General confirmou à PF ter sugerido a prisão de Alexandre de Moraes
Depoimento tornado público pelo ministro do Supremo sinaliza que Laércio Vergílio pregou a tomada do poder “dentro” ou “fora das quatro linhas”
Interrogado pela Polícia Federal em fevereiro, o general de brigada Laercio Vergílio confirmou ter pressionado um militar próximo a Jair Bolsonaro a levar adiante a ideia de prender o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. A missão, segundo o depoente, era um meio de as Forças Armadas tomarem o poder do país, “dentro” ou “fora das quatro linhas”, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2022.
O depoimento de Laercio Vergílio é um dos que tiveram o sigilo retirado nesta sexta-feira (15) por decisão de Alexandre de Moraes. O interrogatório se concentrou em trocas de áudio, pelo WhatsApp, nos dias 14 e 15 de dezembro de 2022, com interlocutores do Exército. A maioria das conversas abordadas no depoimento prestado à PF foi entre Vergílio e o major reformado Ailton Gonçalves Barros, preso no âmbito do inquérito que apura a suposta falsificação dos cartões de vacina da família Bolsonaro.
Vergílio declarou no depoimento conhecer Ailton Barros desde a época em que serviram na brigada de paraquedistas no Rio de Janeiro. Ele afirmou que os dois estiveram juntos também no 9° Grupo de Artilharia de Campanha (GAC), em Nioaque (MS). De acordo com o depoimento, Vergílio mencionou essa relação de longa data ao tentar convencer Barros a encampar sua pretensão.
“Se tem alguma coisa que eu sei fazer bem e executar são essas operações especiais. Você participou comigo, inclusive me ajudando muito na região de Dourados, Douradina e Itaporã. Você se lembra? O meu próximo áudio agora, assim, vai te dar o conceito da operação, entendeu?”, disse Vergílio, em áudio cuja autoria o próprio general reconheceu aos policiais federais.
“Então, esse próximo áudio, também, além do ‘Zero Uno’, aí tem que ser passado pra todo aquele pessoal que você passa sempre, entendeu? Já estamos em guerra, né?”, prosseguiu Vergílio. À PF, o general confirmou que ‘Zero Uno’ era o então presidente Jair Bolsonaro. Quanto “àquele pessoal”, Vergílio se referia a Bolsonaro e à sua assessoria.
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Vergílio confirmou ter pressionado Barros a convencer o então comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, a aderir. O intuito era cobrar de Freire Gomes que acionasse o Comando de Operações Especiais, em Goiânia (GO), para ir à Brasília prender Alexandre de Moraes “no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo”. Vergílio sugeriu a data: 18 de dezembro de 2022.
Na sequência, segundo Vergílio sugeriu, ou Freire Gomes ou Bolsonaro fariam um pronunciamento à nação. “De preferência o Freire Gomes”, opinou o militar, em áudio enviado a Barros. Na visão de Vergílio, a operação estaria embasada juridicamente na Constituição Federal, mas isso não fazia diferença. “Aí será tudo dentro das quatro linhas. Não o sendo, vai ser fora das quatro linhas mesmo”, disse o general, na conversa.
No depoimento à PF, Vergílio insistiu que o Exército tinha embasamento jurídico para impedir Lula de assumir a Presidência. Negou reiteradas vezes tratar-se de um plano golpe de Estado. Atribuiu o conteúdo das trocas de mensagens a mera “opinião que deu para um amigo em uma conversa particular”.
Barros foi levado à sede da Polícia Federal no mesmo dia do depoimento de Vergílio: 22 de fevereiro de 2024. Mas preferiu ficar em silêncio.