Primeira adaptação de "Os Lusíadas" para braille facilita leitura para deficientes visuais
Escritor Assis Ângelo adapta clássico de Luís de Camões para braille em linguagem mais acessível
Um escritor e jornalista brasileiro decidiu se aventurar pela obra de Luís de Camões, trazendo uma nova abordagem para o clássico "Os Lusíadas". Assis Ângelo, que perdeu a visão há doze anos, adaptou o texto denso da epopeia portuguesa para uma versão mais simples e acessível, voltada para pessoas com deficiência visual.
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O poema original de Luís Vaz de Camões, que narra a descoberta do caminho marítimo para as Índias por Vasco da Gama, é conhecido pela linguagem complexa e estrutura elaborada, o que torna sua leitura um desafio até mesmo para leitores experientes. Assis Ângelo, paraibano residente em São Paulo, percebeu essa dificuldade e resolveu transformar os quase nove mil versos distribuídos em mais de mil estrofes de "Os Lusíadas" em uma forma que pudesse ser mais facilmente compreendida por todos.
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"Eu fui ouvindo, ouvindo, e quando percebi, já estava fazendo a tradução, entre aspas", explica Assis, referindo-se ao processo de adaptação. O escritor transformou os versos de Camões em mil e dois versos de sextilha, um estilo comum na literatura de cordel, popular no Nordeste do Brasil. O resultado foi "A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama", um livro em braille com linguagem simples e direta, especialmente concebido para ser lido por pessoas com deficiência visual.
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Essa é a primeira adaptação do clássico "Os Lusíadas" em braille, feita inteiramente da memória do autor, sem o uso de computadores ou papel, e posteriormente registrada em gravador. Além do braille, as páginas literárias também foram impressas com fontes ampliadas e ilustrações, permitindo a leitura por pessoas com baixa visão.
Assis Ângelo vive rodeado de livros, discos e quadros em seu apartamento em São Paulo. Há mais de cinco décadas, ele se dedica ao estudo da cultura, mantendo viva sua paixão pela literatura e pelo Brasil.
Obras em braille
O material de Assis foi impresso na gráfica da Fundação Dorina Nowill, uma das maiores da Amética Latina, com capacidade para imprimir cerca de 450 mil páginas braille por dia. A entidade se dedica há mais de sete décadas ao atendimento e à inclusão social de pessoas cegas e com baixa visão.
Com mais de 6 mil títulos produzidos e 2 milhões de volumes impressos em braille, a Fundação recebe tanto demandas para pequenas impressões como em maior escala, ampliando o acesso à cultura pelo sentido do tato. Também é responsável pela impressão braille do maior projeto de produção de livros didáticos do mundo, o Plano Nacional do Livro Didático.
Uma curiosidade, é que cada página do livro original resulta em cerca de 3 páginas braille. De acordo com Bárbara Carvalho, supervisora da área, o tempo de produção de um livro braille pode variar. Depende do tamanho do livro e sua complexidade. "Em média, conseguimos produzir na Fundação um livro infantil com 42 páginas tinta braille em cerca de 10 horas. Livros literários trabalhamos aproximadamente 50 horas para 200 páginas originais", esclarece Bárbara.