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Militares envolvidos em tentativa de golpe planejaram envenenar Lula, Moraes e Alckmin e monitoraram autoridades, diz PF

Quatro militares e um policial federal foram presos nesta terça (19); veja detalhes da decisão que autorizou operação contra golpistas

Militares envolvidos em tentativa de golpe planejaram envenenar Lula, Moraes e Alckmin e monitoraram autoridades, diz PF
Lula, Moraes e Alckmin: alvos do plano golpista que militares teriam orquestrado | Divulgação/Ricardo Stuckert/PR, Divulgação/Gustavo Moreno/STF e Divulgação/Cadu Gomes/VPR
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Militares que teriam orquestrado golpe de Estado após eleições de 2022 e assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), cogitaram matar alvos por envenenamento. Esse plano seria executado em 15 de dezembro de 2022, três dias após diplomação de Lula, então presidente eleito. Por isso, antes de eventos oficiais, como a posse do petista, em 1º de janeiro de 2023, envolvidos no esquema também monitoraram agenda de autoridades.

+ Operação da PF prende militares que planejaram golpe de Estado e assassinato de Lula, Alckmin e Moraes

Esse e outros detalhes são descritos na decisão do próprio Moraes que autorizou a operação Contragolpe, da Polícia Federal (PF). A força-tarefa prendeu, nesta terça (19), quatro militares das Forças Especiais (FE), conhecidos como "kids pretos", e um policial federal suspeitos de envolvimento na trama golpista.

Plano para "neutralizar" Lula, Moraes e Alckmin com veneno

Militares cogitaram usar artefato explosivo ou veneno para executar Moraes "em evento oficial público". Mas também viam riscos nessa ação, "dizendo que os danos colaterais seriam muito altos, que a chance de ‘captura’ seria alta e que a chance de baixa (termo relacionado a morte no contexto militar) seria alto".

A PF entende que, para os envolvidos, o esquema terminaria não só com a morte do ministro, "fator de obstáculo à consumação do golpe", mas também de "toda a equipe de segurança" de Moraes e até de militares participantes do esquema.

Além de Moraes, golpistas queriam "extinguir a chapa presidencial vencedora do pleito de 2022". Jeca seria alusão a Lula, enquanto Joca seria Alckmin.

"Para execução do presidente Lula, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", diz a PF.

"O texto aponta que na inviabilidade do '01 eleito', ou seja, Lula, 'sua neutralização extinguiria a chapa vencedora'. Como, além do presidente, a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de Geraldo Alckmin que a chapa vencedora estaria extinta", completa a corporação.

+ Saiba quem são os "kids pretos", grupo de elite do Exército que teve alvos em operação da PF

Há ainda, nos documentos, menção a um Juca, "citado como 'iminência parda do 01 e das lideranças do futuro gov', de modo que sua neutralização desarticularia os planos da 'esquerda mais radical'". Investigadores, no entanto, ainda não descobriram identidade desse possível outro alvo do grupo criminoso.

Monitoramento antes da diplomação de Lula

Investigações apontam que o general de brigada da reserva Mario Fernandes, preso hoje, teria atuado no "planejamento, coordenação e execução" do plano, batizado de "Punhal Verde e Amarelo". O documento teria sido elaborado em 9 de novembro de 2022.

Fernandes também tinha "relação direta com manifestantes radicais que atuaram no período pós-eleições de 2022" e era "ponto focal do governo de Jair Bolsonaro com os manifestantes golpistas". No governo Bolsonaro, Fernandes atuou como secretário-executivo, o número 2, da Secretaria-Geral da Presidência e chegou a ser ministro de forma interina. Recentemente, trabalhou no gabinete do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), ex-ministro da Saúde.

General Mario Fernandes e ex-presidente Jair Bolsonaro, em foto de 2019 | Reprodução/Isac Nóbrega/PR
General Mario Fernandes e ex-presidente Jair Bolsonaro, em foto de 2019 | Reprodução/Isac Nóbrega/PR

Outro apelido que surge no documento é "Copa 2022", nome dado pelos militares ao conjunto de ações planejadas, ou seja, à operação propriamente dita. O codinome também era usado em arquivo trocado entre envolvidos e num grupo de conversas.

Segundo a PF, esses planos atingiram "auge a partir de novembro de 2022 e avançaram até o mês de dezembro do referido ano, como parte de plano para a consumação de um golpe de Estado". Objetivo era impedir posse de Lula. Um dos passos iniciais era monitoramento de autoridades, como o ministro Moraes.

"O primeiro tópico do documento denominado 'Demandas de Rec Op (levantamentos)', refere-se as diligências necessárias, que já estavam em andamento, para identificar o aparato de segurança pessoal do ministro Alexandre de Moraes, compreendendo os equipamentos de segurança, armamentos, veículos blindados, os itinerários e horários. Os itinerários mencionados ('Eixo Monumental', 'Av Exército' e 'L4') indicam prováveis rotas de deslocamento entre os locais de frequência e estadia do ministro Alexandre de Moraes em Brasília à época", diz trecho da decisão.

Em outro momento, a PF detalha que Wladimir Matos Soares, policial federal também preso nesta terça, aproveitou atribuições do cargo para repassar, "para pessoas próximas ao então presidente Jair Bolsonaro", informações relacionadas à estrutura de segurança de Lula "no período entre a diplomação e posse do governo eleito".

Ex-ajudantes de ordens de Bolsonaro trocaram mensagens, em 10 de dezembro de 2022, sobre monitoramento de Moraes referente à diplomação, realizada em 12 de dezembro daquele ano. O coronel Marcelo Câmara encaminhou o seguinte texto para o tenente-coronel Mauro Cid:

"Estarão na portaria. Trecho 5 será do presidente. Rota verde com desembarque exclusivo da comitiva do diplomado, que será no subsolo. Cancelo central interno destinado a veículo oficial. Percurso rosa aos demais convidados."

Material encontrado pela PF traz até "efetivo necessário para execução pretendida" e "a análise de riscos e impactos da ação, possível ocorrência de 'baixas aceitáveis'". Seriam seis pessoas colocando plano em prática em Brasília.

Planejamento foi impresso no Planalto e Bolsonaro estava no local, diz PF

O plano "Punhal Verde e Amarelo" foi impresso por Fernandes no Palácio do Planalto, local de trabalho do presidente da República, no dia 6 de dezembro de 2022. A PF aponta que, depois, esse documento foi levado pelo major Rafael Martins de Oliveira, um dos presos hoje, e por Mauro Cid ao Palácio da Alvorada, local de residência do presidente, à época Jair Bolsonaro.

O arquivo com supostos planos para matar Lula, Moraes e Alckmin, intitulado "Plj.docx", foi impresso às 18h09. A PF diz que Bolsonaro estava no Planalto naquele dia.

"Desta forma, conforme exposto, fica evidenciado que no dia 06/12/2022, no horário em que o Secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, general Mario Fernandes imprimiu o documento 'Plj.docx' (18hs09min), possivelmente relacionado ao planejamento operacional da ação clandestina para prender/executar o ministro Alexandre de Moraes e assassinar o presidente e vicepresidente eleitos Lula e Geraldo Alckmin, o então presidente da República Jair Bolsonaro também estava no Palácio do Planalto", diz a polícia.
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