Peeling de fenol: Justiça de SP nega pedido de sigilo de influencer no caso do empresário morto
Natalia Becker foi indiciada por homicídio com dolo eventual, por ter assumido o risco de matar o empresário após fazer procedimento estético
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) negou o pedido da defesa da influenciadora Natalia Becker, de 29 anos, para que o inquérito no qual ela é investigada pela morte do empresário Henrique da Silva Chagas corra sob sigilo.
"Confirmamos que foi negado o pedido de segredo de justiça sobre o inquérito policial em questão. Porém, os autos do inquérito permanecem tramitando sob sigilo, por disposição legal, para preservar o bom andamento das investigações", diz o TJSP.
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Natália foi indiciada no início de junho por homicídio com dolo eventual, por ter assumido o risco de matar o empresário, de 27 anos, após aplicar peeling de fenol em um procedimento estético.
A advogada Tatiane Forte, responsável pela defesa de Natália, informou que o pedido de sigilo vem após atos de vandalismo na fachada do Studio Natalia Becker e a propagação de informações falsas sobre o caso.
"O pedido de sigilo foi em razão dos atos de vandalismo na fachada da clínica da Natália, que ocorreram no início, frisa-se, logo após o fato (e hoje não ocorrem mais). No início, por falta de informação, houve muita especulação, 'especialistas' falando que era proibido o uso e comercialização e, hoje, é sabido que o uso não era regulamentado, sequer havia registro do produto na Anvisa", diz a defesa.
A família de Henrique Chagas requisitou uma perícia nos produtos indicados e vendidos por Natália. A influenciadora havia recomendado que o empresário tomasse comprimidos durante 30 dias antes do procedimento.
Relembre o caso
O empresário Henrique da Silva Chagas, de 27, anos morreu após um procedimento estético conhecido como “peeling de fenol”, no bairro do Campo Belo, em São Paulo no dia 3 de junho. O caso foi registrado inicialmente como morte suspeita.
A intervenção estética é considerada invasiva e agressiva, com promessa de rejuvenescimento da pele e deixando a pessoa com uma aparência de dez anos mais jovem. O fenol é cardiotóxico e pode causar arritmia e até parada cardíaca, com alergias, risco hepático e cardíaco.
Henrique da Silva Chagas não resistiu ao procedimento realizado pela esteticista Natalia Becker, que dá nome à clínica e tem 200 mil seguidores nas redes sociais. Os vídeos com a intervenção rejuvenescedora do tipo feitos por profissionais de estética viralizaram recentemente. Ela desativou as páginas após o caso.
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"Sucesso", disse esteticista após procedimento
Segundo o boletim de ocorrência, Henrique e o companheiro chegaram à clínica durante a manhã. No local, fez limpeza de pele e, depois, a aplicação de um anestésico para amenizar a dor. Na sequência, foi feita uma raspagem na pele e, por último, a aplicação do fenol.
O produto ácido deixa a pele com aparência escamada e avermelhada, com a promessa de retirar manchas e marcas. O procedimento durou cerca de uma hora.
Ainda de acordo com o boletim, Natalia chamou o companheiro de Henrique, dizendo que o paciente “resistiu bem à dor”, que a intervenção foi um “sucesso”. Logo depois, porém, o rapaz começou a passar mal. Apertando a mão do namorado, começou a respirar de forma ofegante. Funcionárias foram acionadas, chamando o resgate.
O atendente do SAMU passou recomendações para medir a pressão. Nesse tempo, a situação de Henrique piorou. A esteticista, ao ver a situação, também teria passado mal, foi socorrida e levada a um pronto-socorro. Ela acionou o marido, identificado como “Jorge”, também sócio da clínica, para dar conta da situação.
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Sócio diz que intervenção é feita na "primeira pele", de forma "superficial"
Ao chegar ao local, o sócio viu a gravidade da situação. Ele chegou a fazer respiração boca-a-boca na vítima, além de massagem cardíaca. Quando o resgate chegou, a morte de Henrique foi constatada.
Em depoimento, Jorge afirmou que o peeling é aplicado somente de forma superficial, na “primeira pele”, e que não necessita de exame prévio para identificar se o paciente tinha algum tipo de alergia.
O companheiro de Henrique afirmou que, após pesquisas nas redes sociais e outros depoimentos, optaram pela esteticista para fazer o procedimento.
Anvisa proíbe venda e uso de produtos à base de fenol em procedimentos estéticos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, no fim de junho, a resolução que proíbe temporariamente venda e uso de produtos à base de fenol em procedimentos estéticos e de saúde em geral.
"A determinação ficará vigente enquanto são conduzidas as investigações sobre os potenciais danos associados ao uso desta substância química, que vem sendo utilizada em diversos procedimentos invasivos", disse a agência, em nota.
A resolução 2.384/2024 "proíbe a importação, fabricação, manipulação, comercialização, propaganda e uso de produtos à base de fenol em procedimentos de saúde em geral ou estéticos".