PM abre investigação interna para apurar conduta de policiais que comemoraram massacre do Carandiru
Em vídeo divulgado em redes sociais, uma turma de soldados recém-formados celebra a invasão que resultou em 111 presos mortos, há 32 anos
A Polícia Militar do Estado de São Paulo instaurou procedimento interno para apurar a conduta de soldados que comemoraram o massacre do Carandiru, ocorrido em 2 de outubro de 1992 e que teve repercussão internacional. Em vídeo divulgado nas redes sociais, uma turma recém-formada da PM celebra a invasão que resultou em 111 presos mortos, no presídio que ficava na Zona Norte de São Paulo.
O vídeo foi gravado no Regimento de Cavalaria, durante a formatura de 225 soldados do Batalhão de Choque da PM. Em meio a parentes e oficiais, os novos militares exaltam o 1º Batalhão de Choque e a Rotas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA). Os recém-formados gritam declarando que o grupo que invadiu o Carandiru “acalmou a casa de detenção”.
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“Lá só tinha lixo, a escória da moral! Foi dado pista quente para derrubar geral! Corpos mutilados e cabeças arrancadas!”, gritam e cantam os recrutas. Ao declamar o ano “1992”, quando ocorreu o massacre, os novos policiais ironizam: “A caveira já estava sorrindo para o detento!”
Homenagem
Os soldados exaltam ainda o nome do comandante da operação, coronel Ubiratan Guimarães. “A minha continência, coronel Ubiratan!”, gritam, em referência ao oficial, que fez carreira política depois de sair da PM. Ubiratan foi eleito deputado estadual com o número 111, numa alusão à quantidade de presos mortos. O coronel chegou a ser condenado pelo massacre, mas depois foi absolvido pela Justiça paulista. Acabou assassinado dentro de casa, em 2006. A conclusão da Polícia Civil e do Ministério Público é de que ele foi morto pela namorada.
Em outro trecho do vídeo, os recrutas comparam o trabalho da tropa de choque com uma caça: “Grita, ladrão! Sua hora vai chegar! Escola de choque tá saindo pra caçar!”. O vídeo, que tem milhares de visualizações, foi postado em um perfil chamado ‘Ganharia Brasil', especializado em conteúdo militar e definido pelo administrador como de "altíssima qualidade".
Ouvidoria e Corregedoria
“Definimos a abertura de um procedimento na Ouvidoria [da PM] e encaminhamos à Corregedoria da Policia Militar. O que a gente acha daquele vídeo: absurdo, uma coisa que não condiz com a nossa realidade democrática”, disse Cláudio Aparecido da Silva, ouvidor das polícias paulistas.
O comando da PM divulgou uma nota em que afirma que a conduta dos novos policiais não condiz com as práticas da instituição e que medidas cabíveis serão tomadas.