para passar ileso por essa época não é a restrição, e sim o bom senso. “A gente tem que fazer redução de dano, porque a oferta de comida é maior, e muitas vezes, do ponto de vista metabólico, aquele indivíduo não está preparado para receber aquela sobrecarga de alimentos”, explica a Adriana Ribas, médica gastroenterologista e endoscopista (Universidade de São Paulo).
O problema não está no panetone, no espumante ou no tradicional peru de Natal, mas na combinação de tudo isso em grandes quantidades e sem intervalos. Comer e beber em excesso, sobretudo à noite ou logo antes de deitar, aumenta o risco de refluxo e indigestão.
Especialistas indicam pequenas escolhas ao longo da ceia que podem fazer diferença para aproveitar as festividades e acordar bem no dia seguinte, sem precisar lidar com desconfortos. Veja a seguir:
Misturar bebidas leva a embriaguez mais rápido?
A dúvida aparece todo fim de ano, mas a resposta é direta: não é a mistura que causa a embriaguez. O médico gastroenterologista Eric Pereira esclarece que “o que deixa a pessoa bêbada é a quantidade de álcool no sangue, independente da fonte”. O risco está na quantidade total ingerida e na velocidade do consumo.
Ao alternar vinho, cerveja e destilados, muita gente perde a noção da dose e acaba bebendo mais em menos tempo, especialmente porque destilados concentram muito mais álcool. O resultado é um aumento rápido da concentração alcoólica no sangue e aquela sensação de que “bateu de uma vez”.
O fígado metaboliza o álcool e produz acetaldeído, substância tóxica associada a sintomas de ressaca, como náusea, dor de cabeça e tontura. Segundo a médica Adriana Ribas, as bebidas doces ou gaseificadas podem acelerar a absorção do etanol, intensificando esses efeitos.
Gordura, álcool e o estômago trabalhando dobrado
Alguns pratos típicos da ceia natalina costumam ser mais gordurosos e isso, por si só, já exige mais do sistema digestivo. Quando entram em cena junto com bebidas alcoólicas, o mal-estar pode aparecer ainda durante a festa.
A digestão lenta da gordura reduz a motilidade gástrica, movimento de mistura e trituramento dos alimentos, fazendo com que o álcool permaneça por mais tempo no estômago. Após a absorção, o pico de álcool no sangue pode ser elevado, causando maior risco de náuseas.
Água ajuda, mas não faz milagre
Intercalar água com bebida alcoólica costuma aliviar parte do estrago, principalmente porque o álcool favorece a desidratação. “O álcool inibe um hormônio que controla o volume urinário, o ADH, aumentando a perda de líquidos”, explica Eric Pereira.
A hidratação reduz sintomas como dor de cabeça e cansaço, mas não impede totalmente a ressaca. Inflamação, metabólitos tóxicos do álcool e noites mal dormidas também fazem parte da indisposição do dia seguinte à ingestão de bebidas.
A orientação médica é simples: um copo de água para cada dose de álcool, além de manter a hidratação antes e depois das celebrações.
Montando o prato da ceia
Para a nutricionista Ariane Braz, muitos exageros começam antes mesmo da ceia, quando a pessoa passa o dia sem comer para “compensar”. Ela recomenda um jeito de montar o prato sem complicações, que ajuda na digestão e não deixa de fora o prazer de experimentar os pratos de final de ano:
- Metade do prato com vegetais: salada, legumes assados, refogados. Eles ajudam na saciedade e na digestão;
- Um quarto com proteína: peru, chester, peixe ou carne magra;
- Último quarto com carboidrato: arroz, massa ou farofa, sem exageros.
Uma refeição mais equilibrada ajuda o corpo a lidar melhor com a refeição: vegetais aumentam a saciedade e facilitam a digestão; proteínas sustentam por mais tempo; e os carboidratos entram como complemento. Comer devagar também ajuda o cérebro a reconhecer os sinais de saciedade.
Evite deitar logo após comer
A dica do gastroenterologista Eric Pereira é não deitar logo após uma refeição volumosa, especialmente se acompanhada de bebida alcoólica, favorece o refluxo, azia e regurgitação. O ideal é esperar pelo menos de duas a três horas antes de ir dormir.
Manter-se em movimento estimula a digestão e reduz a sensação de peso após a refeição. Levantar da mesa, ajudar na organização, conversar em pé ou dançar durante a festa já fazem a diferença para se sentir mais leve.
E no dia seguinte?
Alguns alimentos naturais ajudam a reduzir a sensação de inchaço e desconforto no dia seguinte:
- Água: essencial para repor líquidos e reduzir retenção;
- Frutas como abacaxi e mamão: possuem enzimas digestivas que colaboram com o organismo;
- Legumes ricos em potássio: pepino, abobrinha e chuchu ajudam a equilibrar o sódio e reduzem retenção de líquidos;
- Chás digestivos: camomila, hortelã e erva-doce podem aliviar o estômago.
Outro cuidado importante envolve as sobras da ceia. Diversos pratos típicos podem estragar rápido se deixados sem refrigeramento por longos períodos.
De acordo com a nutricionista Ariane Braz, a atenção deve ser redobrada para carnes, maionese, preparações com ovo, queijos e sobremesas cremosas. Esses pratos devem ficar fora da geladeira pelo tempo máximo de duas horas, ou apenas uma em dias muito quentes.
Sinais de alerta
Estufamento, gases, azia leve e sonolência costumam ser sintomas clássicos de excesso alimentar e, em geral, melhoram ao longo do dia seguinte. Contudo, alguns sinais requerem alerta, são eles.
- Dor abdominal intensa ou que não passa;
- Vômitos repetidos;
- Dor no peito com irradiação para braço, pescoço ou mandíbula (pode ser confundida com azia);
- Febre ou icterícia (amarelamento da pele e dos olhos).
Esses sintomas podem indicar complicações como pancreatite ou hepatite alcoólica, que exigem avaliação médica imediata.








